Há cerca de nove mil portugueses com mais de 90 anos que ainda conduzem

Segundo os dados do IMT, em Portugal, com título de condução válido com mais de 90 anos, há 765 mulheres e 8.289 homens. Uns por gosto, outros por necessidade…No mês passado, Candida Uderzo, uma italiana com 100 anos, surpreendeu o mundo ao renovar a sua carta de condução.

Em bebés brincamos com carrinhos miniatura. Em criança há quem receba e se deslumbre com carrinhos telecomandados ou mesmo por aqueles maiores a bateria, alimentando o imaginário daquilo que será conduzir. Quando a adolescência se aproxima e com ela o desejo de independência, uma das primeiras coisas que nos vem ao pensamento é tirar a carta, comprar um carro e “percorrer o mundo”. Mas e quando passam os anos? Como é que o envelhecimento acaba por interferir na condução? Em que idade se perde as competências para fazê-lo e de que forma se lida com isso? No mês passado, o mundo ficou a conhecer a história de Candida Uderzo, uma italiana centenária com carta de condução renovada. A idosa teve a sua carta de condução renovada aos 100 anos de idade, tornando-se, segundo o The Guardian, “pelo menos a terceira centenária do país, nos últimos anos, considerada apta para se sentar ao volante”. De acordo com o jornal britânico, a italiana recebeu uma nova carta de condução após passar no exame oftalmológico numa escola de condução na província de Vicenza, no norte de Itália.

Interrogada pelo Corriere della Sera, sobre o porquê de com essa idade continuar a querer conduzir, Candida revelou que gosta de ter “autonomia” e de “não ter de depender do seu filho para se deslocar a qualquer lado”. Além disso, a centenária avançou que a sua visão “é tão boa que consegue ler o jornal sem precisar de óculos”: “Estou feliz com esta renovação e também me fará sentir um pouco mais livre”, avançou Uderzo ao jornal italiano. “Tenho sorte, tenho 100 anos de idade, e ser tão saudável é uma surpresa para mim também!”, contou. Segundo a mesma, o segredo para a vitalidade passa por saber “desfrutar da vida”. Depois de ter ficado viúva aos 52 anos, foi no exercício físico que “encontrou uma forma de manter o seu corpo e mente jovens”. As longas caminhadas com amigos ajudaram-na a “lidar com a dor” e, depois de se reformar, juntou-se a um grupo de caminhadas, não perdendo um único passeio desde então. “Todos os domingos às seis da manhã estou pronta para ir”, adiantou. Além de Candida, no ano passado, um homem na Sicília que fez 100 anos também celebrou a renovação da sua carta de condução ao comprar um carro novo, dizendo, na altura, à imprensa local, que “nunca tinha tido um acidente na sua vida”. A verdade é que, atualmente, os idosos conduzem com mais frequência e até uma idade mais tardia e, normalmente, para um idoso a decisão de deixar de fazê-lo pode ser um tema bastante delicado. Em Portugal, por exemplo, com o título de condução válido com mais de 90 anos, existem 765 mulheres e 8 289 homens. Gustavo é um deles, e aos 95 anos diz que se sente mais do que apto para conduzir. “Era o que faltava não me deixarem conduzir. Faço toda a minha via normal e não perdi as faculdades de conduzir”.

 

A lei portuguesa

Segundo o Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT), em Portugal, legalmente, não existe uma idade limite para se deixar de conduzir. De acordo com os dados fornecidos pelo instituto, em 2021 e 2022 até dia 28 de junho foram 1 179 571 os pedidos de revalidação – 136 345 de pessoas com mais de 80 anos. A revalidação da carta de condução dos condutores do Grupo 1 (cat. AM, A1, A2, A, B1, B, BE e T) que tenham idade igual ou superior a 60 anos “está condicionada à apresentação de atestado médico que comprove as condições mínimas de aptidão física e mental”. “Os condutores com idade igual ou superior a 70 anos que pretendam revalidar a sua carta de condução devem apresentar ao médico que os avaliar o relatório do seu médico assistente no qual conste informação sobre os seus antecedentes (com indicação de eventuais doenças cardiovasculares e neurológicas, diabetes e perturbações do foro psiquiátrico)”, elucidou o IMT, acrescentando que “quanto à revalidação da carta de condução dos condutores do Grupo 2 (cat. C1, C1E, C, CE, D1, D1E, D, DE e B e BE com o averbamento da 997), que tenham idade igual ou superior a 50 anos para além do atestado médico estão também obrigados a apresentar certificado de avaliação psicológica”.

