Há quem defenda que os romanos lhe chamavam Salatus, mas a teoria mais próxima sobre a antiga graça deste rio indica que se chamaria, até meados do século XVIII, Sádão. Esta é, aliás, uma forma que se mantém viva no nome de várias localidades em torno do rio que banha a costa Sul da península de Setúbal, sejam elas ‘São Romão do Sádão (Alcácer do Sal), Santa Margarida do Sádão (Ferreira do Alentejo) e São Mamede do Sádão (Grândola).
Hoje em dia, Sado. O rio cuja extensão de 180 quilómetros banha várias localidades desde o coração do Alentejo até à cidade de Setúbal, e que é dos poucos em Portugal que corre de sul para norte. É um rio rebelde, portanto, diferente e especial. E a prova disso vai para além da orientação em que correm as suas águas. É que há determinadas atividades que são específicas a este rio.
Entenda-se, claro, os passeios com golfinhos que são tão icónicos de quem se aventura nas águas deste rio cujo estuário se separa do oceano Atlântico pela península de Tróia.
Se é fã destes animais aquáticos, o Sado é o local ideal para passar uma tarde de verão, pois são vários os golfinhos – Roazes-Corvineiros (Tursiops truncatus) – que chamam casa a este rio, apesar da maior presença do Homem que se tem feito sentir neste estuários nos últimos anos.
Por lá, pode visitar-se «a simpática comunidade residente na foz do rio, de cerca de três dezenas de animais, uma das três únicas colónias residentes em estuários em toda a Europa», conforme a define a SadoArrábida, uma empresa de animação turística da região, no seu website.
As viagens – pelo menos nesta empresa – duram cerca de duas horas, com embarque e desembarque em Setúbal e em Troia, e o preço varia entre os 30 e os 40 euros por adulto.
Mas são várias as empresas que fornecem este serviço, portanto o visitante tem muito por onde escolher. A Dolphin Bay, por exemplo, explicou ao Nascer do SOL que a procura por parte dos visitantes por este tipo de atividade tem aumentado. «A nossa empresa é recente (2019) e com dois anos de Covid não conseguimos perceber com base em anos anteriores. De qualquer forma este ano tem sido de muita procura», revela fonte da empresa, que garante que os passeios de barco e a maior presença humana no habitat dos golfinhos não representa um problema. «Existem regras para a observação de golfinhos, se as cumprirmos não há qualquer problema. É importante respeitá-los e mais importante ainda é ter a bordo biólogos marinhos que percebam, através dos comportamentos dos animais, se estão em stress ou não e abortar a observação sempre que haja algum comportamento de stress e perceber por que que aconteceu», explicou.
As águas do Sado não são povoadas, ainda assim, exclusivamente por barcos dedicados à observação de golfinhos. O ‘Maravilha do Sado’ é uma embarcação de 1950 que, em 2014, foi restaurada pela autarquia. Percorre agora as águas do rio em viagens pedagógicas, mais especificamente em dois projetos, conforme explicou ao Nascer do SOL fonte do Município de Setúbal. Trata-se do Projeto Educar no Mar, dirigido «às escolas do primeiro ciclo, com o apoio da empresa Ocean Alive, com visitas pedagógicas de 1 hora, apoiados pelos professores das turmas, uma bióloga e uma pescadora»; e do projeto Escola ao Vivo, dirigida «aos restantes níveis de ensino, em que os professores de biologia, ciências, geografia e outras disciplinas podem dar uma aula no Maravilha do Sado, tendo como pano de fundo o Rio Sado, o Estuário do Sado e o Parque Natural da Arrábida».
«Todos os projetos têm uma adesão enorme e crescente de ano para ano, com mais de 4.000 alunos envolvidos em cada ano», revela fonte da autarquia, explicando que «os projetos pararam em março de 2022, pois o Maravilha teve uma avaria no motor e encontra-se em reparação», e que vão reiniciar em outubro de 2022, já no novo ano escolar.
Cultura
Mas nem só de viagens de observação de golfinhos é composto o leque de atividades que os visitantes do estuário do Sado têm a seu dispor. Em terra, são várias as opções, destacando-se o renovado Museu de Setúbal/Convento de Jesus, que merece uma visita de quem se desloca até Setúbal para expandir os seus horizontes.
Este monumento nacional fundado no final do século XV – que foi o local onde se realizou a ratificação da assinatura do Tratado de Tordesilhas, em 1494 – é considerado o mais importante monumento setubalense, tendo reaberto portas em outubro do ano passado, após longas obras de restauro e conservação.
Os vários espaços, como a Sala do Capítulo, os claustros e a Sala do Coro Alto estão então abertos aos curiosos visitantes, bem como a Igreja de Jesus de estilo manuelino. «Constatou-se um número relativamente reduzido de visitantes no mês de janeiro de 2021, explicado pelo contexto pandémico, mas também pelo encerramento do equipamento», contou ao Nascer do SOL Mónica Duarte, Chefe da Divisão de Cultura da CMS de Setúbal.
Em contrapartida, «a partir de abril os visitantes mais que duplicaram em relação a janeiro, situação que voltou a acontecer de abril a maio, com respetivamente 1425 e 3274 visitantes. A partir de maio os valores (com exceção de junho que se aproxima muito do de maio) aumentaram, com especial destaque para agosto (o valor mais alto, 6751), sendo que em novembro e dezembro houve um decréscimo para valores abaixo dos 3000», continuou.
