Dia 6 de outubro de 1946. Disputava-se a 4.ª jornada do Campeonato de Lisboa. Estádio das Salésias. Árbitro: Abel Ferreira. O Sporting defrontava o campeão nacional: o Belenenses. O Belenenses de Capela, Vasco, Feliciano e Serafim. E de Mariano Amaro e Elói e Quaresma e Teixeira da Silva. Era um grande Belenenses.
O Sporting jogou assim: Azevedo; Cardoso, Barrosa e Manuel Marques; Canário e Mateus; Jesus Correia, Vasques, Travassos e Albano; Peyroteo. Cinco Violinos juntos. Pela primeira vez. Era uma equipa relativamente jovem. Ora veja-se: Azevedo (31 anos); Cardoso (32), Barrosa (26) e Manuel Marques (29); Canário (28) e Mateus (25); Jesus Correia (22), Vasques (20), Travassos (20) e Albano (22); Peyroteo (28). Os Quatro Violinos que apoiavam o explosivo Peyroteo, tal como Cândido de Oliveira tinha idealizado e Robert Kelly pusera em campo, eram pouco mais do que uns meninos.
Tarde de sol nas Salésias. Muita gente nas bancadas: 25 mil pessoas.
A entrada do leão foi uma… entrada de leão. Mas o primeiro remate pertenceu a Rafael para uma enorme defesa de Azevedo. Movimentação contínua; equilíbrio; vontade de golos. Jogo sempre vivo.
Despiques duros: Cardoso/Rafael; Mateus/Vasco. Rafael atinge mesmo Cardoso com um pontapé na cara, longe das vistas do árbitro.
2-0: a tal entrada de leão do leão. “Decididamente, o Sporting teve, como costuma dizer-se, o pássaro na mão e deixou-o fugir… deslumbrado, talvez, com as vantagens que usufruía a menos de meia hora de jogo. Dois tentos de diferença a favor, obtidos num curto lapso de tempo, é sempre animador… Mas os leões pensaram, sobretudo, que na guarda das redes adversárias estava um elemento em inferioridade física e isso lhes deu, desgraçadamente para eles, ainda maior dose de confiança. Falhado o terceiro ponto por pouco, num remate de Vasques logo a seguir ao golo que marcou, os verde-brancos abrandaram visivelmente. Isso bastou para que os belenenses, que chegaram a oscilar, se recompusessem e ganhassem alento, de modo tal que nunca mais deixaram de dirigir as operações, mesmo quando manobrando na defensiva. Se o aludido chute de Vasques tem resultado, é possível, é quase certo que o desafio ficaria então resolvido… Praticamente, acabaria nessa altura. Mas o lance falhou, e os sportinguistas encolheram os ombros, confiados: ‘outros viriam!’… Mas não vieram, ou melhor: vieram, mas eles já não tiveram talento para explicá-los devidamente… Consentiram o empate, e, vamos lá, que ainda poderia ter sido pior para eles…”: eis uma das crónicas do jogo.
Os golos. Golos do Sporting: aos 17 e 22 minutos, por Jesus Correia e Vasques. Golos do Belenenses: aos 35 e 67 minutos, por Quaresma e Teixeira da Silva. Uma queda aparatosa de Capela deixou o guarda-redes do Belenenses combalido e queixoso de um tornozelo durante toda a primeira parte. “A primeira bola do encontro teve origem num ‘autêntico passe’ do belenense Gomes para Albano. Este não fez cerimónia, suportou a luta imposta por Vasco, burlando-o, para centrar com boa conta, proporcionando o remate vitorioso de Correia, com a testa. Um passe adiantado de Travassos provocou o segundo golo. Vasques, com Peyroteo a acompanhá-lo, ‘por causa das dúvidas’, e com Feliciano a persegui-lo, correu uns metros para, depois, atirar pela certa…”
A reação azul foi forte.
Peyroteo tem duas boas hipóteses de golo, barradas por Capela e Mariano Amaro. Depois é Jesus Correia a pôr Capela à prova. Mas o Belenenses manda no jogo e impõe o empate.
Travassos, marcado por Mariano Amaro, não pôde dispor da mesma liberdade de movimentos para tentar os remates tão habituais em si, mas um que aplicou no segundo tempo chegou a ser aplaudido como golo, tão colado à rede saiu.
Os Cinco Violinos tinham vindo ao mundo.