Fulham. A pantera esperou…

O Benfica defronta amanhã o Fulham pelas 20h15. O primeiro encontro entre ambos cumpriu há pouco tempo exatamente 50 anos.

Craven Cottage tinha-se preparado com afinco para receber a realeza. ‘Riverside Royalty’, assinalava o programa posto a dispor do público pela direcção fo FulhamFootball Club, um clube fundado em 1879 (com o nome inicial de St Andrews Cricket & Football Club) no bairro do mesmo nome, West London, ali à beira de Charing Cross, na margem norte do Tamisa, fazendo fronteira com as zonas mais finórias de Chelsea, Kensington e Hammersmith. Orgulhosamente erguem a bandeira do mais antigo clube de Londres.

Em 1967, a direção do Fulham sentiu que devia aos aficionados que enchiam o estádio todos os jogos uma significativa melhoria das condições de Craven Cottage. Mesmo obrigada a desinvestir na equipa, que caiu para a II Divisão, a obra foi avante. E, em fevereiro de 1972, oficialmente aberta ao público. Faltava uma inauguração de arromba, tal e qual merecia.

No dia 29 de fevereiro, a festa teve lugar. O facto de o Benfica ter um treinador inglês, Jimmy Hagan, pode ter influenciado a escolha do convidado de honra. Ainda por cima fora uma vez internacional pela Inglaterra e o selecionador inglês, Sir Alf Ramsey, também fez questão de estar presente. Mas recordemos que, em 1972, as fantásticas presenças do Benfica na Taça dos Campeões Europeus, atingindo cinco finais em oito anos e vencendo duas, ainda buliam com a excitação dos apaixonados pelo association. E, vendo bem, as diatribes de Eusébio nos estádios de Inglaterra aquando do Mundial tinham sido há não muito tempo, apenas seis anos. E assim, Eusébio entrou em Craven Cottage como um rei seguido pela sua escolta de príncipes. Um deles iria destacar-se de forma a obrigar o público que assistiu ao jogo a passar os noventa minutos praticamente de pé: Rui Jordão.

Excitante!!!

Eis uma das palavras que os ingleses gostam de ver associadas ao futebol: «Exciting!». Eles lá sabem porquê e, já agora, nós também. Se há adjetivo que se cole como uma luva de pelica ao espetáculo que Fulham e Benfica ofereceram às cerca de 17 mil pessoas que acorreram a Craven Cottage é essa mesmo. «Exciting!».

Desde o primeiro minutos que ambas as equipas se lançaram, à vez, sobre o meio-campo contrário, sempre com a baliza nos olhos. Porque é essa a filosofia de todas as equipas que jogam na Grande Ilha para lá da Mancha, na que chamam «glorious mud», e porque era essa a filosofia de um Benfica que conquistou a Europa à custa de futebol ofensivo e não, como os embirrentos italianos do Inter, que se lhe seguiram como campeões europeus, agarrados a um vício defensivo chamado catenaccio que provocava bocejos e borborigmos no estômago.

Steve Curry, jornalista do Daily Mirror, escreveu: «Fulham fans cheered wildly as their team overshadowed their more illustrious counterparts, even though it was Jordao who had stolen the limelight». Sim, o Fulham ganhou alegremente por 3-2, com golos de Steve Earle, Roger Cross e Humberto Coelho, na própria baliza, mas seria o jovem Rui Jordão, a Gazela de Angola, com apenas 18 anos, que tomaria conta do palco, deixando-se iluminar pelas luzes da ribalta.

O movimento em velocidade, seguido de um drible e de um contra-drible, com o qual entortou até aos dias de hoje as pernas de um desgraçado defesa do Fulham antes de oferecer a Diamantino um golo aclamadíssimo pela populaça, fez com que, a partir daí, cada um dos seus movimentos felinos e fulgurantes fizessem com que os espectadores de Craven Cottage abrissem os olhos até quase rebentarem as órbitas, ansiando por não perder um segundo que fosse da arte mágica do africano do Benfica. Curry outra vez: «It was the young Jordao, an 18-year-old son of a post office worker from Angola, rather than the great Eusebio who caught the eye for the visitors, and he set up a goal for Diamantino on the stroke of half-time». Jordão em vez de Eusébio? Pois, pois… Talvez porque esteve sempre mais activo, mais em jogo; porque os seus lances eram adornados com requintes que não são prática no futebol de Inglaterra; porque era, simplesmente, uma total e extraordinária novidade que se apresentava ao público londrino.

Tranquila, a Pantera esperava a sua vez para participar no espetáculo. Acabado de cumprir os seus 30 anos, Eusébio sofria como nunca até aí das operações aos meniscos a que fora sujeito e as dores excruciantes do seu martirizado joelho esquerdo. Mas, de repente, uma bola rechaçada pela defesa do Fulham, encontrou-o solto na entrada da área adversária: de primeira, o seu pontapé foi imparável! «How! What a brilliant volley by Eusebio to set up an exciting finish!». Lá está: excitante. A palavra que serviu para defenir o primeiro jogo entre Fulham e Benfica.