Rita Pereira: “Adoro ganhar em tudo: nos matraquilhos, nas audiências e nos Emmys!”

Não tem medo das palavras: adora ganhar, considera-se uma pessoa confiante e acha que os ‘40’ são os novos ‘30’. O caminho que percorreu até aqui é grande, mas quer acreditar que ainda tem muito para conquistar. Nos estúdios da Plural, com um sorriso na cara, Rita Pereira recorda alguns dos melhores momentos da sua…

Fez 40 anos [no passado dia 13 de maio]. A que lhe sabe este número? Pesa-lhe?

Não. Sinto-me orgulhosa por tudo aquilo que eu conquistei e sinto que faço parte de uma nova geração dos 40 anos. Eu lembro-me de ver a minha mãe quando tinha a idade que eu tenho agora e, para mim, ela era… ‘mãe’. Tinha a sua profissão, e tudo mais, mas era uma pessoa mais velha. E uma pessoa que imaginávamos vestida de fato e camisa. Hoje em dia, eu acho que sou a nova geração dos 40. E os nossos filhos irão olhar para os 40 anos de uma forma diferente, ainda com jovialidade. Acho que os 40 são os novos 30 [risos].

Estamos a evoluir? 

Sim, a nível de pensar, a nível de postura, e até de guarda-roupa, sinceramente! Aos 40, a minha mãe e as amigas dela vestiam-se assim de uma maneira mais formal do que agora as ‘miúdas’ de 40 se vestem.

O caminho que ainda tem para percorrer é grande?

Sim. Sinto-me muito bem com a minha idade. Sinto-me muito jovem e sinto que ainda tenho muito para conquistar. Muitas coisas para fazer. Não acho que cheguei a meio da minha vida. Acho, sim, que agora estabilizei na minha vida pessoal, mas que ainda tenho muito para conquistar profissionalmente.

Já fez inúmeras personagens. Quando olha para trás, qual foi a que mais gostou de fazer?

Eu tenho a sorte de a TVI ter apostado em mim de uma forma especial, dando-me personagens que sempre foram desafiantes. A única personagem que eu acho que era mais ‘pãozinho sem sal’ acabou por ganhar um Emmy [risos]. Era a Mel, da novela Meu Amor.

Mas houve alguma que lhe marcou em particular?

Sim. A Estrelinha da Doce Fugitiva.

Porquê?

Porque não era suposto eu ter sido a protagonista. Eu fui ao casting e lembro-me de que ao longo destes 18 anos sempre fui estudar para fora entre cada novela. Ou seja, gravava uma novela e nos cinco meses que tinha de paragem ia sempre para fora. Uma rotina que parou desde que fui mãe. Mas fiz isso ao longo destes anos.

E porque é que fazia isso?

Porque eu sei que comecei ‘ao contrário’ de um ator dito normal. Primeiro o ator vai estudar e depois é que ingressa na sua profissão. Eu não. E senti a necessidade de procurar conhecimento na minha área para poder ter as ferramentas certas para evoluir. E foi fundamental. Sinto que mudou por completo a minha forma de representar e forma como eu olho para a representação hoje em dia. 

E onde é que a Estrelinha entra nesta história?

Já tinha tudo programado para ir estudar para o Brasil durante as tais paragens entre as novelas. Na altura, tinha saído dos Morangos com Açúcar, depois fiz uma novela, na qual fiz parte do elenco adicional e, a seguir, ia estudar sem saber o que poderia vir no futuro. De repente, o José Eduardo Moniz pergunta-me se eu quero fazer um casting para uma nova novela que ia acontecer, mas não para a protagonista. E no dia do casting aconteceu uma coisa engraça que, ao longo destes anos todos, sempre fiz. 

O quê?

Sempre que eu estou num casting, perguntam-me: «Sabes cantar? Sabes dançar? Sabes tocar um instrumento? Sabes andar a cavalo?». E digo sempre que sim, que sei! Porque eu sei que na hora eu vou conseguir. Ou até à hora daquele momento eu vou estudar para que isso aconteça. 

E o que é que lhe perguntaram no casting?

Se eu sabia cantar! E eu sou péssima a cantar [risos]! Olho para a minha frente, não sabia que novela é que era, estava um pouco ‘às cegas’, e perguntam-me duas coisas: «Achas que sabes fazer comédia e cantar?».

