Depois da mazomba cena montada no Rio de Janeiro em que se ofereceu ao Flamengo quando o clube ainda tinha Paulo Sousa como treinador, forçando a direção a tomar uma posição que seria terrivelmente desagradável para ele, Jorge Jesus parece ter entrado de vez numa espiral negativa que o suga para um buraco sem fundo. A derrota desta semana do Fenerbahçe, em casa, frente ao Dínamo de Kiev, um clube que nem um campeonato disputa, tendo de se contentar com treinos e particulares por via da guerra no território ucraniano, e a consequente eliminação da fase de grupos da Liga dos Campeões, é apenas mais um tropeção na escadaria de O Couraçado Potemkin, filme de Eisenstein. Jesus, apesar do nome que tem, nunca fez milagres e continua a não fazê-los.
Tenho pelo Jorge a simpatia pessoal de quem se conhece há muitos anos. Tenho também o à vontade de poder escrever estas linhas desempoeiradamente porque terei sido dos poucos a criticar as falhas coletivas das suas equipas nos momentos em que ele vivia a sua ascensão até ao topo (?) dos treinadores do mundo. Não tenho o hábito de bater em quem está no chão, por isso este texto está muito longe de ser uma carga de porrada, se assim lhe quiseram chamar, era o que faltava, há sobretudo entre jornalistas e agentes do futebol o respeito pelo trabalho de cada um, goste-se mais ou menos dele. Jesus devolveu o Benfica aos títulos de campeão conduzindo uma das mais fortes equipas que jamais se juntou na Luz nos últimos vinte anos e, com essa mesma equipa, falhou por completo na Liga dos Campeões e conseguiu ficar a 21 pontos do FC Porto de Villas-Boas. Nunca terei sido tão severo na minha visão abrangente das sua capacidades como técnico como nesses anos, mas é preciso reconhecer que conseguiu reinventar-se num Sporting que, não ganhando nada há anos a fio, orgulhou os seus adeptos pelo simples facto de ter lutado por ganhar até ao fim. O Flamengo viria ser, verdadeiramente, o lugar supremo da sua felicidade, mas cometeu outro erro, o da soberba, quando resolveu ceder ao instinto de afirmar que seriam precisos 50 anos para que outro técnico português ganhasse a Copa dos Libertadores, algo que Abel Ferreira tratou de desmentir nos dois anos seguintes. O regresso ao Benfica foi demasiado penoso. Triste. Viu perderem-lhe o carinho e o respeito, apagou as páginas bonitas que o vento ainda agitava. A Turquia é um exílio. E Jesus um Judeu Errante que nunca conseguiu encontrar um lugar ao qual chamar a sua casa.