Estava para aqui a pensar no que vai no cérebro dos nossos mais altos dirigentes, e, ou já lhes deram dispensa, ou apenas descubro uma concavidade, mesmo, mesmo oca! É que Portugal tem andado numa aloucada agitação. Na última semana, tivemos o ministro Pedro Nuno Santos, um esquerdista (como se no PS houvesse disso), a anunciar finalmente uma solução para a localização do novo aeroporto de Lisboa.
A promessa seria cumprida, num país que não anda, definha, com as obras a avançarem já no ano que vem e a serem concluídas em 2035. O tempo recorde (se é que se pode chamar tal coisa a um prazo de 13 anos) cheirou logo a esturro, mas isso até seria coisa pouca. Todos sabem que o ministro ensaia há muito o seu futuro e que as palavras na política são dotadas de enfeitiçamento.
A decisão, de Nuno Santos, embora sem avaliação ambiental estratégica e de custo desconhecido, não carecia de dúvidas. O seu despacho estava publicado em Diário da República. Abre-se a polémica. Que lá de polémicas Portugal é rico. Os autarcas mostram o seu regozijo, os especialistas digladiam-se sobre a bondade da decisão, o Presidente, Marcelo Rebelo de Sousa diz nada saber, e a oposição, a quem não fora dado cavaco, opõe-se.
E depois de tanto parlapié, que nisso também somos fortes, no dia seguinte, o país pasma. Não é que o primeiro-ministro deste “país relativo” (como dizia O’Neill), de quem se espera total omnipresença, estava também na ignorância e deita ao lixo a decisão do homem com a pasta das Insfraestruturas. Esperava-se a demissão do ministro. Costa é irascível! E mesmo que não fosse!
Como se não passasse de um pequerrucho que roubou a compota da despensa, o irrequieto Pedro foi chamado ao quartinho escuro de São Bento, jurou não repetir a manha, o chefe António Costa avisou-o de que se reincidisse não haveria mais doces no prato e tudo ficou igual. Como também costuma acontecer neste cantinho. E há alguém que acredite nisto?
E quando será que a ministra da Saúde também é chamada ao quartinho escuro? As ações humanas são burlescas por vezes, provocam tristeza ou riso. Mas o que está a acontecer no SNS ultrapassa tudo e roça o criminoso. Por todo o país, as urgências fecham à vez. Não há médicos. Há uns anos largos, entrei numa morgue em Angola. Às câmaras mortuárias não chegava energia e os corpos, empilhados, por ali apodreciam. Será que por aqui vamos assistir a algo do género?
As maternidades padecem de mal igual. As grávidas, abandonadas, não sabem onde parir. É à sorte. Talvez, como noutros tempos, em pleno campo, na rua, onde calhar. E o Presidente da República, como resposta à calamidade, num frenesim de fim de ciclo, anda numa dança de beijocas de ventre a mulheres à espera que lhes rebentem as águas.
A súbita afinidade de Marcelo com a luta pela igualdade de género também ganhou a dimensão de ópera-bufa e ficará na história da palermice. Para o Presidente, como o próprio afirmou na passada semana, só “haverá verdadeiramente igualdade entre homens e mulheres quando [nas Forças Armadas] chegar aos mais altos postos uma mulher tão incompetente como chega, em vários casos, aos mais altos postos, um homem.” Como Marcelo é recadeiro, alguém trará na mira.
Enquanto o país anda neste vaganau, com o Presidente, ao jeito de penetra, a esperar no Brasil um convite de Bolsonaro para uma festa que não chehou a haver, deixo aqui um conselho às mulheres que, neste momento, não sabem como e onde irá ser o seu parto. Se o almirante Gouveia e Melo venceu a guerra da vacinação, bem que se poderia tornar no santo padroeiro das parturientes. Diz-se que os milagres se multiplicam! Por isso, minhas senhoras, ao Alfeite, antes que as dores apertem!