4 montanhas mágicas unidas numa grande aventura

Está oficialmente aberta a Grande Rota das Montanhas Mágicas. 275 km para percorrer a pé ou 279 km de bicicleta, atravessando as serras da Gralheira, Arada, Arestal e Montemuro. Ou para descobrir aos poucos. A inauguração foi sexta-feira, na aldeia de Felgueira, uma das muitas atravessadas por este tesouro que quer tornar-se conhecido além-fronteiras.

Chamaram-lhes Montanhas Mágicas e pode até nem haver magia a sério, mas há encanto de sobra nas paisagens, na resiliência de pequenas aldeias serranas e na gastronomia feita de criações e receitas que passaram de geração em geração. Tudo combinado dá lastro à nova marca turística do Centro, que ontem inaugurou oficialmente a sua grande rota de 275 km, um percurso circular que atravessa as serras da Freita, Arada, Arestal e Montemuro, e os vales dos rios Douro, Vouga, Paiva, Caima, Teixeira e Bestança. Portanto, ao mesmo tempo, uma aula de geografia a céu aberto, com muitos pontos de atração pelo meio, pronta para receber os primeiros aventureiros este verão: de vales e miradouros a cascatas, incluindo a mais alta queda de água de Portugal continental – Fecha da Mizarela – ou, se ainda não passou por lá, os já famosos Passadiços do Paiva e a 516 Arouca, uma das maiores pontes pedonais suspensas do mundo.

A inauguração da GR60 – Grande Rota Montanhas Mágicas (o nome de código a seguir nas tabuletas) foi esta sexta-feira na aldeia de Felgueira, concelho de Vale de Cambra, um dos sete municípios envolvidos no projeto encabeçado pela ADRIMAG – Associação de Desenvolvimento rural integrado das Serras do Montemuro, Arada e Gralheira. A secretária de Estado do Desenvolvimento Regional, Isabel Ferreira, no momento da abertura oficial dos trilhos, salientou a capacidade desta associação para pôr tantos passageiros a bordo do mesmo barco, que agora, além de encantar visitantes, se espera que traga valor à economia local.

João Carlos Pinho, coordenador do projeto, especialista em planeamento urbano e regional, recorda ao Nascer do SOL que o objetivo era ter aberto a rota há três anos, quando se candidataram ao Turismo de Portugal. «Quando o projeto foi aprovado, o objetivo era concluir a rota rapidamente. Pelo meio meteu-se a pandemia, como todos sabemos, e tivemos de adiar a implementação da rota e a própria abertura. Agora que o turismo está em retoma, decidimos avançar».

Nos últimos dias ainda esteve a ser instalada sinalética, foi lançado o site (montanhasmagicas.pt) e uma app para ajudar a planear o percurso, que se divide em 14 etapas. E os famosos ficheiros gpx ou tracks, que tantos praticantes de montanhismo pedem, para localização gps, também já estão disponíveis.

«Os troços foram todos limpos e foi concluída toda a componente informática de suporte para que os visitantes possam aceder a informação quando vierem fazer a rota na sua totalidade ou por etapas», explica João Carlos Pinho.

O mentor do projeto destaca as paisagens dos pontos mais altos do percurso e a travessia de diferentes rios como fatores únicos para uma ideia, hoje realidade, que desde o início foi apoiada pela Federação Portuguesa de Ciclismo e pela Federação Portuguesa de Montanhismo. «A perceção que tivemos foi que neste território se poderia criar algo de único em termos de rota com esta dimensão e características de relevo. Não existem muitas desta dimensão. Temos muito locais que são inacessíveis de carro e onde apenas se consegue chegar de bicicleta ou a pé».

Os pontos mais altos ficam na Serra da Freita, nos 1100 m, e na Serra de Montemuro, cerca de 1300 metros, de onde se têm as vistas mais amplas, mas as descobertas far-se-ão caminhando ou pedalando montanha dentro, cada um ao seu ritmo.

Natural de Vale de Cambra, João Carlos Pinho já conhecia os encantos da região, mas admite que ao longo da fase predatória da rota, que envolveu um investimento de 400 mil euros, até quem é dali foi tendo surpresas. «A Cascata do Poço do Linho, por exemplo, foi para nós uma surpresa. Foram os moradores da aldeia da Lomba que nos levaram ao local», recorda o responsável.

