Lisboa está novamente invadida por trotinetas. Por trotinetas, mas, sobretudo, por utilizadores indisciplinados que percorrem os passeios ou as ruas, demasiadas vezes em violação da lei, mas também em oposição ao respeito pelos peões, depositando-as em qualquer lado, obstruindo passeios e colocando em risco a segurança das pessoas. Impunemente, as trotinetas invadiram o espaço público.
Estávamos em 2018 e Lisboa era invadida por trotinetas. Chegaram a ser 13 empresas que inundaram a capital com milhares destes veículos sem regras ou obrigações. Depois, após denúncias públicas e numa situação insustentável, a Câmara esboçou alguma preocupação e começou a impor regras às empresas que operam na cidade, ainda que a fiscalização tivesse ficado por executar.
Entretanto chegou a pandemia e, aparentemente, a praga das trotinetas desapareceu. Mas foi por pouco tempo. Após a pandemia, há alguns meses para cá, tudo voltou ao mesmo (ou pior). As trotinetas voltaram a circular sem qualquer atenção às regras de trânsito, demasiadas vezes nos passeios e abandonadas em qualquer local com obstrução sistemática dos passeios e colocando em risco os peões e até a circulação de automóveis. A situação está igual ou pior a 2018.
As trotinetas são um meio de transporte dito ‘suave’, alternativo às bicicletas e constituem uma oferta com elevada adesão. Mas o sucesso não pode concretizar-se com prejuízo para a segurança e conforto de quem circula a pé ou até por outros meios. As regras impostas aos operadores de modo a evitar a utilização abusiva das trotinetas e a fiscalização do cumprimento das normas legais e de segurança têm de ser praticadas. A promoção de modos suaves e ecológicos de mobilidade não pode descurar o respeito e a segurança da comunidade. A circulação de trotinetas nos passeios tem de ser impedida, bem como o estacionamento, sempre que coloque em causa a circulação de peões.
O recente anúncio da Câmara Municipal de Lisboa sobre a criação de um regulamento para as trotinetas é positivo. Importa estabelecer regras claras para os utilizadores mas também para as empresas que operam na cidade e que estas sejam claras e divulgadas adequadamente de modo a criar-se um clima de cumprimento e de exigência.
No entanto, para que o regulamento seja eficaz, importa que a fiscalização seja efetiva. Importa sensibilizar para a necessidade de promover uma partilha do espaço público que respeite todos, em primeiro lugar os peões. As empresas que operam na cidade têm também de assumir a sua responsabilidade. E as autoridades responsáveis pela fiscalização têm de estar sensibilizadas para um papel pedagógico mas também punitivo, sempre que seja necessário.
A mobilidade em Lisboa deve ser, cada vez mais diversificada, mas tem de respeitar todos: as pessoas e os demais modos de transporte. Aos operadores e aos utilizadores de trotinetas é exigível respeito.