«A procura do público tem-se mantido bastante positiva, com a estatística dos últimos meses contabilizando totais acima dos 4000 (maio chegou aos 4835) e é provável que nos meses de julho e agosto (com o normal incremento turístico do Verão) esses valores sejam ultrapassados».
Também é notório o aumento da procura de visitas guiadas por uma grande variedade de grupos (não apenas escolares), revelou ainda a responsável, que considera que as condicionantes impostas pelo combate à pandemia da covid-19 «não impediram o Museu de receber e interagir com aqueles que o procuraram nem impediram que a procura pelo equipamento aumentasse».
O Museu está fechado à segunda-feira, e a entrada tem um custo de 2 euros por adulto – sendo grátis para menores de 12 anos e maiores de 65 anos.
Mas as opções culturais no município de Setúbal não ficam por aí. O Museu do Trabalho, a Casa Bocage e a Casa do Corpo Santo/Museu do Barroco são algumas.
Se a opção é passear ao ar livre, no entanto, é no Jardim Multissensorial das Energias que se encontra uma das propostas mais apelativas. Em pleno centro da cidade de Setúbal, pode caminhar por entre a vegetação e as estações que compõem este jardim dedicado às energias renováveis, com equipamentos pedagógicos que dão a conhecer o setor de uma forma interativa. Trata-se de um espaço ideal para passar o fim do dia, apreciando a vista sobre o rio Sado e a Serra da Arrábida. O Jardim – localizado nas Escarpas de Santo Nicolau – está aberto das 8h às 20h.
O mar e a Serra
O Sado é um espaço único só por si, com as águas cristalinas que refletem o céu que brilha nos meses de verão. Mas o Sado não seria o Sado se não estivesse rodeado da majestosa Serra da Arrábida. A jusante, para lá de Setúbal, esta maravilha natural chama todos os anos milhares e milhares de visitantes, que encontram na Serra uma panóplia de atividades. A mais óbvia prende-se com um belo dia de praia num dos seus muitos areais, o mais conhecido deles o da Praia do Portinho da Arrábida, de frente com a pequena mas pitoresca ilha da Anixa. De acesso condicionado, a Figueirinha, com o seu banco de areia quando baixa a maré e águas que deixam ver cardumes, é outro tesouro.
Lá perto, para aqueles que preferem um pouco de cultura e história a passar o dia deitados na areia, também há fartura: a Estação Arqueológica do Creiro guarda em si segredos centenários sobre esta localidade. Uma «paragem obrigatória» entre o estacionamento e a praia, como a definem alguns visitantes. «O edifício das fábricas de salga de peixe foi construído no século I d.C e no final do século sofreu obras de remodelação, que fizeram aumentar o número de tanques existentes. Era nestes tanques de salga que o peixe sobretudo sardinha e cavala macerava em sal, ficando conservado por um largo período», conta o website da Associação da Baía de Setúbal.
Comes e bebes
Não há viagem sem comes e bebes. Não existe, fica incompleta, é como se não tivéssemos ido. E no Sado, dos caracóis ao vinho, dos chocos ao mel da Arrábida, quem é bom garfo encontra um porto de abrigo seguro e recheado de opções.
Primeiro: os caracóis. Se no Norte do país esta iguaria continua a ser pouco comum, no Centro e no Sul são sinónimo de verão… e de Setúbal.
Visitar esta cidade e não comer um pires de caracóis é deixar incompleta a missão. As Casas e Tasquinhas de caracóis multiplicam-se por toda a cidade, oferecendo aos visitantes a hipótese de deliciar-se com estes pequenos bichos enquanto bebem um copo de vinho da península de Setúbal e apreciam a vista sobre o Sado, acompanhado pela cidade e pela Serra da Arrábida.
Mas quem diz caracóis diz choco frito, também ele uma iguaria típica de Setúbal, para aqueles que procuram o petisco ideal.
Tal como com os caracóis, as casas especializadas neste molusco envolto no seu estaladiço polme são inúmeras, e é praticamente impossível escolher uma. A Casa Santiago — Rei do Choco Frito é, no entanto, uma das mais ‘consensuais’ no que toca à qualidade.
Nenhuma refeição fica completa, no entanto, sem um docinho no fim. As queijadas de Setúbal são uma perdição e, já que anda por ali, há sempre uma torta de Azeitão para degustar. Se quiser ir à fábrica das originais, é só meter-se pela Estrada Nacional n-10 e ao quilómetro 17 encontrará o paraíso.
O cais único do Sado
A separar o estuário do Sado do Oceano Atlântico encontra-se a Península de Tróia, um dos destinos de férias mais procurados pelos portugueses – e não só – todos os anos, nos meses de verão. Da Comporta até Troia, as praias paradisíacas estendem-se ao longo de uma costa que se estende ao longo de cerca de 15 quilómetros, virada para o Atlântico.
Para terminar, um dos segredos mais bem guardados do estuário do Sado, o Cais Palafítico da Carrasqueira, pequeno cais de estacas de madeira construído na década de 50 e 60, já no concelho de Alcácer do Sal. Diz-se que é único na Europa. Cá, pelo menos, não encontrará cenário igual.