Futebol feminino. Na seleção americana, elas já ganham o mesmo que eles

Os Estados Unidos aumentaram os prémios da seleção nacional de futebol feminina para que estejam ao nível dos que ganham os homens. Mas não foram os primeiros a fazê-lo. Noruega, Finlândia, Dinamarca e Países Baixos já tinham seguido essa via.

Nos Estados Unidos, o futebol não é, nem de longe nem de perto, o desporto mais popular a nível nacional… e uma curiosidade marca esta modalidade no país: ao contrário do que acontece na maior parte das nações, a seleção nacional feminina tende a ter maior protagonismo do que a masculina.

Que o digam Hope Solo, Alex Morgan e Megan Rapinoe, representantes mundialmente conhecidas da seleção nacional norte-americana. Agora, os EUA deram um novo passo na equiparação entre as seleções nacionais feminina e masculina de futebol: os prémios por representar o país em competições internacionais serão iguais para ambas as equipas. Um feito que muito agradará, certamente, a Rapinoe e Morgan, duas das caras mais conhecidas na luta das futebolistas norte-americanas pela igualdade no que toca a prémios e pagamentos.

“Este é um momento verdadeiramente histórico. Esses acordos mudaram o jogo para sempre aqui nos Estados Unidos e têm o potencial de mudar o jogo em todo o mundo”, disse a presidente da US Soccer, Cindy Parlow Cone, em reação à medida, que perdurará, pelo menos, até 2028, e que indica que haverá “compensação idêntica para todas as competições, incluindo a Taça do Mundo da FIFA, e a introdução do mesmo mecanismo de compartilhamento de receita comercial para ambas as equipas”.

O sindicato das jogadoras de futebol estima que este novo acordo, e o afastamento das diretrizes da FIFA, significará que o salário médio anual entre o próximo ano e 2028 seria de 450 mil dólares (cerca de 428 mil euros) para um jogador convocado para cada jogo, com a possibilidade de ver o valor ser duplicado em anos de Campeonato do Mundo, dependendo dos resultados. Anteriormente, esse valor seria de 327 mil dólares, acima dos 245 mil dólares em 2018.

A decisão surge após anos de luta por parte das jogadoras femininas dos Estados Unidos. Que o diga Hope Solo, antiga guarda-redes da seleção nacional norte-americana que, em 2019, se revoltou contra a desigualdade salarial entre mulheres e homens futebolistas.

Nova lista Os Estados Unidos não são, no entanto, o primeiro país a dar este passo na luta pela igualdade entre pagamentos a jogadores e jogadores de futebol pelo mundo. Já a Finlândia, a Noruega, a Dinamarca e os Países Baixos tomaram medidas semelhantes nos últimos anos.

A Seleção Finlandesa de Futebol Feminino, por exemplo, chegou a acordo, já em 2019, com a Federação de futebol do país, que previa um pagamento igual entre futebolistas masculinos e femininos. Significava isso, na prática, que os jogadores do sexo masculino e as jogadoras do sexo feminino passaram a receber os mesmos valores em bónus em caso de vitória e empate ao representar as suas respetivas seleções nacionais.

Este foi um feito para as jogadoras nacionais femininas da Finlândia, conhecidas como Helmarit ou Pearl Owls, que há anos assumiam essa luta. Em 2017, o Ombudsman for Equality (a autoridade que supervisiona o cumprimento da equidade de tratamento entre homens e mulheres) da Finlândia lançou uma investigação sobre a questão da desigualdade salarial ao nível da seleção nacional, acabando por concluir que a discrepância salarial não violava a Lei da Igualdade.

Mesmo assim, a seleção e a federação chegaram a acordo dois anos depois para que mulheres e homens tivessem direito aos mesmos prémios. “Um grande dia”, escreveu, na altura, no Twitter, Linda Sällström, jogadora da equipa nacional finlandesa e ponta-de-lança do Paris FC. “Sinto-me orgulhosa por ser uma futebolista finlandesa. Para além dos nossos sonhos e objetivos comuns, agora também partilhamos os mesmos termos de contrato entre as equipas A da Finlândia”, celebrou.

Longa história O acordo alcançado agora nos Estados Unidos é o resultado de uma luta que se estendeu pelos últimos anos, e que gerou debate, polémica e vários casos em tribunal. Vinte e cinco anos, refere o The Washington Post, que cita Julie Foudy, antiga jogadora da seleção nacional norte-americana, que referia que, em 1996, a equipa olímpica feminina norte-americana de futebol “ganhava cerca de 10 dólares [cerca de 17 euros, aplicada a taxa de inflação] por dia”.

O jornal marca o início da ‘luta’ das mulheres por pagamentos idênticos no futebol precisamente nesse ano, quando a resposta dada às jogadoras que pediam maiores pagamentos foi: “Não sejam gananciosas”.

O Washington Post revela, de seguida, a polémica vivida na seleção nacional norte-americana feminina, na viragem do milénio. Em 1999, os Estados Unidos bateram a China na final do Mundial de futebol, e acharam que seria justo ver o seu ordenado aumentar de 3 mil dólares (cerca de 4,7 mil euros, aplicada a taxa de inflação) para 5 mil dólares (cerca de 8 mil euros, aplicada a taxa de inflação). Isto numa altura em que a equipa se preparava para representar o país nos Jogos Olímpicos de Sydney’2000.

A federação, no entanto, recusou o aumento, relata o jornal norte-americano. Foi só quando a equipa feminina ameaçou boicotar os Jogos que o órgão que tutela o futebol no país cedeu ao aumento. “Eles basicamente ignoraram os nossos sucessos nos últimos três anos – incluindo uma vitória no Mundial e uma medalha de ouro olímpica”, denunciou a capitã da equipa, Carla Overbeck.

E como falar da ‘luta’ das mulheres norte-americanas por iguais pagamentos no futebol sem mencionar o processo legal que arrancou em 2015? Nesse ano, a final do Mundial de futebol feminino transformou-se no jogo de futebol mais visto de sempre na televisão norte-americana (tanto nas equipas femininas como masculinas), gerando mais 20 milhões de dólares em receitas para a federação. A mesma, no entanto, continuava a pagar diferenciadamente a homens e mulheres.

Em subsídios de alimentação, por exemplo, as atletas recebiam 60 dólares por dia, ao passo que os homens recebiam 75. A realidade levou algumas jogadores a colocar a Federação em tribunal, num processo que se prolongou por seis anos, acabando por conquistar, em fevereiro, um ajuste de 24 milhões de dólares (cerca de 23 milhões de euros).