Este verão, outra das novidades é um passadiço instalado precisamente junto desta cascata, valorizando aquela que é uma das atrações da freguesia de Arões no concelho de Vale de Cambra. Para João Carlos Pinho, a expectativa é que os visitantes se deixem levar pela experiência de descoberta neste e nos outros municípios e que toda a região beneficie. «As pessoas estão entusiasmadas», partilha.

São dezenas de aldeias atravessadas, algumas já com poucos habitantes, outras a serem convertidas para alojamento rural.

É o caso de Trebilhadouro, nas encostas da Serra da Freita, desabitada durante quatro décadas e hoje com 29 quartos de turismo rural. Aqui, numa das muitas curiosidades desde grande passeio, poderá encontrar as gravuras de Trebilhadouro, desenhos misteriosos circulares na rocha que se pensa que terão 5 mil anos. E que só há 10 foram identificadas nos penedos próximos da aldeia.

 

Quatro serras para descobrir

Mas se vamos por atrações, a lista é vasta e multifacetada. Na Serra da Freita, que atravessa os municípios de Arouca, Vale de Cambra e São Pedro do Sul, poderá encontrar então a Cascata do Poço do Linho e a aldeia de Paraduça com a sua nova Casa da Broa, ligada aos moinhos recuperados em 2004, e que já estava integrada na Rota da Água e da Pedra.

As famosas pedras parideiras e o centro de interpretação do Arouca Geopark são também passagens incluídas na rota – e se gosta de pedras há ainda as ‘boroas’ de Junqueiro, outro geosítio do Arouca Geopark.

A Frecha da Mizarela e a aldeia de Lomba ficam também nestas encostas.

Na serra da Arada, território dos municípios de São Pedro do Sul e Arouca, destaque para o Monte de São Macário, ligado à lenda de Macário, eremita que ali teria vivido como penitência pela morte do pai.

As aldeias da Pena e de Drave são outros lugares mágicos pelo caminho.

Na serra do Montemuro, avançando pelos municípios de Castro Daire e Cinfães, destaque para a aldeia de Vale de Papas, a mais de mil metros de altitude, com as suas casas antigas de granito, onde se podem ainda avistar telhados de colmo. Nas aldeias da Gralheita, Campo Benfeito e Mezio, gastronomia e artesanato prometem dar as boas vindas aos visitantes.

Na serra do Arestal, tem por exemplo as cascatas da Cabreia ou da Fílveda.

Cada etapa (pode orienta-se com a tabela nas próximas páginas) termina em locais onde há opções de alojamento ou campismo no caso de alguns municípios, assegura João Carlos Pinho. «Dormir ao relento não aconselhamos muito», diz o responsável.

Por outro lado, quer pela limpeza regular dos caminhos com intervenção dos municípios, quer pela presença de visitantes, esperam contribuir para combater um dos flagelos anuais do verão: os incêndios florestais. Quanto aos visitantes, dos que vêm pelo próprio pé aos praticantes de modalidades desportivas, não haverá números oficiais porque não é obrigatório fazer check-in, mas dará para ter uma ideia. «Na semana passada já tivemos um grupo de 60 ciclistas da Bairrada», diz João Carlos Pinho. Para o ano, serão pelo menos meio milhar a aventurar-se pela rota: os sete municípios e a ADRIMAG fecharam um acordo para trazer para as Montanhas Mágicas, nos próximos três anos, uma das provas do Portugal Brasil Ride, que começou a ser promovida ontem.

 

Menos isolados

José Ferreira, residente na aldeia de Felgueira, em Vale de Cambra, onde ontem foi feita a inauguração oficial, confessa ao SOL que é um «momento histórico» pelo que pode trazer para a região.

Praticante de trail, que nestas serras move muitas associações, amadores e atletas federados, José sublinha que a Associação Desportiva e Cultural da Felgueira esteve desde o início envolvida no projeto e que é com entusiasmo que viram a aldeia ser escolhida para a cerimónia. «Além da prática desportiva, acreditamos que poderá ser uma mais-valia para os produtores locais, para a restauração e para o turismo», diz José, também ele produtor de raça arouquesa, um dos ex libris da região. Acredita que a região e sobretudo as aldeias ficarão menos isoladas e que a magia que dá nome à rota está na paisagem e nas pessoas que ali vivem e na cultura de um território que ganha outra cor no mapa do país. «É bom para a nossa aldeia, para a região e para Portugal».

