5 de Julho de 1967. Engavetaram o Manuel da Fruta!

Afirmou Mendes que apanhou José a roubar caixotes de fruta do armazém de onde já há uns tempos lhe desapareciam coisas. Afirmou, igualmente, Mendes, que perseguiu o indivíduo, acabando por agarrá-lo mas que foi, de imediato, ameaçado com uma faca. Afirmou, finalmente, Mendes que pegou num pau e desancou José até à morte.

Primeiro foi o cadáver. Coisa sempre incomodativa. José Cardoso foi encontrado morto, à paulada, junto ao mercado de Olival de Basto. Um constrangimento. Um ferro!, diria o divino Eça. Então mas agora matava-se gente à paulada nos tranquilos subúrbios semi-campestre da velha Lisboa? Sabe-se que é em zonas como estas que, por dá cá aquela palha, se fomentam ódios incompreensíveis, shakespereanos. Mas ainda assim… Com mais de setenta anos, José fora bastante mal-tratado. Os peritos do Instituto de Medicina Legal escreveram no relatório: “Além de fracturas no antebraço esquerdo e no maxilar inferior, o corpo apresenta lesões traumáticas do encéfalo que determinaram a morte, denunciando a hipótese homicida”. O homem levara um carga de lenha das antigas. E saíra dela completamente morto.

Estabeleceu-se, poucos dias depois, um suspeito: Manuel Nunes Mendes, conhecido por Manuel da Fruta, vendedor ambulante, casado, 42 anos, natural de Alvaiázere, São Pedro Rego da Marta. A investigação foi apurada e os indícios começaram a acumular-se, todos eles apontando com clareza para o Manuel da Fruta que não tardou a ser apanhado pelas malhas da justiça. Ficou, como se costuma dizer, engavetado à espera de julgamento para alívio da população em geral de Olival de Basto.

Afirmou Mendes que, ao dirigir-se como habitualmente para o mercado de Olival de Basto, ouviu ruídos anormais junto do depósito de fruta para  onde conduzira a sua camioneta. Afirmou, igualmente, Mendes, que, ao dirigir-se às traseiras do edifício deparou com um indivíduo que carregava quatro caixotes de fruta. Continuou a afirmar Mendes que deu ordem ao indivíduo para largar o material que estava a furtar e que, tendo este iniciado a fuga, partiu em sua perseguição soltando gritos de alarme. Afirmou ainda Mendes  que conseguiu apanhar o fugitivo e que se lançou sobre ele, segurando-o, e impedindo-o que fugisse com o material que lhe pertencia e que de há muito desconfiava que andava a ser roubado. Afirmou Mendes que o indivíduo, para ele desconhecido, o ameaçou, então, com uma navalha, pelo que sentiu a sua vida em risco. Concluiu Mendes as suas afirmações que, por via de recear pela sua vida, agarrou num pau que estava ali perto e que agrediu com ele o indivíduo até que este deixasse de ser uma ameaça. Perante a confissão, ficou detido. Caberia a um juiz decidir o futuro do Manuel da Fruta.