A Ucrânia assegurou que ainda tem tropas a resistir em Severodonetsk, mesmo após as pontes da cidade serem destruídas, impedindo a retirada. Contudo, o Kremlin já fez um ultimato, exigindo aos defensores da fábrica de químicos de Azot – onde se aquartelaram tropas ucranianas e civis assustados, trazendo à memória o horror a que vimos na metalurgica Azovstal, em Mariupol – que se rendam até esta quarta-feira às 8h locais, 6h em Portugal continental.
A destruição de todas as pontes entre Severodonetsk e a sua cidade-gémea, Lysychansk, na prática condenou estas tropas ucranianas. No entanto, também deixou no ar algumas questões. O Kremlin apostou tudo o que tem em Severodonetsk, chegando a lançar assaltos frontais numa área urbana, algo que tinha evitado fazer desde que sofreu perdas brutais a norte de Kiev e nos arredores de Kharkiv.
Alguns analistas tinham apontado que esta insistência se devia ao valor simbólico da cidade, cuja conquista permitiria a Vladimir Putin gabar-se de ter tomado o oblast de Lugansk inteiro, mas também que Severodonetsk era a última cidade nas mãos dos ucranianos na margem norte do rio Siverskyi Donets – logo, caso permanecesse sob controlo de Kiev, facilitaria um futuro contra-ataque.
A decisão das forças russas de destruir todas as pontes, segundo verificou a BBC através de imagens de satélite, parece indicar que o Kremlin, por agora, está concentrado em consolidar os seus ganhos. Ou pelo menos que não pretende avançar rumo a Lysychansk através de Severodonetsk – até agora, eram as forças ucranianas que recorriam a destruir pontes, tentando travar os invasores.
É que os russos têm tido uma notória dificuldade em cruzar rios. Mesmo nas melhores condições, são das manobras militares consideradas mais perigosas, mas os russos têm falhado sucessivamente. Chegando a ter uma das suas piores derrotas no rio Siverskyi Donets, em maio, sendo emboscados pelas forças ucranianas, que destruíram um pontão encurralando os militares russos na margem sul do Siverskyi Donets.
Estima-se que cerca de 80 veículos tenha sido destruídos e quase 500 militares abatidos. As imagens de satélite obtidas pelo Institute for the Study of War mostram tanques carbonizados, virados para o rio, numa aparente tentativa de fuga, enquanto tinham os canhões virados para trás, como que tentando retaliar o fogo ucraniano.
As travessias de rios “provavelmente estarão entre os mais importantes fatores determinantes do curso da guerra”, apontou um relatório do ministério da Defesa britânico, divulgado esta segunda-feira. “Para obter sucesso na atual fase operacional da sua ofensiva no Donbass, a Rússia ou vai ter de conseguir ações de flanqueamento ambiciosas”, continuava o relatório, referindo-se aos avanços russos perto de Popasna, a sudeste de Lysychansk, “ou conduzir assaltos cruzando rios”.