“A princípio é simples, anda-se sozinho/ Passa-se nas ruas bem devagarinho/ Está-se bem no silêncio e no burburinho/ Bebe-se as certezas num copo de vinho.
E vem-nos à memória uma frase batida/ Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida/ Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida”. O músico, Sérgio Godinho, cantou e os automobilistas vão beber – para o bem e para o mal – a partir de hoje, da sua música. Quem conduz, precisa de andar bem devagarinho, não beber e ter cuidado com o primeiro dia da entrada em vigor dos radares da capital.
Mas vamos às contas sonoras. Quarenta e um radares podem entrar hoje em funcionamento – embora alguns ainda possam estar em vinha de alhos, isto é, em testes – e todos os prevaricadores vão começar a ser multados se excederem os limites de velocidade estabelecidos – regra geral, 50 ou 80 km/h. Se nos últimos seis meses só foi multado quem passou por um radar móvel da PSP ou da Polícia Municipal, agora tudo é diferente. Os 41 radares mais modernos do mercado vão ser implacáveis e os automobilistas mais aceleras vão ter surpresas desagradáveis quando receberem as multas em casa. É que quem passar à frente de um dos radares em excesso de velocidade pode nem dar por isso. O problema é quando receber a notificação em casa a dizer que ultrapassou o limite de velocidade permitida.
Num investimento a rondar os dois milhões e meio de euros, a Câmara de Lisboa – através do anterior Executivo – apostou forte na prevenção rodoviária – para outros, na “caça à multa”. São muitas as artérias que só tinham radares num dos sentidos, mas, depois de analisarem os movimentos “suspeitos” dos automobilistas, as autoridades camarárias optaram por reforçar o controlo em ambos os sentidos.
E se há ruas e avenidas que são consensuais, no que ao limite de velocidade diz respeito, outras há que merecem muitas críticas de especialistas em mobilidade. Lisboa, em particular, pode tornar-se “um inferno para quem conduz nas autoestradas urbanas”, provocando assim engarrafamentos que irão transformar a capital numa cidade muito mais poluente. “Não fizeram estudos, não olharam para o que se passou na ponte 25 de Abril e vão cometer os mesmos erros”. diz ao i um especialista em mobilidade. Este antigo autarca relembra o que se passou quando um “génio optou por reduzir a velocidade na ponte 25 de Abril, provocando o caos no trânsito e, por essa razão, aumentou os índices de poluição”. Tudo acabaria por voltar ao que estava instituído anteriormente.
Quem não concorda que esta decisão seja uma caça à multa é o novo presidente da autarquia. “Penso que os radares devem ser preventivos e não punitivos. Devem ser algo que as pessoas sabem onde estão e estes radares vão estar totalmente assinalados, ou seja, as pessoas sabem que ali há um radar e que vão ter de respeitar uma determinada velocidade. Se não respeitarem, é uma escolha deles”. E é aqui que os ‘contestatários’ destas medidas entram em ação: “Faz algum sentido o limite de velocidade ser de 50 em vias de três faixas para cada lado? Faz algum sentido a velocidade permitida na Avenida Calouste Gulbenkian? E acham que é possível andar a 20 na subida do viaduto de Belém? Que ponham limites rígidos onde há acidentes fatais, nada a opor, agora em vias que são autênticas autoestradas urbanas isso é apenas caça à multa. Como os 50 na 2.ª Circular. Por acaso, Carlos Moedas, que tanto gosta de estudos e de ouvir a população, preocupou-se em ter informação credível e de especialistas em Mobilidade para aceitar pôr estes limites, herdados do anterior Executivo, em prática?”, protestou, ao Nascer do SOL, fonte ligada à segurança rodoviária.
Mas não vai ser só na capital que o país vai ficar pintado de radares. Segundo fonte da Associação Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR), mais de 300 radares vão pintar o mapa das estradas portuguesas. Para se ter uma ideia, o Orçamento do Estado para este ano prevê que os automobilistas deixem nos cofres do Estado quase 130 milhões de euros em multas de trânsito. E para atingir esta verba, superior em quase 40% em relação ao ano anterior, a ANSR deu instruções para os radares montados nas autoestradas começarem a ‘disparar’ quando os automobilistas ultrapassem os 20 km/h do que está legalmente instituído. Dessa forma, as contraordenações serão leves e os consultores vão preferir pagar sessenta euros e não ficar com a carta ‘suja’ recorrerem ao expediente de contestarem as multas – que na maioria dos casos acabam por prescrever.
Já a Câmara de Lisboa, que insiste que não quer uma caça à multa e que esta rubrica não tem peso nas contas da autarquia, prevê, com os 41 radares e os polícias da sua Polícia Municipal, arrecadar cerca de 5,2 milhões de euros, até menos do que no ano passado, quando foram cobrados 5,360,140 de euros, com os radares desligados durante seis meses. Veremos as contas no final.
Para os automobilistas da capital, diga-se que a PSP terá, a partir de julho, 31 pistolas/radares que conseguirão captar infratores a mais de 500 metros de distância, embora o valor destas multas não entre diretamente nos cofres da autarquia, mas sim no Estado central.
Aumento dos táxis A partir de hoje, não vão só ser os radares que vão entrar em vigor. Também os táxis terão novos preços da bandeirada e não estranhe que quando chegar ao final da sua viagem o valor pedido pelo taxista seja diferente do que está no taxímetro. Tendo dois meses para atualizar o aparelho que vai registando os metros percorridos pelo táxi, além do tempo parado no trânsito, os taxistas vão estar munidos de uma tabela que mostrarão aos clientes com o verdadeiro preço final. Desde 2013 que não se registava uma situação destas: olhar para um papel que nos diz o que temos verdadeiramente de pagar. Recorde-se que em janeiro de 2013, a bandeirada passou de 2 euros para 3,25 euros. A partir daí, não existiram mais alterações. De acordo com a convenção da Direção-Geral das Atividades Económicas, da ANTRAL e da FPT, no âmbito da nova tarifa, cada deslocação continuará a custar pelo menos 3,25 euros – para serviços realizados entre as 6h as 21h nos dias úteis (tarifa diurna) – 3,90 euros para os restantes horários, ou seja, aqueles que integram a tarifa noturna.
Apesar de os preços se manterem iguais, viajar de táxi custará mais 8,05% porque em vez dos 1800 metros (tarifa diurna) ou 1440 metros (tarifa noturna), a viagem mínima passará a corresponder a 1390 metros ou 1112 metros, respetivamente. O custo por quilómetro aumentou para 51 cêntimos, na tarifa diurna e a tarifa por hora subiu para 16,10 euros. Quando se fala na tarifa de serviço de táxi à hora, entendemos que o crescimento desta é de 9 euros para uma viagem de uma hora e de 4,5 euros para serviços de 30 minutos. Os suplementos, isto é, transporte de bagagem na mala dos carros e de animais domésticos, continuarão a custar 1,60 euros.