A indisponibilidade das Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VMER) tem sido muito superior no interior do país ao que se verifica na maioria dos hospitais. Depois de ter divulgado, na semana passada, a média nacional de inoperacionalidade em maio, o INEM forneceu ao i dados completos sobre a atividade das VMER, que confirmam um agravamento da situação face ao ano passado nas viaturas com mais turnos com falhas – que este mês já voltaram a parar de novo por vários dias, balanço que ficará disponível em julho. A falta de tripulação é o principal motivo.
A nível nacional, como tinha divulgado o INEM na semana passada, a taxa de inoperacionalidade das 44 VMER do país foi de 1,67% dos turnos de maio, quando por lei devem garantir prontidão para o chamado “socorro medicalizado”, quando vai um médico ao local da ocorrência, 24 horas por dia em todo o território nacional – um agravamento face a maio de 2021, quando se registou a nível nacional uma taxa de inoperacionalidade de 0,93%.
Agora, os dados detalhados depois da informação parcial facultada na semana passada mostram as assimetrias para lá deste indicador nacional na disponibilidade destes meios de socorro pré-hospitalar: se a maioria das VMER regista um nível de inoperacionalidade residual, outras estiveram inoperacionais para responder a acionamentos do 112 dezenas de horas, com as viaturas dos hospitais da Guarda e da Covilhã a deterem os maiores níveis de indisponibilidade.
547 horas e 44 minutos inoperacionais Ao todo, as 44 viaturas médicas de emergência e reanimação espalhadas pelo país estiveram inoperacionais durante 547 horas e 44 minutos. Mas estas horas não se dividem de forma uniforme: se mais de metade das viaturas esteve parada, em todo o mês, menos de cinco horas, sete hospitais somam a esmagadora maioria das falhas, em especial Guarda e Covilhã, com perto de 220 horas inoperacionais em maio.
A VMER da Guarda, integrada na Unidade Local de Saúde da Guarda, teve o pior registo, com 142 horas e 19 minutos inoperacionais no mês de maio, o que representa mesmo um quarto das horas paradas a nível nacional por todas as viaturas (26%). A taxa de inoperacionalidade desta viatura foi de 19,10% no mês de maio, concretiza a informação facultada pelo INEM ao i, tendo sido 11 vezes superior aos 1,67% de taxa de inoperacionalidade registada a nível nacional pelo total de carros.
Estas 142 horas de VMER inoperacional na Guarda, a grande maioria por falta de tripulação, dividiram-se por vários turnos mas equivalem a quase seis dias do mês com a viatura parada, ou quase uma semana em que a VMER não esteve disponível para responder a chamadas de socorro, tendo de ser substituída por um meio de outra região ou helicóptero em caso de necessidade.
Segue-se, em termos de inoperacionalidade, a viatura sediada no Hospital da Covilhã, com um total de 77 horas e 34 minutos inoperacionais no mês de maio, 10,40% do tempo.
A terceira VMER com maior taxa de indisponibilidade no mês de maio foi a de Matosinhos, com um total de 66 horas e 27 minutos inoperacionais, 8,90% dos turnos. De seguida surge a VMER do Hospital de Vila Real, com 57 horas e 38 minutos “fora de serviço” e uma taxa de 7,70% de inoperacionalidade.
Beja e Santarém, com 4,10% e 3,70% de inoperacionalidade respetivamente, estão também acima da média de inoperacionalidade registada a nível nacional, o que acontece ainda com a VMER do Hospital Padre Américo, em Penafiel, com uma taxa de inoperacionalidade de 1,80%.
No resto do país, os problemas são efetivamente mais pontuais. As viaturas das Caldas da Rainha e Viseu estiveram paradas 11 horas cada uma, mas as restantes VMER tiveram falhas durante menos de 10 horas e 29 viaturas estiveram cinco horas ou menos inoperacionais no mês e maio. Há mesmo cinco viaturas com resposta plena, ou seja, nenhuma hora inoperacional em todo o mês: as VMER do Hospital de Santa Maria, Torres Vedras, Hospital de S. José, Hospital do Litoral Alentejano e Hospital de S. Francisco Xavier, em Lisboa.
Do total de 547 horas inoperacionais, revelam os dados fornecidos pelo INEM, quase 410 horas – a maioria – deveram-se, segundo a justificação dos hospitais, a falta de tripulação. O INEM indicou que este ano já foram realizados nove cursos VMER, frequentados por 105 médicos e 18 enfermeiros, estando calendarizados mais cinco até ao final do ano, mas não houve ainda um balanço do impacto da indisponibilidade das viaturas nas zonas mais afetadas. Também os hospitais da Guarda e da Covilhã, com os maiores níveis de inoperacionalidade, não explicaram em detalhe quais são as suas limitações e propostas para solução.
No ano passado, as 44 VMER estiveram paradas quase 7 mil horas, 5 mil por falta de tripulação, mas os indicadores dos primeiros meses de 2022, como o i noticiou, mostram um agravamento. Para uma comparação, em 2021, o Hospita da Guarda teve a maior taxa de operacionalidade do país, 11,48%, sendo que no último mês de maio caminhava para os 20%.
No Hospital Pêro da Covilhã, o ano terminou com uma inoperacionalidade de 11,46%. Na semana passada, o presidente do Conselho Regional do Centro da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, apontou ao i para uma inoperacionalidade de 30% neste hospital neste mês de junho, sendo que a unidade hospitalar ainda não fez um balanço.
O i questionou na semana passada o Ministério da Saúde sobre as assimetrias no país na operacionalidade de Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VMER), não tendo obtido resposta.