Temos a tendência de considerar os políticos pessoas ‘intocáveis’. O seu trabalho, de extrema responsabilidade, acaba por, mesmo que inconscientemente, os colocar nesse lugar, onde supostamente reina a seriedade e, muitas vezes, a distância. Habituamo-nos a vê-los vestidos da forma mais sóbria possível. Os homens, por norma, escolhem o fato. As mulheres, quando não o fazem, tendem a optar por vestidos formais, quase sempre acompanhados de um blazer. No entanto, agora, têm sido cada vez mais aqueles que quebram esse estereótipo, arriscando nas suas escolhas de vestuário, tornando-se virais nas redes sociais e cada vez mais próximos daquilo que somos. O caso mais recente, e que tem dado que falar, é o da primeira-ministra da Finlândia, Sanna Marin, de 36 anos, que apareceu no Ruisrock Festival – segundo evento de rock mais antigo da Europa, que remonta a 1970 – com um look que poucos esperavam: calções curtos de ganga, botas e casaco de cabedal. Marin é primeira-ministra da Finlândia desde 2019. Nessa altura foi considerada a primeira-ministra mais jovem do mundo a ser eleita. Entrou pela primeira vez no parlamento finlandês em 2015, como membro do Partido Social Democrata, mas é também conhecida pelo seu gosto pela música rock.
Com um visual descontraído, nas redes sociais os comentários começaram a multiplicar-se, congratulando-a pela sua escolha: «Nem tentes fingir que o teu primeiro-ministro é tão fixe quanto Sanna Marin no Festival Ruisrock [decorreu no último fim de semana, entre os dias 8 e 10 de julho]», escreveu um usuário do Twitter. «Quão incrível seria se tivéssemos uma presidente como ela?», pode ler-se noutro comentário. «A primeira-ministra finlandesa está a estabelecer um novo padrão de moda no universo político», acredita ainda outro internauta. No entanto, há também aqueles que não concordam, não querendo associar a sua forma de cool de vestir à governação: «Isto é muito engraçado, mas gostava que as pessoas prestassem mais atenção ao que os políticos alcançam na sua linha de trabalho para o bem de todos, em vez de quão incríveis ficam de calções num festival».
Criada numa família ‘arco-íris’
De acordo com a Notícias Magazine, Marin – social-democrata e feminista – tem como valores «a liberdade, a igualdade e a solidariedade». «A liberdade de fazer e de alcançar as coisas, garantindo direitos sociais iguais para todos. A liberdade genuína requer igualdade, e o papel da política é desmantelar e mudar as estruturas que discriminam, na necessidade permanente de solidariedade, de forma a garantir às gerações futuras a oportunidade de terem uma vida boa e digna», acredita.
Nasceu a 16 de novembro de 1985 em Helsínquia e, durante a juventude viveu ainda em Espoo e Pirkkala antes de se mudar para Tampere. Os seus pais separaram-se quando era ainda muito nova já que a família enfrentava problemas financeiros e o seu pai, Lauri Marin, lutava contra o alcoolismo. Depois da separação do casal, Marin foi criada pela sua mãe e pela parceira. Cresceu, por isso, segundo a mesma, «numa família arco-íris, cheia de amor». Enquanto jovem, trabalhou numa padaria, distribuiu revistas e foi ‘caixa’ numa loja. Formou-se na Escola de Ensino Médio de Pirkkala, em 2004, aos 19 anos de idade, e ingressou na Juventude Social-Democrata em 2006. É mestre em Ciências Administrativas pela Universidade de Tampere. Em 2012, foi eleita vereadora da Câmara Municipal. Pouco depois, presidente. Eleita vice-presidente nacional dos social-democratas em 2014, concorreu ao Parlamento pela primeira vez no ano seguinte. «Influenciar e participar são direitos civis. Mudar as coisas requer compromisso. O estado de bem-estar social ou as regras da vida profissional não são uma conclusão precipitada, mas o resultado do trabalho árduo», defende a líder.
De acordo com a mesma publicação, num mundo «relativamente polido da política finlandesa», o discurso «direto e objetivo» a que recorre recebe elogios de aliados e de adversários. Mas a forte visão ideológica, a defesa de políticas progressistas – descarbonização, apoio a refugiados, aumento de impostos sobre os ganhos do capital -, que a colocam à esquerda do antecessor, Antti Rinne, «fazem temer o centro-direita». Descrevem-na como «a primeira-ministra mais à esquerda que a Finlândia já teve». É assumidamente feminista, vegetariana e protetora dos direitos LGBTI+.
Sanna Marin é casada e tem uma filha, Emma, de três anos.