A banhos no monte-estoril
“Despem-se as fórmulas, os preconceitos e as convenções, ficando o coração sob uma naturalidade transparente, como quando se muda de fato para entrar no banho”. Fazia-se poesia com a ida à praia no Monte-Estoril, uma linha de costa que 30 anos antes era “deserta e desagradável”. Tinha-se tornado um dos destinos prediletos dos lisboetas.
“Despem-se as fórmulas, os preconceitos e as convenções, ficando o coração sob uma naturalidade transparente, como quando se muda de fato para entrar no banho”. Fazia-se poesia com a ida à praia no Monte-Estoril, uma linha de costa que 30 anos antes era “deserta e desagradável”. Tinha-se tornado um dos destinos prediletos dos lisboetas.
As formigas são uma praga
E para dar cabo dela, Roséne, “o único destruidor eficaz e rápido”, que se vendia “em toda a parte”. Nos anúncios que se multiplicavam pelas páginas das revistas e jornais, como estes na revista ABC no verão de 1922, encontram-se as preocupações e soluções de cada época. Piperinol para dar cor e brilho a móveis, fatos Pintasilgo, seguros Garantia. E há muito mais só que não cabia aqui: Dentalina para acabar com o “aborrecimento da manhã” a lavar os dentes, bolachas Nacional ou um novinho Fiat, para acabar com o mau estrado das estradas com umas molas invencíveis.
Lavadeiras no Alfeite e os areais da Caparica
Na rubrica ‘Portugal Pitoresco’ da Illustração Portugueza, que tantas vezes valia críticas à revista por parte dos mais mordenistas por retratar o Portugal ‘mais campónio’ e não a ‘civilização’, guardam-se duas imagens do verão de 2022: as lavadeiras no alfeite e banhistas na Caparica.
Verão no zoo
“É um ótimo desafogo, uma estância de saúde e de distração de espírito para os que não podem abalar para longe da cidade, indo desencalmar-se à beira mar ou à sombra de espessos arvoredos”, descrevia a Illustração Portugueza nos idos do verão de 1922, numa peça em que destacava o passeio da família Graham, fundador da casa de vinho do Porto com o mesmo nome, deleitados com uma visita ao jardim zoológico para o chá das 5, ‘tomando os seus refrescos’.
Tratados de moda
“A Moda estiva é este ano impressionantemente tentadora. Coloridos fortes, como que a estabelecerem rivalidade com a soberba policromia dos campos em plena floração, tecidos diafanos, combinados com a subtilidade da viração, singeleza de forma, a harmonizar com a espontaneidade do decor”. Eram assim as “toiletes dernier cri”, leia-se, o último grito de 1922. Desafio: descrever o traje de praia com a mesma eloquência.
Míticas festas da agonia
Este ano começam a 6 de agosto e para quem continua a achar Viana do Castelo “a mais linda cidade de Portugal” e não perde a oportunidade de revisitar as tradições e paisagens minhotas, aqui fica o cartaz de há 100 anos.
Para mais tarde meditar
O slogan “para mais tarde recordar” ficou no imaginário, mas há 100 anos era-se menos económico nas palavras: “Durante as vossas férias quantas vezes terá V. Ex.ª dito ‘Como gostaria de recordar isto!’. ‘Isto’ conforme o vosso temperamento e vosso estado de espírito no momento, será talvez um nada: um cão que vos tem seguido dedicadamente durante todo o dia, um grupo de crianças colhendo flores – uma regata – um encantador panorama – um acampamento de escoteiros ou as ondas que se quebram, impetuosas, em torno de um farol”. Ora fotografar “aprende-se em meia hora”, garantia a Kodak. Que diriam eles se soubessem quantas fotos dá hoje para tirar em 30 minutos, sem pensar em nada.
Ai do mortal que ponha o pé no acelerador
E esta pérola das páginas da ABC? “Para os automóveis do Estado correr a 60 quilómetros à hora é um inocente devaneio. Desgraçado, porém, do mortal que se arrisque a fazer andar o seu carro a 25km a hora. Tem logo pela sua frente zelosos funcionários do mesmo Estado, que o multam, para lhe demonstrar que é perigoso andar na cidade com essa excessiva velocidade”, escrevia o cronista. Um pouco mais abaixo, outro protesto atual: ‘O banqueiro, que com as suas manigâncias cambiais nos faz encarecer a vida e vive opulentamente da nossa miséria, paga de contribuições e impostos pela sua luxuosíssima ‘limousine’, que custou mais de cem contos de reis, quasi tanto como paga aquele para quem um modesto carro de uma dúzia de contos é uma ferramenta de trabalho”.