Quatro maiores bancos lucram 5,5 milhões por dia

CGD, Santander, BPI e BCP juntos lucraram mais de 1.003 milhões nos primeiros seis meses do ano. Comissões voltaram a disparar, mas estrutura bancária (trabalhadores e balcões) estabilizou.

Quatro dos maiores bancos a operar no mercado nacional – Caixa Geral de Depósitos, BPI, Santander e BCP ­– lucraram quase 1.003 milhões de euros nos primeiros seis meses. Mesmo depois da crise pandémica, do fim das moratórias e com a constituição de provisões foi possível lucrarem mais de 5,5 milhões por dia. O negócio bancário subiu e as instituições financeiras voltaram a ‘carregar’ nas comissões, mas ao contrário dos anos anteriores, a estrutura parece ter estabilizado e há quem acene mesmo com contratações. 

A liderar novamente o pódio está a Caixa Geral de Depósitos, com os lucros a disparem 65%, para 486 milhões de euros. De acordo com a instituição financeira liderada por Paulo Macedo, «esta evolução reflete um menor custo do risco de crédito no período após a fase mais aguda da pandemia e a venda de alguns ativos não core, bem como o contributo da atividade internacional para o resultado líquido do grupo, no valor de 109 milhões de euros, cerca de 22% do total, um crescimento de 77% face ao primeiro semestre de 2021». Com estes números, o banco público prepara-se para entregar 198 milhões de euros em dividendos ao Estado, mas apenas referente aos primeiros seis meses do ano. A este número há que somar ainda os valores referentes até ao final do ano.

A instituição financeira reduziu ainda as provisões e imparidades no valor de 334,7 milhões de euros. Feitas as contas, as imparidades de crédito caíram 197 milhões de euros, «correspondente a uma redução parcial dos níveis de imparidades adicional constituídos em contexto de pandemia entre 2020 e 2021».

O volume de negócios registou um crescimento de 3,2 mil milhões de euros face ao final de 2021 (+2%), «registando uma evolução tanto no crédito (+1.226 milhões de euros, +2,3%) como nos recursos (+1.993 milhões de euros), impulsionado pela atividade internacional que cresceu 7,4%».

As comissões registam um aumento de 36,2 milhões de euros. «Também aqui a atividade internacional contribuiu um valor assinalável, de 5,7 milhões de euros, com o incremento em Portugal a centrar-se nas comissões de colocação de fundos de investimento (+8 milhões de euros), de mediação de seguros (+4,2 milhões de euros), de operações de crédito (+2,8 milhões de euros) e de garantias prestadas (+2,2 milhões de euros)», revela o banco público. Já os depósitos de clientes aumentaram 3.564 milhões de euros (+4,5%), quando comparados com o final do ano anterior, «evolução essencialmente justificada pela elevada taxa de poupança doméstica».

Os indicadores de negócio mostram também uma evolução muito positiva nos seis primeiros meses do ano: margem financeira subiu 21,6% para 600 milhões de euros e os resultados com comissões subiram 22,5% para 306 milhões de euros. No global, o produto da atividade aumentou 17,3% para 1.025,9 milhões de euros.

O crédito a clientes subiu 2,7% para 51,6 mil milhões de euros e os recursos de clientes, incluindo depósitos, que cresceram 4,5% para 83,4 mil milhões de euros.

 

O banco que se segue

Logo a seguir surge o Santander Portugal que triplicou os lucros e atingiu os 241,3 milhões de euros, um valor que compara com os 81,4 milhões registados no período homólogo. «Nos primeiros seis meses, o Santander continuou a apresentar resultados positivos, que nos dão as bases necessárias para podermos continuar a desempenhar da melhor forma a nossa missão de contribuir para o desenvolvimento das famílias e das empresas, apoiando um crescimento inclusivo sustentável», disse a instituição financeira liderada por Pedro Castro e Almeida.