No que toca ao número total de condutores com mais de 80 anos, por idade e género (dados de 01/06/2022), são 26 862 as mulheres que com mais de 80 anos conduzem e 138 262 os homens, ou seja, 165 124 pessoas. No ano passado, no entanto, o número era mais baixo: 160 608. Isto, tendo em conta, explica o IMT, que a partir do ano 2021, “a licença de condução de veículos agrícolas foi extinta e a habilitação na categoria de veículos agrícolas transitou para a carta de condução, o que poderá impactar no aumento de número de títulos de condução ativos”. “Na medida em que a maioria dos condutores de tratores agrícolas são condutores mais idosos”, sublinhou o instituto. Além disso, o IMT fez questão de frisar que o gráfico correspondente ao número de condutores por faixa etária, “diz respeito ao número de condutores independentemente da categoria a que se encontram habilitados, ou seja, abrange condutores das categorias”. “Os menores que se encontram contabilizados podem conduzir ciclomotores de duas rodas caracterizados por um motor de combustão interna de cilindrada não superior a 50 cm3, com velocidade máxima em patamar e por construção não superior a 45 km/h, ou cuja potência nominal máxima contínua não seja superior a 4 kW, se o motor for elétrico e frequentem com aproveitamento ação especial de formação ministrada por entidade autorizada para o efeito pelo IMT”, esclareceu o organismo, acrescentando que os de 16 anos podem conduzir “veículos de duas ou três rodas e quadriciclos ligeiros”.

 

O risco de acidentes rodoviários

Apesar destes altos números, segundo o Lares Online (plataforma informativa especializada em consultoria de equipamentos e serviços de cuidados para idosos), “o risco de acidente rodoviário aumenta em condutores com mais de 75 anos ou idosos que só conduzem esporadicamente”. E, apesar de não existir uma base científica que permita afirmar que os condutores com mais idade são aqueles que têm maior propensão para causar acidentes rodoviários, de acordo com a plataforma, “são cada vez mais frequentes as notícias de sinistros que envolvem idosos”. Em dezembro do ano passado, por exemplo, um homem de 79 anos percorreu dez quilómetros em contramão na A1 porque se tinha enganado no caminho. Há três semanas, um veículo ligeiro onde seguia um casal de idosos com cerca de 70 anos despistou-se e capotou na autoestrada A1, na zona de Estarreja, no distrito de Aveiro. O homem que seguia ao volante da viatura ficou encarcerado e não resistiu aos ferimentos, acabando por falecer, tendo o óbito sido declarado no local. A esposa, por sua vez, foi levada para o hospital em estado grave. Segundo a plataforma, a maioria dos acidentes com condutores idosos acontece “a baixas velocidades, em cruzamentos ou em caso de alteração de sentido”. Porquê? Devido à diminuição, com o passar dos anos, das “nossas capacidades físicas, funcionais e cognitivas”. E, quando assim o é, o cenário “deixa de ser seguro, tanto para os próprios idosos, como para outros condutores e peões”, lê-se no Lares Online. Por essa razão, a legislação portuguesa prevê que a carta de condução seja revalidada à medida que o condutor vai envelhecendo. Segundo o IMT, até aos 60 anos esta tem que ser revalidada de 15 em 15 anos, depois dessa idade – momento em que a pessoa já é considerada idosa (classificação da Organização Mundial de Saúde) – passa a ter que fazer a revalidação aos 65 anos, aos 70 anos e, a partir dessa idade, de dois em dois anos.

 

