Talvez não nos deixe satisfeitos, mas não resistimos a uma comparação.
Comecemos pela base igual.
O Reino Unido é uma democracia, tem regularmente eleições e, consegue um governo eleito com maioria absoluta.
Tem um Parlamento, um primeiro-ministro e um governo.
Aqui acabam as coincidências.
O Reino Unido é uma monarquia, tem a mesma Rainha há muitos anos que convive com todos os governos e é capaz de tomar uma refeição com o Paddington.
Nós, não. Temos um Presidente da República eleito, num sistema semi-presidencialista, que sonha ser a Rainha de Inglaterra.
O Parlamento britânico fiscaliza ativamente o Governo, interpela-o direta e repetidamente, avalia e verbera os comportamentos do primeiro-ministro.
De tal sorte que, de quando em vez, os parlamentares da maioria votam contra ele no exercício da sua independência.
Aqui, tem dias, como o Brilhante.
Algum tempo atrás o principal partido da oposição reduziu a exigência dos debates com o governo.
Hoje, o partido do Governo votou contra a audição de um ministro depois de um inacreditável episódio sobre os aeroportos ‘to be’.
O primeiro-ministro britânico levou o país ao Brexit, afastou-se da União Europeia.
O português não. É visto a circular pelos corredores, manifesta um crescente interesse, algumas vozes dizem que vê nela o seu futuro político.
O primeiro-ministro britânico é um entusiasta da NATO, fornece ajuda militar e treino à Ucrânia percebe-se que é ouvido nas reuniões da organização.
O primeiro-ministro de Portugal não tem dinheiro para enviar os blindados, embora requestado, sendo certo que se trata de material de origem americana deixado a ganhar teias de aranha em Portugal.
O primeiro-ministro de Portugal é fotografado num lugar de topo da mesa, sozinho e abandonado num jantar da importantíssima reunião de Madrid.
Consta que o que queria dizer era importante mas ninguém o conseguiria ouvir.
O governo inglês tem problemas, tem crises, tem momentos de divergência, tem desamores.
Quando isso acontece, os Ministros saem, demitem-se, declaram a sua falta de confiança no primeiro deles, confessam o seu desapego e os que ficam calam-se.
Um governo não é uma associação recreativa nem um bar do Bairro Alto de onde se pode vir com o corpo cheio de facadas.
Aqui, os ministros falham e ficam e ficam e falham.
É possível que um belo dia, um deles resolva borrifar-se em todos os outros, mandar às malvas o primeiro dos ministros, despachar sem dar disso conhecimento, discordar do pronunciamento do Governo, constituir-se em primeiro alternativo.
Não passará de um arrufo.
Não sai porque não quer. Retrata-se. Descobre que o primeiro dos ministros o ama apesar de tudo e não pode viver sem ele.
Logo ele por quem passa a tragédia da TAP, ele que não tinha intuído a gravidade de quanto se passa nos aeroportos, ele que transporta o pesadelo no qual se transformaram os sonhos dos novos aeroportos a construir, ele que decide sem estudos, nem números, nem com nem senso.
E é ainda mais extraordinário que uma outra ministra solidária declare que teve o seu coração apertado por um dia sem saber o que iria acontecer.
Numa palavra: amor.
Comparando com o Reino Unido, como é diferente o amor em Portugal.