Em menos de uma semana os ministros da Energia da União Europeia (UE) chegaram a um acordo político sobre a proposta, apresentada por Bruxelas, para a redução voluntária do consumo de gás natural de 15% até março. No entanto, Mário Martins, analista da ActivTrades lembra que «nesta fase foi um ato meramente político de afirmação de unidade, com apenas uma dissonância, a Hungria, até porque não houve uma votação, mas sim um consenso quase total para a proposta de reduzir o consumo até 15% por parte dos Estados membros até à próxima primavera, de forma voluntária».
Ainda assim, será possível virmos a assistir a novos aumentos? O analista diz que tudo vai depender «da severidade do outono e inverno e maior severidade resulta diretamente numa maior necessidade de aquecimento, logo maior pressão para satisfazer as necessidades primárias das populações, não havendo volumes disponíveis para suprir um aumento relevante da procura no curto-prazo, seja nos stocks europeus, como a nível da produção global».
Questionado sobre se se pode correr o risco de virmos a assistir a uma escassez de oferta, Mário Martins diz que «dependerá da mesma variável», relacionada com a mesma severidade do outono e inverno, «dado que a oferta deverá manter-se estável, já que a procura é que vai mexer na agulha dos preços».
Recorde-se, no entanto, que o acordo definido pelos ministros prevê várias exceções. Concretamente, lembra Mário Martins, os países podem «solicitar uma derrogação para adaptar as suas obrigações de redução da procura se tiverem interconexões limitadas a outros Estados-membros e puderem demonstrar que as suas capacidades de exportação de interconexão ou as suas infraestruturas domésticas de GNL são utilizadas para redirecionar o gás para outros», assim como «podem também solicitar uma derrogação se tiverem ultrapassado os seus objetivos de enchimento de armazenamento de gás, se estiverem fortemente dependentes do gás como matéria-prima para indústrias críticas ou se o seu consumo de gás tiver aumentado pelo menos 8% no último ano em comparação com a média dos últimos cinco anos».
E Portugal pode estar incluído nas exceções. «Há uma redução da meta para os países que têm fracas interconexões e (…) que estão preparados para exportar gás para outros Estados-membros», afirmou o ministro do Ambiente, referindo-se à exceção que permite a Portugal cortar 7% em vez de 15%.
Entretanto, Duarte Cordeiro chegou a admitir que esta proposta de Bruxelas sobre o gás «já responde» a preocupações portuguesas. O analista recorda que «não é obrigatório e prevê as especificidades de um país pouco exposto ao gás adquirido à Rússia».
Mas há mais: o governante admitiu que Sines poderá ser uma solução. «Podemos, através do porto de Sines, reforçar o fornecimento de gás a outros países europeus», disse. Como poderá funcionar? «Na prática essa afirmação foi mais um ato de propaganda política do que de substância real, uma vez que tal como o ministro sabe, não existe vontade política da Europa em utilizar Sines como porta para o gás natural vindo de outras partes do globo por via marítima, desde logo porque não existe interconectividade entre a nossa rede e a rede dos grandes consumidores europeus, como a Alemanha», defende o analista da ActivTrades.