Também ele se espera fazer ao caminho, mas para completar as 14 etapas seguidas é preciso planeamento e tempo. Podem ser feitas às partes e o percurso poderá ser iniciado em qualquer um dos pontos de entrada de etapa, com painéis informativos em cada início e final de troço. Nem todos serão fáceis, mas a magia, sabem os caminhantes, está também aí.

 

Onde ficar

Hotel S. Pedro

Mesmo no centro da vila de Arouca, é uma boa opção para início de viagem e um primeiro contacto com a montanha. – Av. Reinaldo Noronha, n.º 24,  Arouca, Arouca (Aveiro)

Quinta de Anterronde

Turismo rural numa casa de família do século XV, inserida numa exploração agrícola de kiwis e mirtilos. Tem piscina e nove quartos e um jardim romântico com camélias centenárias. – Quinta de Anterronde, Santa Eulália, Santa Eulália, Arouca (Aveiro)

Douro 41 Hotel&SPA

Na margem esquerda do Douro, o Douro 41 tem spa e uma marina com capacidade para 26 embarcações. No restaurante Raiva, a vista panorâmica enquadra o cruzamento entre a tradição e a inovação, pela mão do chefe Dárcio Henriques. Na dúvida, opte pelo menu degustação, com opção vegetariana. – EN 222, Km 41, Vista Alegre, Castelo de Paiva (Aveiro)

Retiro da Fraguinha

Se optar por campismo, este ‘retiro’ em plena montanha, entre as serras da Freita e da Arada, é uma das sugestões da rota Montanhas Mágicas. Além de espaço para tendas/rulotes, uma antiga casa florestal foi transformada em alojamento – Fraguinha, Coelheira, São Pedro do Sul (Viseu)

Campismo do Bioparque

No Bioparque de Cavalhais, é uma excelente opção para famílias, com um parque aquático com um escorrega descer da serra. – Pisão, Carvalhais, São Pedro do Sul (Viseu)

 

Onde comer

O Geraldo

Um clássico em Castelo de Paiva, com destaque para os obrigatórios vitela ou cabrito assado no forno. – Edifício Boavista, Rua Direita,  Castelo de Paiva (Aveiro)

Restaurante Dona Amélia

Comida tradicional, bem servida e no top do Tripadvisor pela qualidade da comida ou verde branco. Bolinhos de bacalhau de entrada e está feito. – Quinta do Outeiro, Casal, Bairros, Castelo de Paiva (Aveiro) 4550-039

Recanto dos Carvalhos

Esta pizzaria em plena serra de Montemuro promete deixar memória. O ambiente é rústico e a ementa não se ficou pelo básico: além dos pratos regionais, pode provar a pizza
à Gralheira ou a pizza Arouquesa, onde a vitela brilha de outra maneira. – Largo dos Carvalhos, 1,  Gralheira, Cinfães (Viseu)

Adega Típica da Pena 

Localizado na aldeia da Pena é outra das sugestões da rota Montanhas Mágicas. O restaurante familiar, com dois fornos de pedra, aprimora a vitela e o cabrito e serve também arroz de cabidela. A vitela à moda de Lafões, com mais de três horas de forno, é uma das atrações. – Aldeia da Pena, Cx 6,  Covas do Rio, São Pedro do Sul (Viseu)

Restaurante Típico do Mezio

Arroz de feijão com salpicão cozido, Cabritinho do Montemuro e Feijão com couve e carne fumada são as especialidades e certamente não é preciso dizer mais nada. Só aqui tem um bom motivo para se fazer à estrada. Paio divinal, lê-se nos comentários online – Largo Prof. Dolores de Jesus, Estrada Nacional 2,  Mezio, Castro Daire (Viseu)

Assembleia

No centro histórico de Arouca, o restaurante Assembleia Wine Bar, a completar dez anos, é mestre na harmonização de carnes arouquesas e na doçaria com castanha. – Travessa da Ribeira, nº5,  Arouca (Aveiro).