A complexidade da sinalização

Júlio Nunes, de 81 anos, natural de Sines, passou a sua infância no campo, com os pais e os quatro irmãos. Aos 7 anos já ajudava o pai nos trabalhos da lavoura e construía os seus próprios brinquedos, utilizando os mais diversos materiais. Contudo, só começou a conduzir no ano 1972 e nunca tinha pegado num carro antes disso. “Ao contrário de muita gente da minha idade, que costumava pegar no carro logo em novo com ajuda do pai, a primeira vez que peguei num foi mesmo numa escola de condução, com um instrutor!”, contou o artesão ao i, orgulhoso. Nessa altura a única coisa que tinha conduzido tinha sido uma bicicleta a pedal, mas desde muito jovem que queria tirar a carta. “Sempre quis tirar a carta, mas naquela altura, as condições não permitiam. Ganhava-se muito pouco! Assim que eu me vi com a possibilidade, quando juntei um dinheirinho, foi a primeira coisa que fiz. Passei logo!”, lembrou, reforçando que era uma coisa que queria tanto que “não teve problemas nenhuns em aprender”. “Sentia-me muito bem ao volante. Era uma forma de independência. Lembro-me de uma vez em que o meu instrutor foi dar uma volta de carro comigo e saiu do carro… Disse-me depois para arrancar sozinho, dar a volta e regressar. Tinha tido poucas aulas, andava sempre com ele… Mas eu fui e vim! Não é que me sentisse plenamente seguro, mas foi uma boa sensação. Desde aí, nunca parei”, afirmou. O seu primeiro carro foi um Fiat 600 D que comprou por 18 contos: “Era o único dinheiro que tinha, fiquei mesmo sem nada”, revelou. A maior parte das grandes viagens era para levar a sua filha, que é música, aos concertos. “Sempre a acompanhei e, por isso, ao longo da vida ainda fiz muitos quilómetros”, explicou. Em todos estes anos, Júlio não teve um único acidente, segundo o mesmo, por “ser muito cuidadoso”. Interrogado sobre as diferenças que sente com o passar do tempo, Júlio conta que só começou a senti-las no ano passado: “Ando mais devagarinho e tenho muito mais cuidado, por causa dos reflexos. Eu às vezes não consigo reagir logo, por isso preciso de ter mais calma. Temos de estar atentos à visão, à audição e, nesta idade, principalmente não confiar nos outros”, alertou, lamentando que “isto hoje já não é como era antigamente”. “Parece que as pessoas já não querem saber das regras da estrada… Então em cidades pequenas com piscas… É muito perigoso. Não colocam, não sabemos para onde vão virar. Como os meus reflexos já não são os mesmos, tenho de ter mais cuidado nesse tipo de situação, por exemplo. Eu não entro nos cruzamentos e rotundas sem os carros passarem primeiro”, admitiu. Além disso, para si, hoje em dia “há tanto sinal diferente de quando tirou a carta que a maior parte deles nem sequer os vê”. “Não reparo neles. É uma coisa muito automática”, lamenta. Se antes gostava, agora, conduzir chega mesmo a aborrecê-lo! “Até evito! Estou mais em casa. Antes ia passear, ver família, praia… Agora vou às compras. Já não tenho aquele vício de estar sempre a pegar no carro”, afirmou. Contudo, deseja ter essa possibilidade durante mais anos. “Enquanto me deixarem, enquanto os exames forem deixando”, suspirou.

 

O gosto pela condução

Osvaldo Godinho, de Vila Nova de Santo André, de 85 anos, começou a conduzir em 1959 e, ao contrário de Júlio, aprendeu em casa com os seus familiares. Depois de ter as técnicas aprimoradas e ser maior de idade, propôs-se a exame e passou. “Tirei a carta com 19 anos, mas já conduzia muito! Nessa altura era normal isso acontecer! Roubava o carro do meu pai à noite e ia dar umas voltas. Era para fazer ‘banga’, como se dizia na altura. Para dar charme!”, brincou com o i. Para si, “era uma maravilha”: “Aproveitava todos os minutinhos para dar uma voltinha. E depois as boleias… Dava boleias a toda a gente! O amigo, a amiga… Sozinho não me dava tanto prazer. Gostava de fazê-lo com companhia”, explicou. Interrogado sobre o seu primeiro carro, numa tímida gargalhada, Osvaldo relembrou que o teve em 1961. “Eu era oficial da zona de guerra e nós ganhávamos mais ou menos bem. Tinha dinheirinho. Quando passei para Luanda, havia aquele êxodo, muita gente a ir embora… Vi um DKW amarelo e bege (nunca mais me esqueço) e comprei. A pronto pagamento! Foi o meu primeiro carro. Era um carro jeitosinho, andava depressa. Depois comecei a entrar em gincanas e ralis. Gostava muito de adrenalina”, contou o agora escritor. Antes de ficar viúvo, também gostava de fazer grandes viagens. “Gostava muito de passear. Quando a minha mulher era viva, saíamos daqui e dizíamos que logo voltávamos… Sem destino, sem rumo… Adorava. Agora sozinho isso já não acontece com regularidade. É diferente!”, lamentou. Apesar de ver passar os anos, Osvaldo acredita que a sua relação com a condução não foi mudando. “Sempre guiei com muito cuidado e muita atenção. Talvez tenha melhorado com a experiência, na verdade. Não sinto quaisquer falhas. Talvez na reação… Não tenho a que tinha! Mas na visão não sinto diferença nenhuma. Uso óculos!”, defendeu. Foi nas estradas que sentiu uma maior diferença. “Nas estradas mudou muito, claro! Eram estradas de terra batida, que mudaram para asfalto. Senti, claro, uma diferença muito grande! Em África eram só buracos! Areia, barro… No tempo da chuva era muito complicado! A gente para fazer 100 quilómetros, demorávamos para aí umas três horas”, elucidou. Tal como Júlio, o escritor pretende conduzir por mais anos. “Sinto-me apto para isso! Continuo a gostar de conduzir como gostava! Eu deliro! Sempre que tenho oportunidade, pego sempre o carro! Quero continuar a ser independente”, reforçou.

