Esta semana, chegou ao fim a resistência da fábrica Azovstal, o último reduto de defesa da cidade ucraniana de Mariupol, onde, até ao momento, cerca de dois mil soldados já se terão rendido e entregado às forças da Rússia.
O futuro destes combatentes, muitos dos quais tiveram de ser transportados para hospitais russos, uma vez que se encontravam gravemente feridos, é uma grande incógnita.
Kiev pretende que estes soldados regressem à sua terra natal ou que sejam evacuados para um território neutro, com a vice-ministra da defesa ucraniana, Hanna Maliar, a avaliar a possibilidade de trocar os combatentes por prisioneiros russos.
O Presidente Volodymyr Zelensky salientou que «a Ucrânia precisa de heróis ucranianos vivos». «Este é o nosso principal objetivo», acrescentou, explicando que o trabalho prosseguia «para os fazer regressar a casa, um trabalho que requer delicadeza e tempo», inclusive os que continuam barricados dentro de Azovstal, que, segundo peritos militares referidos pelo Politico, estarão entre os cem e os mil soldados.
No entanto, as autoridades russas deixam em aberto a hipótese de os combatentes ucranianos continuarem detidos até serem julgados ou, inclusive, executados, numa altura em que legisladores de Moscovo estudam a hipótese de propor uma nova lei que pode inviabilizar trocas de prisioneiros de combatentes que o Kremlin considere serem «terroristas».
«Eles são criminosos de guerra e devemos fazer tudo o que é possível para os levarmos à justiça», disse o presidente da Duma russa, acusando mesmo os combatentes de serem «criminosos nazis».
Apesar destas opiniões, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, garantiu que o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, teria garantido que os combatentes que se renderam seriam tratados «de acordo com os padrões internacionais».
Ainda não se sabe ao certo a extensão total dos combatentes que se encontram neste local, assim como vários civis que se encontravam escondidos desde que as tropas russas cercaram Mariupol no início de março.
No entanto, o líder separatista pró-Rússia da autoproclamada República de Donetsk, Denis Pushilin, revelou que pelo menos metade dos militares que se encontravam escondidos em Azovstal já abandonou a fábrica siderúrgica, escreve a agência de notícias estatal russa TASS, acrescentando que, até quarta-feira, ainda «nenhum comandante de alta patente» se tinha rendido.
A rendição dos soldados de Azovstal está a ser apontada como uma das primeiras e mais importantes vitórias de Putin na guerra contra a Ucrânia. Agora, com Mariupol tomada, esta conquista traz novas perspetivas a Moscovo, uma vez que permite criar um corredor terrestre que liga a região de Donbass à Crimeia, oferecendo controle sobre uma grande parte do Leste da Ucrânia.
Mariupol é também o principal porto de Donbass, onde se encontram as autoproclamadas repúblicas de Donetsk e Luhansk, alinhadas com o Kremlin.
Rússia transforma Donbass num ‘inferno’
Um bombardeamento levado a cabo pelas tropas russas na cidade de Severodonetsk, no leste da Ucrânia, que está praticamente cercada pelas forças de Moscovo, matou pelo menos 12 pessoas e outras 40 ficaram feridas. A maioria dos disparos atingiu edifícios de apartamentos.
Os russos «começaram a bombardear de manhã o centro da cidade aleatoriamente com armas pesadas. O ataque continua», disse Sergei Gaidai, o governador regional, numa mensagem divulgada através do Telegram. O número de mortos, alerta ainda Gaidai, pode ser superior.
Oleksandr Strifuk, presidente da Câmara local, já havia informado, no dia 6 de maio, que a cidade estava «quase cercada» pelas forças russas e pelos separatistas pró-russos do Donbass. Segundo o autarca, 15 mil dos 100 mil habitantes de Severodonetsk permanecem na cidade.
Segundo o líder ucraniano, esta ofensiva trata-se de uma «tentativa criminosa e deliberada de matar o maior número possível de ucranianos; de destruir o maior número possível de casas, instalações sociais e empreendimentos».
«No Donbass, os invasores estão a tentar aumentar a pressão. Está um inferno lá, e não é exagero», afirmou Zelensky durante a sua mensagem de vídeo noturna. «O Donbass está completamente destruído. Isto não tem e não pode ter qualquer explicação militar por parte da Rússia».