Monkeypox pode ser a próxima pandemia? “Não sabemos mas achamos que não”

Em Portugal há 96 casos confirmados. A Organização Mundial de Saúde respondeu ontem às perguntas e considerou pouco provável o cenário de disseminação global, a definição de pandemia. 

A infeção por monkeypox pode ser a nova pandemia? A pergunta foi ontem colocada à Organização Mundial de Saúde, que organizou a segunda sessão pública de esclarecimento sobre a varíola dos macados, com mais de 400 casos reportados este domingo em 24 países, a maioria na Europa – em Portugal subiu esta segunda-feira para 96 o número de diagnósticos confirmados. “Não sabemos mas achamos que não”, respondeu Rosamund Lewis, responsável técnica pelo acompanhamento da doença na OMS, sublinhando que existe preocupação porque nos últimos anos tinha havido muito poucos casos nos países onde o vírus não é endémico e, mesmo aí, os surtos eram associados ao início ao contacto com animais infetados. “Neste momento não estamos preocupados com uma pandemia global”, afirmou. A ideia tem dominado as últimas intervenções da Organização Mundial de Saúde, numa altura em que parece haver transmissão comunitária do vírus em vários países que reportam casos, incluindo em Portugal (casos em que não é possível estabelecer ligação epidemiológica entre os infetados).

“Não queremos que as pessoas entrem em pânico ou tenham medo que seja como a covid ou pior”, disse também ontem Sylvie Briand, responsável pela divisão de preparação e prevenção de pandemias da OMS. “A doença provocada pela monkeypox não é a covid-19, são vírus diferentes”, sublinhou.

Uma das questões em aberto prende-se com o período de transmissão e o facto de não existir evidência significativa de que o vírus se transmita quando o infectado não tem sintomas dá algum otimismo – foi esse o fator apontado nos últimos dois anos para a galopante expansão do SARS-CoV-2 num tempo de enorme globalização nas viagens. “Ainda não sabemos se existe transmissão assintomática da varíola dos macacos – as indicações no passado foram de que essa não é uma característica importante [neste vírus] – mas isso ainda precisa de ser determinado”, disse Rosamund Lewis.

A que sinais estar atento Andy Seale, responsável pelo departamento de VIH, hepatite e doenças sexualmente transmissíveis, sublinhou que apesar de os primeiros casos terem sido detetados em homens que têm sexo com homens, o que levou a reforçar a sensibilização de forma dirigida a gays, bissexuais e transsexuais por parte de algumas autoridades de saúde, esta “não é uma doença de gays” e que as recomendações são comuns a qualquer pessoa. “As questões críticas a estar atento são qualquer rash cutâneo não habitual, início súbito de febre, nódulos linfáticos inchados e ter consciência das suas relações sociais. Se ouvir que algum parceiro social ou alguém com quem teve uma relação sexual não esteve bem ou não está bem, ou é um caso suspeito ou confirmado infeção por monkeypox, ter cuidados adicionais e procurar cuidados médicos”, recomendou. 

Preservativo não garante proteção suficiente Dirigindo-se particularmente à comunidade mais afetada pelos surtos que têm sido detetados na Europa, sublinhou que a maioria das pessoas estão informadas e terão facilidade em procurar aconselhamento, salientando que as clínicas que trabalham na prevenção de DSTs tiveram de resto um papel importante na sinalização destes surtos. Uma das questões reforçadas por Andy Seale na sessão de perguntas e respostas destinada ao público em geral foi que o uso de preservativos é importante para prevenir DSTs e gravidezes indesejadas mas, no caso da monkeypox, não garante uma barreira suficiente caso alguém esteja infetado. “Não fornece uma camada de proteção adicional porque é o contacto corporal próximo que é o principal factor de risco. Se estiver preocupado com DSTs e gravidez indesejadas, os preservativos são ótimos, mas trata-se sobretudo de estar atento e de compreender o risco”.

A evidência de que a doença se transmite no contacto pele com pele sobretudo quando há lesões é um dos motivos a pensar que não haverá uma disseminação generalizada na população, disse Rosamund. “Nos primeiros casos as pessoas não sabiam, agora que a estão mais informadas, podem proteger outras pessoas parando esta disseminação. O que não gostávamos de ver era que isto continuasse a espalhar-se por amigos e familiares. É possível travar este surto antes que fique maior e é isso que a OMS quer apoiar os países a fazer”, afirmou.

A questão da vacinação foi também abordada – Portugal vai integrar a compra conjunta de vacinas da UE. Em causa estão novas vacinas da varíola e especificamente da monkeypox, declarada erradicada a nível global em 1980. “Até 1980, a vacina foi uma estratégia para eliminar uma doença muito infecciosa. Este vírus é da mesma família, não é tão infeccioso nem causa doença tão grave, mas temos esta situação em que nos últimos 40 anos as pessoas não foram vacinadas nem tiveram expostas ao vírus”, disse Rosamund Lewis, admitindo que maiores de 50 anos que ainda fizeram a vacina da varíola poderão ter alguma proteção. “Não temos a certeza, mas é provável que alguns tenham”, disse, acreditando que a baixa imunidade geral pode ser a explicação para a propagação a que se tem assistido. Em Portugal, a vacina da varíola foi obrigatória até 1977. 

Neste momento, a recomendação da OMS é para que sejam vacinados contactos de risco, ou seja pessoas que tiveram contacto próximo com alguém infetado, por exemplo profissionais de saúde que vejam um doente e não estejam na altura devidamente protegido.