por Simões Ilharco
Se as eleições fossem já hoje, o PS não teria a maioria absoluta. E muito menos terá daqui a dois ou quatro anos. O ocaso dos socialistas é facilmente explicável. A subida galopante do custo de vida e a degradação do Serviço Nacional de Saúde (SNS) são as razões principais da queda eleitoral do PS, mas a mudança de líder do PSD é outro factor a ter em consideração. Vamos ter oposição, finalmente!
A maioria absoluta do PS foi, note-se, mais virtual do que real. Não resultou de uma avaliação da política do Governo, mas sim da irresponsabilidade do BE e PCP em terem chumbado o Orçamento. Foi uma maioria conjuntural oferecida numa bandeja pelos partidos à esquerda do PS. Só contando com a sua política, sem nenhum factor exógeno, como, por exemplo, o chumbo do Orçamento, os socialistas ficam muito aquém da vontade maioritária dos portugueses.
Senão, vejamos: a ausência de reformas é total e de obras públicas também. Em sete anos de governação, Costa não construiu um único hospital no país! Os seus Governos têm sido meramente de gestão, sem nada digno de registo.
Nada comparável à obra de Cavaco Silva nem mesmo à de António Guterres.
A incapacidade em combater a preocupante inflação, com recusa em aumentar salários da Função Pública e dando dez euros de aumento aos reformados – o que é ridículo e vexatório, não obstante os retroactivos até Janeiro – evidencia bem a mediocridade da política socialista, que tentou passar a 'batata quente' para o privado com propostas demagógicas e irresponsáveis. Fico na dúvida sobre quem será mais populista – Marcelo ou Costa? Ou estarão bem um para o outro?
O crepúsculo dos socialistas, em termos eleitorais, poderá ainda ser maior com a nova liderança do PSD, protagonizada por Luís Montenegro. Os sociais-democratas deixarão de ser a muleta do PS, como acusavam o cessante Rui Rio. O PSD irá assumir-se como principal partido da oposição, que o é, e vai assestar todas as suas baterias no PS, único partido com quem irá perder tempo. Em meu entender, a tarefa essencial do PSD consistirá em recuperar o espaço da social-democracia, que é maioritário no país.
A Saúde é hoje um drama, quando ainda há bem pouco o SNS se apresentava como trunfo eleitoral do PS. O que se passa nas urgências é inaceitável, reconhece o próprio primeiro-ministro. Dois erros graves foram, quanto a mim, cometidos – a falta de novos hospitais, com mais urgências, e a diabolização do privado. A sovietização da Saúde não é o caminho mais indicado. A pandemia fez mossa, mas os problemas são estruturais. Oxalá não façam o SNS rebentar pelas costuras.