Líderes europeus da França, Alemanha e Itália visitaram Kiev para mostrar que estão intransigentes no seu apoio à Ucrânia durante a guerra e a invasão das forças russas, numa demonstração que não caiu bem junto do Kremlin.
O Presidente francês, Emmanuel Macron, o chanceler alemão, Olaf Scholz, e o primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, deslocaram-se de comboio até à capital da Ucrânia, num marcante momento que ficou registado para a posteridade pelas câmaras, e quando chegaram à cidade foram recebidos com sirenes que alertavam para os contínuos ataques aéreos russos. Mais tarde, o Presidente da Roménia, Klaus Iohannis, também se encontrou com o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.
“É um momento importante. É uma mensagem de unidade que estamos a enviar ao povo ucraniano, de apoio, para falar tanto sobre o presente quanto sobre o futuro, já que as próximas semanas, como sabemos, serão muito difíceis”, disse Emmanuel Macron aos repórteres que se encontravam na estação de comboios de Kiev, citado pelo jornal britânico Guardian.
Depois da reunião com Zelensky, Macron revelou que iria entregar à Ucrânia mais seis canhões ‘Caesar’, camiões equipados com sistema de artilharia conhecido pela sua precisão, depois de a França já ter contribuído com outras 12 unidades deste equipamento militar à Ucrânia.
O chanceler alemão afirmou, por sua vez, que a “crueldade inimaginável” e a “violência sem sentido” por parte da Rússia devia terminar. Este apelo chega numa altura em que Scholz tenta reparar as relações com a Ucrânia, uma vez que tem sido repetidas vezes criticado por a Alemanha não fornecer mais apoio bélico pesado à Ucrânia.
Entretanto, o embaixador ucraniano em Berlim, Andrij Melnyk, revelou que a Alemanha iria entregar mais armas pesadas que tinha prometido.
Scholz anunciou ainda que o Presidente Zelensky aceitou o convite para participar da próxima reunião do G7, que vai realizar-se na Alemanha, de 26 a 28 de junho, não confirmando se a sua presença irá acontecer de forma virtual ou física.
Já o primeiro-ministro italiano, durante a conferência de imprensa conjunta com os seus colegas francês e alemão, defendeu a entrada urgente de Kiev na União Europeia. “Quero dizer hoje que a mensagem mais importante da minha visita é que a Itália quer a Ucrânia na União Europeia”, disse Draghi. “E quer que a Ucrânia tenha o estatuto de candidato e apoiará esta posição no próximo Conselho Europeu”, acrescentou.
Esta posição foi defendida por todos os líderes europeus presentes na capital ucraniana, que pretendem conceder o estatuto de candidato oficial “imediato” à adesão à União Europeia à Ucrânia. Sendo que o próximo Conselho Europeu, nos dias 23 e 24 de junho, deverá decidir se concederá à Ucrânia o estatuto de candidato à adesão, o primeiro passo de um processo de negociações que pode durar anos. A Comissão Europeia deve divulgar a sua recomendação na sexta-feira.
Por seu lado, o Presidente Zelensky também salientou a importância desta adesão e revelou que o seu país está “pronto” para trabalhar para se tornar “membro de pleno direito” da União Europeia.
“Os ucranianos já conquistaram o direito de seguir este caminho e obter o estatuto de candidato” para a adesão, afirmou Zelensky após a reunião com os líderes europeus. No encontro, o chefe de Estado ucraniano também apresentou uma proposta com uma série de sanções contra a Rússia, apelando para os europeus “aumentarem” a pressão contra Moscovo, nomeadamente no embargo de petróleo russo.
Reação de Moscovo Como seria de esperar, as reações de Moscovo à visita dos três líderes europeus a Kiev não foi muito bem recebida, mas algumas destacaram-se pelo inesperado sentido de humor.
O ex-Presidente da Rússia Dmitry Medvedev, no poder entre 2008 a 2012 e atual vice-presidente do Conselho de Segurança Nacional, gozou com a presença dos três chefes de Estado europeus que visitam a Ucrânia, referindo que “os fãs europeus de sapos, salsicha e esparguete adoram visitar Kiev”, referindo-se a três estereótipos ligados a, respetivamente, França, Alemanha e Itália, acrescentando que esta visita teve “utilidade zero”, escreveu no Twitter.
“Prometeram adesão à União Europeia e velhos obuses [artilharia] para a Ucrânia, deliciaram-se em gorilka [bebida alcoólica ucraniana] e voltaram para casa de comboio, como há 100 anos”, pode ler-se na página daquela rede social do ex-Presidente russo. “Tudo está bem. No entanto, isso não aproximará a Ucrânia da paz. O relógio está a correr”, rematou.
Entretanto, o Kremlin também lançou novos alertas afirmando que os novos apoios de armas ocidentais são “absolutamente inúteis”. “Espero que os líderes desses três Estados e o Presidente da Roménia não se concentrem apenas em apoiar a Ucrânia ao injetar este país com mais armas”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, acrescentando que seria “absolutamente inútil e causará mais danos ao país”.
No entanto, apesar do alto nível das tensões, Moscovo continua a insistir que está pronto para reiniciar as negociações de paz, acusando a Ucrânia de ainda não ter enviado uma nova resposta às últimas propostas de Moscovo, adiantou a agência de notícias Interfax, citando o negociador-chefe da Rússia, Vladimir Medinsky, que culpa Kiev pela falta de progresso das iniciativas diplomáticas.