Rússia devasta o pouco que sobra de Lugansk

Os bombardeamentos não param e travam-se combates ferozes em Azot, um fábrica que virou último reduto ucraniano em Severodonetsk.

As forças do Kremlin criaram uma cortina de fogo de artilharia ao longo da linha da frente em Lugansk, esta quarta-feira, enquanto decorrem ferozes combates na fábrica de químicos de Azot, onde se estimam estar escondidos uns 500 civis. Trata-se do último reduto das forças ucranianas em Severodonetsk, que se tornou o foco da ofensiva russa no Donbass.

Mais uma vez, à semelhança do que assistimos na metalúrgica de Azovstal, em Mariupol, os invasores foram obrigados a estacar perante tropas ucranianas entrincheiradas, decididas a não se render mesmo estando condenadas, tendo o russos de recorrer a bombardeamentos massivos e táticas de cerco. Perdendo tempo precioso, sobretudo tendo em conta que começa a chegar armamento prometido pela NATO, diminuindo a vantagem avassaladora da Rússia no que toca a artilharia.

Contudo, por agora, o desequilíbrio de forças em Lugansk mantém-se. “É simplesmente o inferno ali”, contou Serhiy Haidai, governador deste oblast, uma divisão administrativa equivalente aos nossos distritos. “Tudo está envolto em chamas. Os bombardeamentos não param nem por uma hora”, relatou à Associated Press. “Hoje, tudo o que pode queimar está a arder”.

Pelo menos, alguns reforços já começam a chegar. Nesse mesmo dia, o Ministério da Defesa ucraniano anunciou que finalmente receberam os primeiros howitzers autopropelidos prometidos pela Alemanha, um país que, devido à guerra da Ucrânia, quebrou com a sua velha política de não enviar armamento para zonas de guerra.

“Temos reabastecimento!”, saudou Oleksii Reznikov, ministro da Defesa ucraniano, citado pela Reuters. Há muito que se mostrava preocupado com a falta de munições de artilharia, que estão a gastar a um ritmo louco nas planícies do Donbass, tentando responder ao fogo russo.

Um dos grandes problemas da Ucrânia tem sido que muito do seu arsenal vem dos tempos soviéticos, ao mesmo tempo que a NATO tem poucas munições de calibre compatível que possa enviar. Mas isso, pouco a pouco, vai sendo resolvido, com remessas como a de howitzers alemães. Vieram “com artilheiros ucranianos treinados e juntaram-se à família da artilharia ucraniana”, celebrou o ministro da Defesa, que ainda aguarda a chegada de baterias de mísseis de longo alcance vindas dos EUA e do Reino Unido.

 

Resgate

Para perceber o que se pode estar a passar em Azot, talvez importe perceber o que se sucedeu em Azovstal. Na altura desse cerco, houve um quase total bloqueio de informações, ninguém sabia o que estava a acontecer, exceto pelo ocasional vídeo divulgado pelos defensores. Contudo, pouco a pouco, à medida que sobreviventes falam com a imprensa, vamos compreendendo um pouco melhor.

Um dos grandes mistérios do cerco a Azovstal foi como é que os defensores aguentaram durante tantas semanas, completamente cercados, sem ficarem mais rapidamente sem munições, comida ou água. O segredo parecem ter sido sete missões de reabastecimento, com pilotos ucranianos a fazerem voos de helicóptero, quase rentes ao chão para escapar aos radares e defesas antiaéreas russas, explicou Volodymyr Zelensky ao canal ICTV.

Pelo menos um dos helicópteros foi abatido e dois outros estão dados como desaparecidos. “Estas são pessoas absolutamente heroicas que sabiam das dificuldades, que sabiam que era quase impossível”, assegurou o Presidente ucraniano. “Perdemos muitos pilotos”.