O ministério à volta do desaparecimento do jornalista britânico Dom Phillips e o especialista em cultura indígena brasileiro Bruno Pereira ganha cada vez maiores contornos. A informação é contraditória e as certezas estão longe de chegar a bom porto.
Ontem, a Polícia Federal brasileira terá encontrado dois corpos durante as buscas realizadas para descobrir o que terá acontecido aos dois homens. Se são ou não os corpos dos mesmos, não se sabia ainda ao fecho desta edição, mas a notícia tinha sido avançada pela mulher do jornalista, Alessandra Sampaio. Além disso, a Embaixada britânico já informou os irmãos do jornalista.
Mas há mais. Além dos sites brasileiros também o The Guardian avançou a notícia, citando Paul Sherwood, cunhado do jornalista desaparecido, que trabalhava para aquele jornal. De acordo com Sherwood, o embaixador brasileiro no Reino Unido contactou a família na manhã desta segunda-feira para dar a notícia de que “foram encontrados dois corpos”. “Ele [o embaixador] não descreveu o local, apenas disse que era na floresta tropical e que estavam amarrados a uma árvore, mas ainda não tinham sido identificados”, disse.
No entanto, uma informação contrária surgiu depois através de um porta-voz da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) que avançou que não foram encontrados quaisquer corpos pelas equipas de socorro na floresta da Amazónia. “Falei com a equipa no terreno e isso não é verdade”, disse Eliesio Marubo, contrariando as restantes notícias. Marubo, advogado da Unijava, que organizou as operações de busca por Dom Phillips e o investigador Bruno Pereira, acrescentou que “as operações continuam”.
Pouco depois, a Polícia Federal emitiu um comunicado: “A informação que está a ser a ser divulgada de que os corpos de Bruno Pereira e Dom Phillips foram encontrados não tem fundamento”. E acrescentou: “Como foi dito anteriormente, materiais biológicos e pertences pessoais dos desaparecidos foram encontrados e estão a ser examinados. Assim que qualquer descoberta for feita, a família e os media serão informadas imediatamente”.
Entretanto, o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, avançou esta segunda-feira que vísceras humanas foram encontradas na região onde os dois desapareceram. “Os indícios levam a crer que fizeram alguma maldade com eles. Já foram encontradas vísceras humanas a boiar no rio vísceras e que já estão em Brasília para ser feito o ADN”, disse Bolsonaro numa entrevista à rádio CBN Recife.
E acrescentou: “Já passaram oito, nove dias e vai ser muito difícil encontrá-los vivos. Peço a Deus que os encontrem vivos, mas as indicações levam ao contrário no momento”.
Esta garantia surge depois de o Presidente brasileiro ter insinuado que os dois desaparecidos possam ter sido imprudentes. “Duas pessoas num barco, numa região tão selvagem, não é recomendado”, disse Bolsonaro ao canal de televisão SBT. E acrescentou: “Tudo pode acontecer”. Na mesma entrevista, deixou algumas hipóteses em cima da mesa: “Pode ter sido um acidente, podem ter sido executados”.
A notícia do desaparecimento dos dois homens levou a que um grupo de voluntários indígenas começasse a ajudar nas buscas. As reportagens de Dom Phillips e os estudos de Bruno Pereira, que contavam as tradições e o modo de vida nas tribos isoladas e nunca antes contactadas na Amazónia, também levaram vários grupos de voluntários a iniciar buscas, em solidariedade.
O jornalista é há muitos anos correspondente do The Guardian a investigar e a documentar a vida das tribos indígenas no interior da floresta é o que marca grande parte da sua carreira. Por sua vez, Bruno Pereira é considerado um especialista em tribos indígenas da Amazónia, e trabalha há anos na Fundação Nacional do Índio (Funai), para proteger estes povos.
A história Os dois homens estão desaparecidos desde o passado dia 5 de junho depois de terem chegado à comunidade de São Rafael, no Amazonas. De lá, partiram para Atalaia do Norte, destino que não chegaram a pisar. No passado domingo, a Polícia Federal confirmou ter encontrado bens pessoais do dois desaparecidos, onde se encontravam roupas, mochilas e até o cartão de saúde. Os bens foram localizados próximo à casa daquele que é o principal suspeito deste desaparecimento: Amarildo Costa de Oliveira.
Amarildo, o pescador O suspeito do desaparecimento do jornalista e do especialista é Amarildo Costa de Oliveira, um pescador de 41 anos conhecido como ‘Pelado’. É o único suspeito do desaparecimento e está preso desde o passado dia 7. Segundo o G1, no seu depoimento à Polícia Civil do Amazonas, Amarildo negou qualquer envolvimento no caso. Foi através de vários testemunhos que a polícia chegou a este nome, depois de os testemunhos terem visto o suspeito a ameaçar Bruno Pereira. O G1 diz ainda que uma das testemunhas garantiu que o pescador foi visto numa lancha onde também estavam Bruno Pereira e Dom Phillips.
Durante as buscas, a polícia encontrou droga e munições de uso restrito das Forças Armadas, o que levou à detenção dos suspeito. A prisão, decretada pela justiça, é de caráter temporário e, para já, terá a duração de 30 dias.
A polícia local apreendeu também a embarcação onde foram encontrados vestígios de sangue.
O mesmo site brasileiro avança também que o pescador detido conta com um historial de ameaças contra Bruno Pereira.
No passado domingo, o G1, teve acesso a um documento, onde se percebe que a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) denunciou que Amarildo estaria a pescar no interior do Vale do Javari, próximo a aldeia Korubo, com um grupo de quatro ou cinco pessoas, a 3 de abril.
Segundo o documento, “estariam a pescar numa canoa pequena, no lago do Bananeira, na margem direita do rio Ituí”. ‘Pelado’ é, aliás, apontado como um dos autores de diversos atentados com armas de fogo contra a Base de Proteção da Funai entre 2018 e 2019 no Vale do Javari.
As notícias avançam ainda que um amigo do especialista afirmou que Bruno Pereira foi ameaçado por Amarildo um dia antes de desaparecer com o jornalista. Os dois foram vistos pela última vez, após realizarem uma visita a uma comunidade próxima à Terra Indígena Vale do Javari, no Amazonas.