Invisível, continuado e frequente. Os dados da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) sobre a violência contra idosos mostram uma realidade que pode passar despercebida: em 2021, foram registadas 1 594 casos pela associação. E num relatório que analisou o fenómeno entre 2013 e 2020, contaram-se ao longo deste período um total de 10 307 processos de apoio. “No que diz respeito ao perfil da vítima, esta é geralmente do sexo feminino (cerca de 73,3%), com idades compreendidas entre os 65 e os 74 anos. Já o autor do crime é em cerca de 63,4% das situações do sexo masculino e com uma média de idades (11,4%) entre os 65 e os 74 anos. Em cerca de 37% dos casos, a vítima é pai ou mãe do autor do crime”, revela o balanço da associação divulgado no final do ano passado.
“A violência contra idosos é invisível e tem uma dimensão mais alargada do que a que conhecemos”, disse ontem Marta Carmo, da APAV, a propósito do Dia Mundial da Consciencialização da Violência contra a Pessoa Idosa, que desde 2006 é assinalado a 15 de junho. “As pessoas têm vergonha de admitir que são vítimas, por exemplo, dos seus filhos. Além disso, têm medo de represálias por parte dos agressores que, muitas vezes, são pessoas próximas, nomeadamente cuidadores ou familiares”, explicou a técnica à SIC.
A vitimização é continuada e nem sempre dá origem a queixa. De 904 vítimas inquiridas em 2020, 74 estavam nesta situação há mais de 40 anos, concluiu o mesmo levantamento da APAV. “Prevalece o tipo de vitimação continuada em cerca de 73,3% das situações, com uma duração média entre os 2 e os 6 anos (12,9%). Sendo a residência comum o local mais escolhido para a ‘ocorrência dos crimes’, em cerca de 54% das situações, já as queixas/denúncia registadas ficam-se nos 35% face ao total de autores de crime assinalados.”
No Norte, uma campanha nas escolas lançada pela associação bracarense Comissão de Proteção ao Idoso vai passar até ao final de semana por 57 agrupamentos escolares, chegando a 14 500 alunos. O mote é o “O Silêncio tem Voz”, sensibilizando os mais jovens para uma sociedade mais justa e inclusiva.
Fazendo uma pesquisa, não se encontram muito mais iniciativas pelo país. Exceção para a Câmara Municipal de Oeiras, que este ano assinalou a data iluminando-se de roxo, com um debate que juntou especialistas na área.