A invasão russa na Ucrânia continua a causar preocupações no crescimento económico mundial, levando o Fundo Monetário Internacional (FMI)a rever em baixa as previsões de crescimento. Mas não é só a guerra. A entidade liderada por Kristalina Georgieva fala também em “vários choques” que atingiram a economia mundial. Com estas alterações foi revisto em baixa a previsão de crescimento mundial, em 0,4 pontos percentuais para 3,2% este ano. Uma redução que é explicada essencialmente com a materialização de alguns dos riscos identificados em abril, como uma desaceleração mais acentuada na China que levou a cabo prolongados confinamentos mas também devido ao aperto das condições financeiras globais associadas a expectativas de aumentos mais acentuados das taxas de juros pelos principais bancos centrais e, claro, as consequências da invasão russa na Ucrânia.
A instituição liderada por Kristalina Georgieva prevê ainda que as economias avançadas venham a crescer 2,5% este ano e 1,4% no próximo. E, para 2023, a economia mundial não deverá ir além dos 2,9% de crescimento, o que também é uma revisão em baixa face às previsões de abril.
A nível mundial, a revisão em baixa aconteceu nos Estados Unidos e a maior economia do mundo contou com um corte de 1,4 pontos percentuais face a abril, devendo crescer 2,3% este ano. O FMI justifica esta quebra com um crescimento mais baixo no início do ano mas também pela quebra no poder de compra das famílias devido à inflação e que resultou na subida dos juros por parte da Reserva Federal norte-americana (Fed).
E face a estes números, o FMI deixa alguns alertas e não descarta – ainda que num cenário muito grave – uma crise parecida com o choque petrolífero registado nos anos 1970. Este cenário, diz a instituição, é negativo mas “plausível” aconteceria no caso de a inflação aumentar “ainda mais” e o crescimento global caísse para cerca de 2,6% em 2022 e 2% em 2023. Isso “afundaria o crescimento” para os níveis dos anos 70 do século passado.
Segundo o FMI é necessária “uma política macroeconómica geral que contrarie a inflação. Políticas que precisam ser compensadas por aumento de impostos ou a redução da despesa do Estado”, que se tornam “ainda mais necessárias reformas nos quadros de resolução da dívida” pública.
E acrescenta que “as políticas para abordar impactos específicos nos preços de energia e alimentos devem-se concentrar nos mais afetados sem distorcer os preços”.
Este cenário negativo está relacionado com o impacto da guerra “que pode levar a uma interrupção repentina das importações de gás para a Europa”. (ver página 8).
E a zona euro? Também para a zona euro o FMI fez revisões em baixa para 2,6% este ano e 1,2% em 2023, menos 0,2 pp. e 1,1 pp. do que anteriormente. E diz que “as melhores perspetivas para o turismo e a atividade industrial em Itália são mais do que compensadas por cortes significativos em França, Alemanha e Espanha”.
Mas a revisão em baixa tem como principal causa “as repercussões da guerra na Ucrânia”, mas também uma política monetária mais restritiva, com o Banco Central Europeu a subir as taxas de juros pela primeira vez desde 2011 e a terminar com as compras líquidas de ativos.
Por países, o Fundo prevê que o PIB alemão cresça 1,2% este ano e 0,8% em 2023, uma revisão em baixa face a abril e que o francês chegue aos 2,3% este ano e 1% em 2023, também em baixa. Tal como Espanha que deverá crescer 4% este no e 2% em 2023.
E reviu em alta de 0,7 pp. a previsão para Itália para este ano, para 3% tendo, no entanto, cortado em um ponto percentual a previsão para 2023 para 0,7%.
Nesta atualização intercalar, o FMI não faz previsões para Portugal.
Inflação continua em altas E se o crescimento foi revisto em baixa, a inflação segue o caminho contrário e vai crescer mais do que era esperado em abril. Assim, na zona euro, o FMI prevê que a inflação chegue aos 7,3% este ano, um valor que representa um crescimento de 2,9 pontos percentuais face ao anunciado em abril.
A projeção é ainda mais pessimista para a inflação global que se espera que atinja os 8,3% no quarto trimestre deste ano face ao quarto trimestre do ano passado, quando em abril esperava 6,9%.
Para o ano seguinte, as previsões ficaram praticamente inalteradas. Segundo o FMI, tal reflete “a confiança de que a inflação irá diminuir à medida que os bancos centrais apertarem as políticas e os efeitos base dos preços da energia se tornarem negativos”.
Texto atualizado ao final do dia com mais informação