Em 2020, a Covid-19 foi responsável por 5,8% dos óbitos em Portugal. Num ano em que se registaram mais de 123 mil óbitos no país, pouco mais de 7 mil destes foram associados ao novo coronavírus, tendo sido as doenças do aparelho circulatório a principal causa de morte (28%), seguidas dos tumores malignos (23%) e das doenças do aparelho respiratório (9,1%). Esta é uma das principais conclusões de um relatório da Pordata, levado a cabo a propósito do Dia Mundial da População, que se debruça sobre um conjunto alargado de dados que ilustram a forma como a vida da população portuguesa foi afetada nos últimos anos, especialmente durante o período marcado por uma pandemia que paralisou a sociedade.
O diagnóstico é traçado a partir de mais de 50 indicadores desde as mortes provocadas pela Covid-19 e por outras doenças, ao número de consultas e urgências nos hospitais, aos números do desemprego, ou até dados sobre consumo de energia e criminalidade.
No que concerne à mortalidade e à sáude, os dados da Pordata dão conta de que o número de mortes tem vindo a aumentar nestes últimos anos. Face a 2019, o número de óbitos foi superior em 10% em 2020 e 12% em 2021. Nos hospitais, apesar de o número de pessoal ao serviço ter aumentado 10,2% entre 2019 e 2020, nesse mesmo período a população assistiu à diminuição do número de consultas, urgências e internamentos hospitalares. E foi nas urgências onde o impacto se sentiu mais. Enquanto que em 2019 se registaram mais de 8 mil, em 2020 não se alcançou sequer as 6 mil urgências em hospitais.
Também entre 2019 e 2020 se assistiu a um aumento em 4,1% das despesas das administrações públicas em saúde. Há dois anos o Estado gastou mais de 14 mil milhões de euros com o setor da Saúde.
Economia, empresas e emprego Há outros dados relevantes a nível económico. Diz a Pordata que entre 2019 e 2021, as transferências de fundos europeus para Portugal aumentaram 74,7%, de 3,8 mil milhões de euros para 6,7 mil milhões de euros. Relativamente à dívida pública em % do PIB, verificou-se um aumento de 116,6% em 2019, para 135,2%, em 2020. Em sentido inverso, em 2021, baixou para 127,4%.
Numa altura em que o país parou devido aos longos períodos de confinamento, o número de empresas que declararam prejuízos em sede de IRC aumentou 23,6%. As empresas do setor do Alojamento e Restauração foram as que mais declararam prejuízos (+54,8%), seguidas do setor Transportes (+39,5%) e Cultura e Desporto (+37,2%).
Mas não só as empresas saíram prejudicadas da pandemia com a paralização da economia. Entre 2019 e 2020, o número de desempregados inscritos nos centros de emprego e formação profissional também aumentou 22,5%, assim como o número de beneficiários de prestações de desemprego, que aumentou 41,7%.
Famílias, consumo e pobreza A pandemia deixou igualmente marcas nas famílias, cujas despesas de consumo, entre 2019 e 2020, diminuíram 11,7%, tal como o número de levantamentos no multibanco (-20,7%). Essa contenção nos gastos, fez subir a taxa de poupança nas famílias, que aumentou de 7,3% para 13% nesse mesmo período.
A pandemia afetou particularmente as famílias monoparentais com pelo menos 1 criança dependente, cujo risco de pobreza aumentou de 25,5% para 30,2%. Em geral, também a percentagem de pessoas em risco de pobreza aumentou de 16,2% para 18,4%, entre 2019 e 2020.
Energia, comunicações e transportes Com o apertar de restrições que fechou durante meses a população em casa, o consumo doméstico de eletricidade foi maior. Entre 2019 e 2020, os portugueses consumiram mais 4,8% de energia. Pelo contrário, com a imposição de limites às deslocações, a venda de combustíveis diminuiu no mesmo período. Na gasolina as vendas caíram 18,3%, já no gasóleo a quebra não foi tão acentuada (-13,9%).
O distanciamento físico e a transição para o teletrabalho repercutiu-se também ao nível das telecomunicações. Em 2019, tinham ligação à internet 80,9% das famílias. Em 2021 já eram 87,3%. E falou-se significativamente mais tempo ao telefone em 2020 que em 2019 (+16,9%).
Turismo e cultura Tal como já evidenciavam os números de empresas que declararam prejuízos, os setores do Turismo e da Cultura foram dos mais sacrificados pela pandemia. Ao nível da aviação, o número de passageiros aéreos diminuiu 69,4%, entre 2019 e 2020. Uma redução drástica de 60.114,2 para 18.392,6 passageiros. De seguida, os meios de transporte que mais perderam passageiros foram o metro (-47,8%), o autocarro (-42%), e o comboio (-41,7%).
Relativamente ao setor do Alojamento, houve menos 63,2% de dormidas entre 2019 e 2020. Nos hotéis, as dormidas diminuíram 64,5%. Já o impacto no turismo no espaço rural foi menor (-34,1%).
A pandemia também refletiu-se nas deslocações para fora do país. A população residente em Portugal viajou menos para o estrangeiro. Entre 2019 e 2020, a percentagem da população que viajou para o estrangeiro passou de 6,8% para apenas 1,6%. Segundo a Pordata, em Portugal, em 2019, a maioria dos hóspedes eram estrangeiros (60,5%), mas em 2020 os portugueses foram a maioria (62,6%). No que toca às receitas das viagens em percentagem do PIB, estas caíram para menos de metade, de 8,5% para 3,9%.
O setor da Cultura, igualmente prejudicado, viu o número de pessoas a assistir a espetáculos ao vivo diminuir 85,1%, entre 2019 e 2020. Já o número de espectadores de cinema diminuiu 75,5%, e o número de visitantes dos museus diminuiu 71%.
O relatório da Pordata apresenta ainda outros dados curiosos. No que se refere à Justiça, a lotação das prisões diminuiu de 98,9%, em 2019, para 91,8%, em 2021, e a criminalidade diminuiu 10,2% nesse período. Em termos populacionais registou-se ainda uma redução de 43,2% no número de casamentos e uma diminuição do número de nascimentos: em 2021 foram menos 8,1%, face a 2019.