Portugal cresce muito mas há alertas

Bruxelas reviu em alta o crescimento português, que será o país da UE que mais cresce este ano. Especialistas não se mostram espantados com esta revisão mas alertam para os riscos como é o caso da inflação.

A Comissão Europeia trouxe, esta semana, boas notícias para Portugal ao ter revisto em alta o crescimento do produto interno bruto (PIB) este ano, passando de 5,8% para 6,5%. Mas, para os anos seguintes, as projeções foram revistas em baixa passando de 2,7% para 1,9%.

Segundo as previsões económicas de verão de Bruxelas, Portugal será o país da União Europeia que mais crescerá este ano, algo que, na verdade, já acontecia nas projeções anteriores.

Ao Nascer do SOL, Paulo Rosa, economista do Banco Carregosa, explica que estas previsões chegam sem surpresa. «Era expectável um robusto crescimento económico português, alicerçado no regresso do turismo», diz, acrescentando que «o consumo privado ainda deverá também apoiar o crescimento económico nacional durante o verão deste ano, mas a crescente inflação diminui o rendimento disponível das famílias e penaliza a procura interna».

Já Henrique Tomé, analista da corretora XTB, também defende que os valores são boas notícias mas lembra que «é importante notar que são apenas previsões que podem ser alteradas ao longo do tempo». Por isso, acredita que estes dados «possam voltar a ser revistos, mas desta vez em baixa», uma vez que a inflação em Portugal «continua a disparar e é das mais elevadas entre os países da zona euro».

E não tem dúvidas: «Se os preços continuarem a subir, pode-se esperar que a economia comece a abrandar».

Apesar do crescimento para este ano, Bruxelas prevê que em 2023, Portugal cai na lista e ocupe o 15.º lugar, no que diz respeito ao crescimento. «Após um forte início de ano, o crescimento de Portugal deverá moderar em termos trimestrais, mas manter-se-á significativo em termos anuais em 2022».

Sobre esta quebra, Paulo Rosa lembra que o PIB português contraiu 8,4% em 2020, «e foi dos mais afetados pelo distanciamento social, ditado pela pandemia, que penalizou nomeadamente o setor do turismo nacional, cujo peso na economia portuguesa era superior a 10%». Mas, em 2021 a economia nacional melhorou, mas cresceu apenas 4,9%.

«Atualmente, o ímpeto da recuperação económico em Portugal mantém-se e segue suportado pelo regresso do turismo, cada vez mais robusto à medida que se aproxima agosto, o principal mês de férias», diz o economista, acrescentando que «a consolidação do turismo e uma gradual retração do consumo privado depois do verão, em consequência da elevada inflação e das perspetivas de recessão, deverá abrandar o crescimento da economia portuguesa nos próximos semestres. Sendo assim, é de esperar uma desaceleração económica em Portugal em 2023, cujo desempenho deverá ser inferior à média da Zona Euro».

Por sua vez, Henrique Tomé, acredita que estas projeções são normais até porque as anteriores «eram demasiado ambiciosas». «É importante notar que o país não tem crescido nos últimos anos e com o agravamento das condições económicas, espera-se que esta situação se agrave muito mais», defende o analista, que diz ainda que apesar de o país ter passado de 1º para 15º, acredita que «esta tendência de baixa será para continuar e que a posição de Portugal continue a baixar em relação aos restantes países da zona euro».

Bruxelas reviu também em alta a taxa de inflação: Para Portugal está prevista uma inflação de 6,8% este ano e 3,6% no seguinte. E foi feita uma nova revisão «consideravelmente em alta» para a zona euro (7,6%) e para a UE (8,3%) este ano.

O economista do Banco Carregosa avança que a inflação no nosso país e também na zona euro «é maioritariamente do lado da oferta, penalizada sobretudo pela alta dos combustíveis fósseis e pela subida dos alimentos, nomeadamente dos cereais e da carne, e esta subida dos preços tende a penalizar o rendimento disponível das famílias, a diminuir a procura e a reduzir as margens das empresas». E defende que, perante este contexto, «aumenta a probabilidade de um cenário de estagflação, estagnação económica associada a elevada inflação, ou mesmo de recessão, e esta probabilidade será tanto maior, quanto mais duradoura e grave for a alta dos preços dos combustíveis fósseis, que intensificará o aumento da inflação e desacelerará o crescimento económico».

 

Efeito carry-over

Esta previsão de crescimento foi explicada pelo comissário europeu da Economia, Paolo Gentiloni, que diz que a forte retoma no início do ano impulsionou este crescimento. «Temos um crescimento acima do esperado para Portugal e isso é, em grande medida, baseado no crescimento substancial registado no primeiro trimestre, que gerou um efeito carry-over [de arrastamento] para todo o ano», referiu.

Henrique Tomé defende que Portugal «tem beneficiado do bom desempenho da economia durante o primeiro semestre deste ano», o que tem influenciado positivamente estes resultados ,«apesar dos riscos de abrandamento no crescimento do PIB». E diz que se espera que os próximos trimestres «representem uma diminuição da atividade económica, tal como já estamos a assistir nas grandes economias como nos EUA, China e Alemanha por exemplo, e Portugal não deverá ficar imune a estas condições que continuam a deteriorar-se».

Fernando Medina reagiu às previsões de Bruxelas e diz que estes valores representam «uma resiliência da economia portuguesa muito significativa e importante».