por Alexandre Faria
Escritor, advogado e presidente do Estoril Praia
Se a guerra na Ucrânia já nos tinha dado um vislumbre, o alargamento da NATO à Finlândia e Suécia veio confirmar em definitivo algo que se perspetivava há algum tempo. Estamos a entrar numa nova ordem mundial e esta circunstância irá exigir um posicionamento estratégico firme, rigoroso e inequívoco, dos mais diversos países. Nesta fase, Portugal não pode perder as suas maiores vantagens, históricas e culturais, sob pena de desperdiçar aquela que poderá ser, provavelmente, a sua maior oportunidade em quase 900 anos de existência.
Durante os últimos anos, condicionados pela imposição europeia e pelos interesses económicos dominantes de outros, negligenciámos os maiores legados portugueses, assentes na língua, na vocação oceânica e nas ligações privilegiadas e únicas com África, a par das restantes nações que integram a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Como este tema, só por si, merece uma reflexão mais profunda, será desenvolvido posteriormente.
Na verdade, com custos quase irreparáveis, optámos por apostar tudo numa Europa que demonstra neste momento as suas sérias fragilidades estruturais face ao conflito armado que enfrentamos. E perdemos demasiado tempo à procura de um equilíbrio que se tem vindo a revelar tímido, inconsequente e incoerente nas opções tomadas, hesitante entre a nossa história e uma aproximação continental por razões exclusivamente relacionadas com a atribuição de fundos comunitários.
Apesar dos erros conceptuais, continuamos, mesmo assim, a ser bafejados por uma sorte inexplicável. Nesta nova ordem mundial, o nosso país, beneficiando da imprescindível segurança pública e da estabilidade governativa, terá a chance de assumir uma predominância geoestratégica que apenas a si pertence, onde todos nos deveremos empenhar para que esta ocasião, irrepetível, não se perca.
Perante a notória vulnerabilidade energética da Europa, as águas profundas do porto de Sines reúnem as melhores condições para se assumirem como uma decisiva plataforma de abastecimento de energia ao velho continente. Para além disso, somos o Estado europeu com maior exposição solar, garantindo não apenas a forte aposta no setor do turismo, como a criação de maiores redes de produção de energias alternativas, às quais se podem adicionar ambiciosas soluções eólicas e hídricas.
Nesta perspetiva, a extensão da plataforma continental portuguesa assume uma primordial importância, duplicando a área de atuação e acrescentando à economia nacional um enorme potencial de riqueza em recursos minerais, uma capacidade científica, tecnológica e de conhecimento nas ciências do mar, desenvolvendo uma capacidade operacional no acesso ao mar profundo, prevenindo a erosão costeira e retendo talentos mediante um empenhado investimento tanto no desenvolvimento científico, como nos projetos de investigação a nível internacional.
Como bem ficou demonstrado nesta Conferência dos Oceanos das Nações Unidas que se realizou em Lisboa, chegou a hora de falar menos e de atuar mais. E de Portugal, de uma vez por todas, aproveitar as oportunidades que dispõe.