E o que é que respondeu?

Eu disse que sim! Que sabia fazer tudo. E quando me pedem para cantar uma música, eu cantei uma música de criança. Do género “ABCDIFG”, do abecedário em inglês, uma música que não tinha nada a ver! Estava tão nervosa para aquele momento… de repente tinha a oportunidade de ser mais do que aquilo que eles me tinham convidado para ser.

E qual foi a reação?

Eles acharam tanta graça e eu cantei tão mal que acabei por ficar com a personagem. Foi um dos maiores sucessos da minha carreira. Muitas pessoas costumam dizer que os Morangos com Açúcar é que foi o meu grande salto, mas eu não acho isso. Acho que foi com esta personagem. 

Ia perguntar isso. Se os Morangos foram o grande salto…

Os Morangos com Açúcar foram incríveis, claro. Mas para mim foram a oportunidade. E a Doce Fugitiva foi o salto. Eu tive a oportunidade nos Morangos, mas podia não ter continuado. Podia ter sido só mais uma num elenco de 500 pessoas. Sinceramente, acho que aquela oportunidade que me deram de ser protagonista foi crucial. Conseguiu agarrá-la e aí sim: foi o salto para o reconhecimento e para olharem para mim de forma diferente. E acho mesmo que isso aconteceu. E lembro-me que enquanto estava a dar a novela, eu não podia ir à rua. O elenco da novela não podia andar na rua. Eu fiz todas as campanhas possíveis e imaginárias… Do Natal, da Páscoa, dos supermercados. Contracenei com coelhos, fiz a Hello Kitty Torradeira… E tudo por causa daquela personagem. E na rua as pessoas amavam a Estrelinha. E hoje em dia ainda se lembram.

O que é que as pessoas lhe diziam na rua nessa altura?

Que tinha muita graça e que queriam imenso provar os chocolates que ela fazia, porque a personagem era cozinheira de chocolates. E depois havia isso: eu odeio chocolate! Ou seja, além de ter tido a oportunidade de ser protagonista, tive sempre de estar a mexer em chocolate, a cozinhar chocolate, a comer chocolate. E eu odeio chocolate.

E passou a gostar de chocolate?

Não [risos]. Cheguei a tomar banhos de chocolate durante aquela novela. Mas para mim foi uma conquista. Foi mesmo muito trabalho para conseguir dar o salto e para que olhassem para mim enquanto atriz. Para sentir que iria ter um lugar numa próxima novela.

Acha que é uma pessoa insegura? Dai querer dar tanto de si?

Nunca fui uma pessoa insegura. Desde criança que sempre fui muito segura e sempre tive uma autoestima confiante e forte. O que também vem muito da educação que os meus pais me deram, da liberdade que eles me davam e da forma como me incentivavam e motivavam para acreditar em mim, que ia conseguir atingir os meus objetivos. Há uma frase que o meu pai diz muito desde que eu sou pequena: «Eles nem sabem com quem é que se meteram». E ele diz-me esta frase constantemente. Não é para eu ser melhor do que os outros, mas sim para eu acreditar em mim e para ter a certeza de que sou capaz, seja saltar por cima de uma mesa ou conquistar as personagens que eu quero, até mostrar aquilo que valho enquanto atriz. Sou muito profissional e chateia-me alguém à minha volta que não o seja. 

O que é que é ser profissional?

Chego sempre a horas. Sei sempre o texto. Trabalho muito com os técnicos. E respeito muito a equipa. Eu ouço o realizador, mas também oiço muito as câmaras. Porque foi com eles que eu aprendi tudo. Foi com as equipas e com os meus colegas que eu aprendi pela primeira vez o que é ser atriz. Tenho pessoas que trabalham comigo nesta novela que estou a fazer e tenho um câmara que filmou a minha primeira cena dos Morangos com Açúcar. E o respeito que eu tenho por ele é gigantesco. As coisas que ele me ensinou do lado de lá das câmaras para que possamos trabalhar em conjunto e não apenas ‘eu ser a atriz, que está aqui, e ele, que tem de apanhar o momento’. Não trabalho assim. Tenho muitos colegas que sim: são os atores e as câmaras que apanhem. Mas eu não consigo fazer isso. Já me é natural. Tenho alguns colegas que até brincam com isso.

Em que sentido?

