Caso Luís Rufo. Situação de falso advogado abre guerra na Ordem

Bastonário anunciou diligências após investigação do SOL, fazendo tábua rasa das conclusões do Conselho Regional do Norte. Há um mês, Menezes Leitão disse desconhecer caso e não foram anunciadas diligências.   

O bastonário da Ordem dos Advogados chamou a si as diligências sobre o caso revelado pelo Nascer do SOL, do advogado que exerce há 30 anos em Braga, tendo obtido o título de licenciado através de um esquema de falsificação de cadeiras na universidade nos anos 90. Menezes Leitão disse ao i que não foi informado pelo Conselho Regional do Norte da ordem, que, como este jornal noticiou na edição desta segunda-feira, avançou com uma queixa-crime para o Ministério Público após uma investigação interna, requerendo a constituição de Luís Rufo como arguido – e a sua suspensão imediata de funções. 

Com o caso já na justiça, o verniz estalou nas capelinhas, numa altura em que se vive a campanha interna pelas próximas eleições, no final do ano. 

Paulo Pimenta, presidente do Conselho Regional do Porto, foi o último candidato a entrar na corrida a bastonário, que conta com cinco adversários: o atual bastonário Luís Menezes Leitão, António Jaime Martins, Fernanda de Almeida Pinheiro e Rui Silva Leal.

Primeiro contacto há um mês No decurso da investigação realizada pelo Nascer do SOL, Menezes Leitão foi no entanto contactado, tal como Paulo Pimenta, dirigente da região a que pertence o advogado bracarense, sobre os factos apurados.

O bastonário disse desconhecer o assunto e, pelos vistos, não se tentou informar.

Já o Conselho Regional do Norte viria a confirmar uma investigação interna em curso e a subsequente participação ao Ministério Público. 

“A queixa foi instruída com base em toda a documentação que obtivemos durante a nossa investigação, que foi desencadeada pela comunicação que nos chegou de um cidadão, devidamente acompanhada de documentos”, disse ao i Paulo Pimenta, salientando que a participação ao MP “destina-se a evitar que se perpetue uma utilização abusiva de uma cédula profissional, pondo em causa a confiança que este documento emitido pela Ordem deve merecer aos cidadãos”.

Ontem, em comunicado, e omitindo a participação ao MP feita pelos colegas do Norte, a direção nacional indicou ter determinado a realização de várias diligências para o apuramento dos factos relatados, que considera graves. 
Além da audição do visado, diz o gabinete de Menezes Leitão, a Ordem quer que os diretores das Faculdades de Direito da Universidade de Coimbra e da Universidade Portucalense informem sobre o registo académico existente sobre Luís Rufo. Pede ainda ao presidente do Conselho Regional do Porto da Ordem “que informe sobre os processos de inscrição como advogado estagiário e como advogado realizados nesse Conselho, e ainda que o respetivo patrono preste esclarecimentos sobre o estágio que o advogado terá realizado no seu escritório sob a sua direção”, fazendo tábua rasa das diligências feitas pelo órgão regional. Ao i, o bastonário defende que a competência é do Conselho Geral da Ordem. “A Ordem dos Advogados sublinha ainda que tudo fará para que a legalidade seja reposta e, caso se comprove a desconformidade do título para o exercício das funções do advogado visado, irá tomar as competentes providências a nível criminal e disciplinar”, concluía a ordem, omitindo que o caso já está no Ministério Público. 

Seguiu-se, ao final da tarde, o comunicado do Conselho Regional do Porto. Dizendo ter atuado dentro das suas competências e considerando “desnecessárias” diligências da ordem “iguais às já realizadas”, o órgão presidido por Paulo Pimenta adianta que “prestará ao Conselho Geral da Ordem dos Advogados toda a colaboração que lhe seja solicitada neste domínio”. Num comunicado visando esclarecer “especulações”, o conselho regional adianta que a investigação interna partiu de uma denúncia, adiantando que não foi mais expedita por resistência da Universidade de Coimbra em prestar todas as informações. Confirma também, como avançado pelo i, a participação criminal feita ao MP contra o advogado, no final da semana passada, passando a bola sobre a cassação do título para o Conselho Geral da Ordem dos Advogados. No comunicado, percebe-se no entanto que só após a participação à justiça foi decidido enviar informação ao quartel-general da ordem.