Ucrânia. Irão planeia fornecer drones à Rússia

A denuncia surgiu uma semana antes da visita de Putin a Teerão. Drones têm tido um papel fundamental na guerra na Ucrânia.

A invasão russa da Ucrânia pode não estar a correr como esperado, mas agora o Kremlin pode contar com reforços vindos de Teerão, acusou a Casa Branca, anunciando que o regime iraniano se preparava para vender centenas de drones armados a Vladimir Putin. Qual será o seu impacto concreto no campo de batalha é difícil de antever. No entanto, mostrou que as antevisões de que o tempo está do lado das forças ucranianas, à medida que armamento mais sofisticado vindo da NATO vai chegando, podem não ser tão certas quanto parecia.

Teerão não planeia apenas vender os seus drones a Moscovo, explicou Jake Sullivan, conselheiro da Casa Branca para a Segurança Nacional. “As nossas informações indicam que o Irão se prepara para treinar forças russas a usar estes UAV [sigla inglesa de veículos aéreos não tripulados], com as sessões iniciais de treinos marcadas para tão cedo quanto o início de julho”, declarou Sullivan. 

As acusações surgem numa altura em que Putin se prepara para visitar Teerão, já na próxima semana, cimentando os laços com este seu aliado. Provavelmente, o envio de drones para a Rússia não ajudaria em nada os esforços do regime iraniano para renegociar o seu acordo nuclear com os Estados Unidos. Algo que o Irão tem grande pressa em conseguir, estando preocupado com as notícias de que os seus grandes inimigos – Israel, de um lado, e as monarquias do Golfo, do outro – estavam em negociações para se unir contra si, alterando o equilíbrio de poder no Médio Oriente. 

Os drones armados do Irão têm sido usados com grande eficácia na guerra do Iémen, compondo uma boa parte da frota de UAV dos houthis, uma milícia xiita, que tem utilizado este equipamento para atingir sucessivamente a Arábia Saudita. Mostrando todo o seu potencial destrutivo num ataque às refinarias da petrolífera estatal saudita, a Aramco, há três anos, que paralisou cerca de 5% da produção de petróleo mundial. 

Já na guerra da Ucrânia, os drones têm tido um papel crucial, a uma escala nunca antes vista. Não só como arma, mas permitindo localizar forças inimigas para depois as atingir com artilharia, algo fundamental nas planícies do Donbass. Até agora, no que troca a UAV sofisticados, as forças do Kremlin têm usado sobretudo os Orlan-10, enquanto os militares ucranianos recorrem aos drones turcos Bayraktar. Mas ambos os lados também têm recorrido a drones domésticos, semelhantes ao que poderíamos comprar online, baratos e muito fáceis de substituir, alguns deles modificados, carregando até explosivos. 

Trava-se uma espécie de guerra invisível nos céus. Mas que tem um perigo enorme para as pequenas equipas de operadores de drones ucranianos encarregues de se aproximar das linhas inimigas para comandar pequenos drones em missões de reconhecimento. Ainda que os resultados possam ser espetaculares.

“Um tanque, três ou quatro peças de artilharia, duas posições de morteiros e cinco ou seis depóstios de munições”, enumerou Dmytro Podvorchanskyi, que comanda nove operadores de drones. Mostrando a um repórter da BBC, no seu telemóvel, os vídeos dos “maiores sucessos” da sua unidade de reconhecimento, colocada nos arredores de Sloviansk. É um ponto central para o abastecimento das forças ucranianas em Donetsk, que se pensa ser o próximo grande alvo das forças do Kremlin.

Enquanto a Rússia talvez possa contar receber drones iranianos, militares ucranianos começam a dar uso às baterias de mísseis de longo alcance enviadas pelos EUA, os M142 HIMARS. Ainda esta segunda-feira foram atingidas posições na retaguarda russa, em Nova Kakhovka, nos arredores de Kherson, tendo a Ucrânia anunciado ter atingido artilharia, tanques e um arsenal russo, enquanto o Kremlin acusava o Governo de Kiev de visar infraestruturas civis.