Que estou sempre a contracenar com a câmara e com eles. Mas é a minha forma de trabalhar. Dou muito valor a todos os pormenores, a todas as pessoas e empenho-me sempre muito naquilo que faço.

Disse que não gosta de trabalhar com pessoas que não sejam profissionais. O que é que é não ser profissional?

Chegar tarde, às vezes acontece. As pessoas podem ter um imprevisto. Mas, por exemplo, eu memorizo o mínimo de 30 páginas de texto por dia. Porque tenho um mínimo de 12 a 15 cenas por dia. Mas isto é o mínimo. Ou seja, a partir do momento em que entro, eu já só saio no final do dia. É muito difícil aceitar que um ator que só venha aqui fazer uma ou duas cenas, não a saiba. Porque eu deixei de estar com a minha família na noite anterior para estar a estudar os textos. Eu jantei rápido, porque a seguir tinha de ir estudar 30 páginas de texto. Portanto custa-me aceitar que aquela pessoa que só vem aqui fazer duas ou três cenas não saiba o texto. Para além disso, as pessoas não gostarem daquilo que fazem, o que às vezes também acontece. Há muita gente que tem a sua profissão porque tem que ter e tem de pagar as suas contas. E eu tenho tanta paixão por aquilo que faço que deixa-me triste ver pessoas que estão aqui só por estar. Ou que têm esta oportunidade que muitas pessoas gostariam de ter.

A ‘Rita mãe’ e a ‘Rita atriz’ convivem bem? Como é que é lá em casa?

A Rita mãe e a Rita atriz só se cruzaram desde agosto. Até então, desde que o meu filho nasceu, só tinha estado a apresentar programas. E conseguia conciliar perfeitamente tudo. Agora, sim. Surge essa nova dinâmica em casa, mas tem corrido muito bem! Também tenho a sorte de o meu namorado não ter uma profissão das 9h às 5h. Conseguimos conciliar as coisas de uma forma muito natural. Para não falar do apoio dos meus pais, que é fundamental, porque a família do Guillaume vive em França e não temos a possibilidade de ter o apoio deles. Só quando eles cá vêm. Mas somos uma família muito unida e conseguimos coordenar tudo muito bem. Costumo dizer que tive um filho, mas não passei somente a ser mãe, o que acontece a muita gente. O meu filho é que vive a minha vida. Ele adapta-se à minha vida. Não deixei de fazer tudo o que eu adoro devido ao meu filho. Conciliamos as nossas vidas. Há mães que só vivem para o filho. Eu não. Quando estou com o meu filho, estou com o meu filho. Quando estou a trabalhar, estou a trabalhar. Consigo separar as águas. 

E houve algum momento em que pensou que estava a trabalhar demasiado e a pôr o seu filho mais de parte, ou vice-versa?

Não. Tive a sorte de ser natural, talvez porque também vi isso a acontecer em casa com a minha família. Os meus pais são professores e trabalhavam das 8h às 5h e sempre me deram a atenção que eu precisei. Nunca a mais nem a menos. Foi equilibrado. O que eu tento ser enquanto mãe é muito o reflexo daquilo que eu vi em casa. Tive essa sorte, porque termos pais que nos apoiam em todo acho que é mesmo uma sorte. 

Os seus pais são grandes apoios na sua vida, seja na sua vida pessoal ou profissional…

Não tenho medo das palavras. Sou a pessoa que lhes diz “Amo-te”. E nós somos uma família que dizemos muito essa palavra. Somos muito ligados. E fazemos questão de o dizer. O que eles vêm no meu filho é o reflexo daquilo que eles me ensinaram. E eles estão muitos orgulhosos da educação que eu dou ao meu filho. Digo-lhes isto muitas vezes: o que vocês me veem a fazer com ele, é o que vocês fizeram comigo. Portanto o meu grande obrigado de ter tido esta educação, apoio e esta confiança que me deram na sua vida. 

Quais são as grandes memórias que tem, em criança, com eles? 

