Por Cândida Rocha, Diretora do Mestrado em Engenharia do Ambiente da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias
Sabia que cerca de 30% das nossas emissões de gases com efeito de estufa proveem da produção e distribuição de alimentos? No último relatório do IPCC (Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas) os cientistas alertam que o planeta está a aquecer mais e de forma mais intensa do que se previa e os impactes das alterações climáticas vão afetar gravemente o setor alimentar.
Aliado à crise climática, temos agora os graves problemas em segurança alimentar derivados da invasão da Ucrânia pela Rússia e a previsão de que, em 2050, a população mundial atinja os nove mil milhões (éramos menos de dois mil milhões no início do século XX).
É, portanto, urgente encontrarmos novas formas de produzir alimentos (e de reduzirmos o desperdício alimentar). Temos de acelerar o progresso na luta contra as alterações climáticas e não podemos ficar à espera de que isto seja feito apenas através da tecnologia. Uma das principais armas que temos ao nosso dispor é a mudança de comportamentos. Podemos (e devemos) ter um papel importante ao reduzir, sem ter de prescindir, o consumo de carne, (principalmente o consumo de bovinos) e ao adotar soluções alternativas de origem vegetal. E podemos, também, pensar em insetos!
Em Portugal a DGAV aprovou a utilização de insetos para a alimentação humana e comparando com a produção bovina, para a produção de cada unidade de proteína de inseto é apenas necessário 1/10 de alimentação, 1/2500 de água, ocupa 1/200 de terra, é 15 vezes mais rápida a produzir e emite 1/100 de gases com efeito de estufa.
Como se não bastassem todas estas vantagens ainda podemos considerar os insetos como uma ferramenta para a economia circular, já que a sua alimentação pode ser à base de biorresíduos. Além dos claros benefícios ambientais, os insetos são um alimento muito rico e equilibrado que pode ajudar a combater doenças que afetam a nossa saúde.
Mas se esta ideia de comer insetos lhe está a dar a ‘volta ao estômago’ saiba que o consumo destes alimentos pode ser em snacks, barras proteicas e até farinhas que podemos utilizar nas receitas da nossa avó. Este assunto pode ser melindroso para nós, mas os insetos são consumidos há milhares de anos e, em muitas partes do mundo, este alimento é muito comum.
Podemos, de vez em quando, continuar a deliciarmo-nos com uma bela Vitela à Lafões ou com uma Posta à Mirandesa, mas, em prol de um futuro mais sustentável, temos de começar a pensar em pedir umas ‘doses de grilos’ ??