A Praça de Touros do Campo Pequeno iniciou agora a temporada tauromáquica desta época, cumprindo a função para que foi construída. A Praça de Touros da capital – primeira Praça do país – recebe uma manifestação cultural característica de várias regiões, que se matem viva, correspondendo à identidade cultural de uma parte da população portuguesa.
Lisboa, sendo capital do país, deve ser espelho da diversidade cultural do país. É essa pluralidade que representa e caracteriza Portugal.
Num tempo de preconceitos, fundamentalismos e tanto egoísmo, é importante que Lisboa, na sua tradição de tolerância e acolhimento da diversidade, resista a totalitarismos e tentativas de impor gostos de alguns em desrespeito de outros.
É de liberdade que se trata. Uma sociedade evoluída respeita a liberdade individual e a diversidade cultural, não impondo gostos nem condicionando o acesso à Cultura.
A Tourada é Cultura pelo elementar facto de constituir uma manifestação cultural de comunidades que vai muito além do espetáculo tauromáquico mas que começa num modo de vida e de subsistência e passa pela relação do homem com a natureza, por uma economia em torno da criação de gado bravo (cuja espécie existe em função da tauromaquia) e culmina na expressão da arte de tourear.
A ignorância sobre a vivência das comunidades ligadas à tauromaquia, o afastamento do mundo rural e uma certa arrogância urbana pretendem impor uma visão da sociedade, procurando anular uma realidade que é parte do país.
Enquanto manifestação cultural identitária, a tourada deve ser respeitada e preservada. A Cultura não deve ser limitada ou pretensamente ‘conduzida’. Ao Estado não compete programar ou condicionar o acesso à Cultura, antes deve respeitar, proteger e promover.
As atitudes proibicionistas merecem repúdio e a pretensa superioridade moral de alguns deve ser rejeitada por ser contrária ao respeito pela igualdade de legitimidade na visão da sociedade.
Recentemente, na Assembleia Municipal de Lisboa, o PAN, cuja expressão eleitoral e representação social, merecendo respeito, são muito minoritárias, mas arrogando-se de uma superioridade moral absolutamente ilegítima, quis impor a sua visão da sociedade.
O PAN preconiza uma ideologia animalista que é perigosa pois colide com um modelo de sociedade estabilizado e consensual mas que pretende eliminar. Este partido advoga a imposição pelo Estado do seu modelo de sociedade, desrespeitando a liberdade individual.
O PAN defende uma ditadura de gosto e o condicionamento cultural mesmo que tal signifique a destruição da identidade de comunidades.
A Assembleia Municipal de Lisboa, uma vez mais, rejeitou a visão totalitária da sociedade pretendida pelo PAN, afirmando o respeito pela identidade e pela diversidade culturais, fazendo jus à tradição de respeito pela diversidade e à condição de capital de um país diverso que deve ter expressão em Lisboa.
Cultura é isto mesmo: respeito pela diferença e igualdade de legitimidade mesmo para quem tem uma visão diferente da sociedade.
Em relação às touradas, a Assembleia Municipal de Lisboa recusou o totalitarismo cultural e agressão à identidade regional.
A Câmara ou o Estado não financiam as touradas mas devem proteger esta manifestação cultural. Para quem não gosta de touradas basta não assistir.