Idas para Castelo Branco, viagens de 6 horas, numa Seat Terra, aqueles de caixa gigante, a cantar Rui Veloso aos altos berros! A cassete a passar vezes sem conta, e nós os quatro a cantar. A minha irmã a falar, a falar e a falar, e eu, sempre a querer dormir! Sou aquela pessoa que entra no carro, no avião e adormeço logo. E tenho uma imagem dos meus pais a virarem-se para nós e a dizer: «Cala-te Joana!» [risos]. Lembro-me também de nós os quatro na terra dos meus avós, em Castelo Branco, naquele mês de férias que lá passávamos sempre no meio do mato, e na lagoa, e fazer churrascos e a tomar banho de tanque. E o meu avô a apanhar conchas para forrar o tanque para que parecesse uma piscina! E todos nós a fazer peças de barro. Porque o meu pai era professor de artes e ceramista e sempre tive muito a cerâmica em casa. Sempre que vinha da escola, ia para o atelier do meu pai e ficava lá horas a fazer com ele as peças que depois ele ia vender. O meu pai ensinou-me e eu era a ajudante dele, e adorava. Era muito giro saber que alguém ia comprar aquela peça que eu tinha ajudado a pintar um olho de branco ou a colar um braço. Sentia-me muito orgulhosa. 

Disse, ao início, que tinha um longo caminho, mas que o caminho a percorrer era maior. 

Sim, sinto muito isso. Ou pelo menos quero acreditar nisso. 

Gostava de fazer alguma coisa diferente? Falo fora do mundo do espetáculo. Qual é o próximo passo?

Desde que comecei a trabalhar como atriz que tenho o grande sonho de entregar cafés na Globo. Simplesmente chegar numa cena e dizer: «Tem aqui o seu café» e sair de cena.

É isso que falta?

Eu amava! [risos] Adorava ter a oportunidade de fazer uma mini personagem numa novela da Globo.

Porquê?

Não é que eles sejam melhores. E para mim, depois de ter vencido o Emmy, passei a acreditar mesmo que estamos em pé de igualdade no que toca às novelas. A diferença é que eles têm muito mais anos do que nós nesta profissão. Mas acredito que, talvez, eles com os anos que têm não ganharam os Emmys que nós ganhámos. Só que eu cresci a ver as novelas da Globo. E para uma atriz, tendo em conta que nunca quis ser atriz – porque não era o meu sonho -, ver as novelas que eu gostava e, de repente, começar a trabalhar, sempre tive esse bichinho de um um dia ir trabalhar no Brasil. 

Como é que foi ganhar o Emmy? Sentiu-se valorizada? Ou não liga a prémios?

Ligo. Adoro ganhar. Adoro ganhar em tudo: adoro ganhar nos matraquilhos, adoro ganhar nas audiências e adoro ganhar Emmys! [risos] Deu-me uma força diferente e fez com que acreditasse mais em mim. 

Portugal é muito pequeno para si?

Eu adoro trabalhar aqui. E quando digo que tenho o sonho de trabalhar lá fora não significa que eu não goste de estar aqui, porque gosto muito do nosso país e do público português. Acho que me dão imenso valor. Mas tenho consciência que se eu estivesse nesta posição no Brasil, era diferente. É um público maior, com canais e produtoras, com outras possibilidades de trabalho. Mas gosto muito de Portugal e gosto muito de trabalhar no meu país. 

Mas já pensou em viver lá fora?

Quando estive a estudar em Los Angeles, por exemplo, obviamente que é um mundo diferente. Se eu tivesse uma oportunidade lá, era surreal. Mas no que toca a viver em LA para o resto da minha vida, não. Não me fascinou. Gostei de lá viver aqueles quatro meses, adorei o curso que tirei, porque foi essencial para aquilo que eu sei hoje e para o meu trabalho enquanto atriz. Mas não é um mundo que me fascine. 

Porquê?

Pela falsidade. Pelo deslumbramento. Todos são atores, atrizes e cantores. E senti que por serem muitos, que desvalorizavam o trabalho. Mas obviamente: chamem-me para Hollywood! Estou preparada, falo quatro línguas! [risos].

Uma outra paixão sua é a dança e, quando era mais pequena, até quis ser bailarina.

Sim. Mas depois tive uma mãe e uma mãe com cabeça [risos].

Então?

Comecei a fazer ballet com três anos e foi um mundo fascinante. Sempre adorei que as pessoas olhassem para mim, sempre adorei estar em frente às câmaras e sempre adorei ser o malmequer principal no meio do jardim. Nunca fui aquela miúda que ficava no canto, e que não gostava de ser fotografada. E isso não faz de mim uma egocêntrica, ou que seja melhor do que os outros, mas sempre me senti muito confiante em relação a isso. 