 

Uma questão de necessidade

Camila, natural de Grândola, atualmente com 85 anos, tal como Osvaldo, começou a conduzir “menor de idade”, revelou em risos ao i. Teve de esperar a maioridade para fazer o exame de condução e, quando chegou o momento, “tinha estudado o código, aprendido a conduzir e só faltava o exame”. “Tirei a carta ainda não tinha 19 anos”, sublinhou. Quando começou a conduzir, diz que se sentia muito bem, por ser uma forma de autonomia Contudo, “como não tinha dinheiro para um carro, tirei a carta de condução e comprei uma bicicleta”, afirmou em tom de gargalhada. Camila era professora e ia para a escola de bicicleta naqueles dias em que se atrasava. “Era na aldeia do Futuro, aqui ao lado de Grândola. Era fácil! Mas quando passei para uma escola que era a seis quilómetros e depois uma a 13, já me custava muito. Tive de comprar um carrinho numa oficina, daquelas oficinas de pessoas conhecidas de família… Um Volkswagen muito antigo que hoje valeria um dinheirão!”, lembrou. “O que é que lhe fiz? O rapaz que me arranjava o carro, dizia sempre: ‘Quando pensar em vender esse carro, lembre-se de mim Dona Camila! Eu gosto tanto dele’. Tinha 20 e poucos anos. Depois casei, já não precisava dele e então o meu marido teve a ideia de oferecermos o carro ao rapaz. Ficou radiante. Depois arranjou e foi com ele para corridas, desfiles de carros antigos, etc.”.

Segundo a mesma, habituou-se rapidamente a estar ao volante e, como o seu marido era “adepto de trocar de carro com alguma regularidade”, ao longo da vida, a professora reformada conduziu inúmeros, “todos muito diferentes uns dos outros”. “Tinha de me habituar!”, frisou. Nessa altura gostava de conduzir… “Agora, não conduzo por gostar ou desgostar. Conduzo porque é necessário. As coisas são todas longe da minha casa… Quando o meu marido morreu, vendi o carrão que ele tinha (era muito grande para mim) e comprei um daqueles pequeninos, muito jeitosos, que andam por aí. As coisas de que eu preciso são longe da minha casa, suficientemente longe para eu me cansar! Se eu for no meu carro, vou confortavelmente instalada e não me canso, já que todos os meus gestos são mecânicos”, explicou, reforçando que “é raro o dia em que não conduza. “Aliás, recentemente fiquei doente (fui operada a um cancro) e continuei a conduzir para todo o lado. O carro dá-me muita independência. Para Évora, para o Hospital do Litoral Alentejano, para pegar compras…”. Relativamente ao que mudou, Camila admite que só a vontade e a obrigatoriedade de ter de conduzir sempre de óculos. “São feitos de propósito para isso. São para ver melhor ao longe”, contou.

Interrogada sobre se, quando passou o exame de condução e comprou o seu primeiro carro, sentiu discriminação por ser mulher, a professora admitiu que não: “Quando tirei a carta não havia preconceito relativamente às mulheres ao volante. Havia dificuldades económicas e comentavam mais as raparigas que andavam de bicicleta. Até porque na nossa terra, quando eu andava na escola primária, havia uma senhora muito rica, que era a única senhora em Grândola que tinha carta de condução e guiava. Toda a gente a admirava. Era muito generosa. Ajudava muita gente, porque ganhou uma grande herança”, elucidou. Mas quando comprou a bicicleta, sentiu sempre muitos olhares: “Quando saía da escola, havia quem se risse, ou dissesse alguma coisa. Precisei de pedir à minha mãe que me fizesse umas calças. As saias levantavam e ela fez-me um par de calças. Era a única na vila de bicicleta e um par de calças. Nunca mais deixei as calças”, lembrou entre risos.

Apesar dos idosos, normalmente, conduzirem com mais cuidado, segundo o Lar Online, “a probabilidade de terem um acidente é maior por cada quilómetro percorrido”. Porquê? Já que são um grupo de risco por serem “mais propensos a sofrer de doenças que podem influenciar a capacidade de conduzir”, tais como problemas cardíacos e pulmonares, diabetes, demência (incluindo Alzheimer), Parkinson ou artrite. Além disso, muitos deles tomam medicamentos que “podem ter efeitos secundários que prejudicam a condução, como sonolência, tonturas, tremores e confusão mental”. “Em média, um condutor toma 12 decisões por minuto, e a circulação em ambiente rodoviário requer a avaliação de situações complexas e tomadas de decisão que sejam executadas com rapidez e adequação”, lê-se na plataforma. De acordo com o Lar Online, enquanto os jovens que estão ao volante, têm mais acidentes “causados por condução sob o efeito do álcool, excesso de velocidade ou ultrapassagens perigosas”, grande parte dos acidentes com idosos “são as baixas velocidades e devem-se às mudanças que ocorrem nas suas capacidades funcionais, que condicionam uma mobilidade segura”.

Tanto Júlio, como Osvaldo e Camila, sentem-se aptos para conduzir e voltarão a renovar a carta de condução se os exames assim o permitirem.