NATO teme que a guerra na Ucrânia dure anos

A invasão virou uma guerra de atrito, com avanços e recuos. Como se vê em Kharkiv, que por momentos ficara fora de alcance da artilharia russa.

Líderes da NATO pedem que os Estados-membros mantenham a resolução de apoiar militarmente a Ucrânia, avisando que esta guerra pode durar anos, perante o que aparenta ser um impasse, com avanços lentos e sucessivos contra-ataques. Isso torna-se cada vez mais notório nos arredores de Kharkiv, segunda cidade ucraniana, que os militares russos estiveram prestes a cercar, acabando escorraçados para próximo da fronteira. O que agora tentam recuperar.

Estamos perante uma guerra de atrito, sem grandes perspetivas de uma vitória militar rápida e nenhuma solução diplomática em cima da mesa. “Devemos preparar-nos para o facto de que pode durar anos”, avisou o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, este domingo, em entrevista à revista alemã Bild. “Não devemos desistir de apoiar a Ucrânia”, apelou.

“Mesmo que os custos sejam altos, não apenas pelo apoio militar, mas também pelo aumento dos preços da energia e dos alimentos”, continuou o secretário-geral da NATO. “Isso não é comparável com o preço que os ucranianos têm que pagar todos os dias, em vidas”.

Que o diga Ivana Sanina, de 23 anos, com quem o Guardian se cruzou este domingo, num dos funerais que se sucedem todos os dias em Kiev. “Todos os nossos melhores, os mais bravos, estão a morrer. O custo da guerra na sociedade é imenso”, lamentou, de luto pela morte do seu amigo Roman Ratushnyi, um ativista e antigo jornalista, dedicado a expor corrupção, que caiu em combate dias antes do seu 25º aniversário, perto de Kharkiv.

“Ele era a voz da Ucrânia livre e independente. Tinha um futuro tão grande pela frente”, recordou Sanina. Como todos os amigos de Ratushnyi, não ficou surpreendida quando este decidiu juntar-se ao exército no logo início da invasão russa. Ratushnyi faz parte de uma geração inteira que se está a perder, estimando-se que de momento a ofensiva russa no leste esteja a causar entre 100 a 200 baixas diárias entre as forças ucranianas.

 

Avanços, recuos

Por momentos, pelo menos os civis de Kharkiv conseguiram escapar ao pior do conflito, quando um contra-ataque ucraniano conseguiu empurraram a artilharia russa para fora de alcance desta cidade. No entanto, agora esse risco voltou a surgir.

“A Rússia está a tentar fazer de Kharkiv uma cidade na linha da frente”, declarou um conselheiro do ministério do Interior da Ucrânia, Vadym Denysenko, à televisão ucraniana, este domingo citado pela Reuters. Explicando que as forças russas tentavam recuperar o território que perderam a norte de Kharkiv, de maneira bombardear mais facilmente a cidade.

Horas após este aviso, o Kremlin anunciava ter atingido com uma fábrica de reparação de tanques em Kharkiv com os seus mísseis Iskander, de longo alcance. Gabando-se ainda de ter destruído dez howitzers e uns vinte veículos no sul da Ucrânia.

Contudo, quaisquer ofensivas do Kremlin em Kharkiv ou no sul serão dificultadas pela desesperada resistência ucraniana em Severodonetsk, apesar desta cidade estar quase sob total controlo russo.

É que, se Severodonetsk parece condenada a cair nas mãos dos russos em breve, isso será “a custo de concentrar a maioria das suas forças disponíveis nesta pequena área”, apontou o mais recente relatório do Institute for the Study of War. O que deixa as forças do Kremlin próximas de Kharkiv “vulneráveis a contra-ofensivas ucranianas e a atividade de guerrilha”.