E o ballet?

Amei. Tive dois anos no ballet, mas os meus pais já não tinham possibilidade financeiras de pagar. E a minha professora fez questão que eu continuasse e ofereceu-me as aulas, porque achava que eu tinha jeito. Que não iria ser só mais uma miúda. E esse gesto marcou-me muito. A mim e aos meus pais. Acabei por fazer ballet durante sete anos, sempre com a mesma professora. 

E havia mais algum hobby escondido?

O basquetebol. O meu pai foi treinador e sempre me incutiu este desporto, e eu sempre adorei. Quando tinha 16 anos, não ia às sextas-feiras sair à noite porque ao sábado, às 9h da manhã, o meu pai ia jogar. E eu ficava sentada, à espera que algum amigo dele faltasse para eu poder jogar com os mais velhos e com os homens, porque não queria jogar com as raparigas. 

Mas era só um hobby. A dança, para a Rita, foi algo que chegou a ponderar seguir como carreira. Não?

Sim. Queria muito ter seguido a dança. Mas depois os meus pais abriram-me os olhos e fizeram-me perceber que, apesar de ser uma profissão incrível, era muito difícil aqui em Portugal. Até que um dia lhes disse que se calhar ia ser atriz. Foi ela por ela [risos]. Mas com 12 anos queria mesmo muito ir para o conservatório, mas os meus pais conseguiram-me dar a volta. E o basquetebol, que acabei por jogar federada, acabou por encher o bichinho da dança.

Em relação aos haters. Liga à opinião das pessoas nas redes sociais?

Eu costumo dizer que tenho duas vidas. Porque eu vivi sete, oito anos sem redes sociais, e mais oito, nove anos com redes sociais. Para mim, antes das redes sociais, os haters eram a imprensa. Eram quem podiam dizer alguma coisa sobre mim que poderia não gostar e que eu não teria como me defender. E por vezes deixaram-me triste e a chorar. Depois, com o aparecimento das redes sociais, passo a lidar com um novo mundo. E no qual me sentia muito triste, chorava imenso e vivia imenso os comentários das pessoas. Até que um dia percebi que há coisas mais importantes do que aquela pessoa que está agarrada ao seu telemóvel e que não tem mais nada para fazer na sua vida e está ali, a escrever o que lhe apetece sobre mim. E os meus pais também se aperceberam que os comentários menos positivos estavam a influenciar a minha felicidade e aí também entraram, ajudando-me a perceber o que é realmente importante. 

E hoje em dia?

Não me chateia, de todo. Sei que há muitas pessoas que dizem isto e que não é verdade. Leio, fico irritada durante uns segundos, mas depois vou à minha vida. Porque penso: ‘Se esta pessoas perdeu 30 minutos da vida dela comigo, é porque eu tenho alguma coisa de especial na vida dessa pessoa, e ela não tem na minha’. E a única coisa que lhe posso mostrar é que não vale a pena alimentar esse ódio. E sempre que eu respondia aos comentários negativos, era sempre em tom de brincadeira, e nunca com raiva. Porque defendo que não deve haver troca de ódio, seja nas redes sociais, seja na vida real. Tento sempre compreender o porquê daquela pessoa estar a dizer aquilo. Tento sempre inventar uma história na vida daquela pessoa, mesmo não sabendo nada sobre a vida dela. E penso: ‘Se calhar essa pessoa teve um mau dia. Se calhar está a passar por um momento difícil na vida dela’. E  não vou fazer com que fique mais triste. Há duas opções: ou ignoro e continuo a minha vida, ou faço um delete, que é muito fácil e todas as pessoas deviam pensar dessa forma. É só fazer um delete e bloquear. 

A Rita foi eleita uma das mulheres mais influentes de Portugal. Acha que isso lhe dá uma responsabilidade acrescida? Que tem de ser um exemplo?

Já não é a primeira vez que isso acontece. E sempre que acontece, penso na forma natural como eu vivo a vida e como faço as coisas. E penso que a mensagem que eu passo tem sido a correta. Nunca tentarei ser aquilo que não sou. Tentarei ser sempre melhor e não para agradar. Para mim, isso significa que eu estou num bom caminho e quero continuar nesse bom caminho. De ser uma inspiração para muitas pessoas que eu sei que sou e que sei que precisam que eu seja.