Estes resultados, de acordo com o banco, já incorporam um encargo extraordinário, no valor de 164,5 milhões de euros (líquido de impostos), registado no 1.º trimestre de 2021, para fazer face ao plano de transformação em curso, com a otimização da rede de agências e investimentos em processos e tecnologia. «O processo de reestruturação foi difícil, mas já está terminado, e coloca-nos hoje numa posição mais sólida e focada no nosso propósito de ajudar as famílias e as empresas a prosperar», afirmou.

O total de crédito a clientes ascendeu a 43,6 mil milhões de euros, um crescimento homólogo de 0,5%, destacando-se o crescimento do crédito à habitação em 6,8%. Já a quota de mercado de novos empréstimos de crédito habitação (valores acumulados a maio) situou-se em 22,9%.

A instituição financeira revelou ainda que os recursos de clientes situaram-se em 47,8 mil milhões de euros, registando um incremento de 4,9% face ao mesmo período de 2021, dinâmica resultante de um crescimento dos depósitos em 6,9%, enquanto os recursos fora de balanço se reduziram em 4,4%, influenciados pela maior volatilidade nos mercados financeiros.

Os custos operacionais ascenderam a 242,6 milhões de euros, uma redução em 14,6% face ao mesmo período de 2021, em resultado da redução dos custos com pessoal em 17,7%, dos gastos gerais em 11,1% e da depreciação em 9,2%. O banco explicou que, durante 2021, «executou um abrangente plano de transformação, operacional e comercial, procurando ajustar a sua estrutura e processos às alterações no modo como os clientes se relacionam com as entidades bancárias, com particular foco na simplificação de processos e na melhoria da qualidade de serviço». Face a dezembro de 2021, a rede de agências reduziu-se em 7 pontos de atendimento, enquanto o quadro de colaboradores se reduziu em 109 pessoas.

 

Crescimento mais modesto

Mais modesto foi o aumento de lucros do BPI, que subiu 9%, para 201 milhões. A atividade em Portugal contribuiu com 85 milhões, o que corresponde a um aumento de 17% relativamente ao semestre homólogo de 2021 excluindo extraordinários – ganho com a venda de créditos não produtivos e custos com reformas antecipadas e rescisões voluntárias. Estes números revelam que, o maior contributo veio de Angola, com o BFA: 100 milhões de euros, enquanto o moçambicano BCI contribuiu com 17 milhões.

A margem financeira cresceu 3%, para 234 milhões de euros, «suportada pelo crescimento do volume de crédito» (aumentou 8% para 28,7 mil milhões de euros, o que permitiu reforçar a quota de mercado para 11,3% em maio). As comissões aumentaram 11% em termos homólogos para 145 milhões. No entanto, João Pedro Oliveira e Costa explicou que esta subida das comissões está relacionada com a dinamização da atividade e não com a subida do preçário dos serviços e produtos do banco.

Já o produto bancário somou 6%, para os 393 milhões, enquanto, ao nível do crédito, os empréstimos às empresas subiram 8%, para 11 mil milhões, e às famílias para a compra de habitação aumentou 11%, para 13,8 mil milhões. Oliveira e Costa disse que as novas operações em pipeline já estão a registar um abrandamento no último mês, quando o Banco Central Europeu (BCE) já começou a apertar a política monetária na Zona Euro.

Oliveira e Costa considerou que o malparado há muito deixou de ser um tema para a instituição financeira, mas reconheceu que a inflação é «claramente o tema mais preocupante neste momento».

A nível de custos assistiu-se a redução para 221,6 milhões de euros, uma vez que se assistiu a redução do custo com o pessoal, mas ao mesmo tempo, houve um aumento nos gastos gerais e no investimento em software e na obra no edifício Monumental, em Lisboa. O banco fechou o semestre com 4.461 trabalhadores (menos 17 que no início do ano), e 339 agências (menos 10). Ainda assim, o CEO deixou a garantir de que iria haver um aumento em termos de contratação. «Vamos contratar 30 pessoas. Há um caminho a fazer na renovação dos quadros do banco».

 

Maior aumento mas lucros mais reduzidos

Já o lucro do BCP disparou 500%, para 74,5 milhões de euros. O banco liderado por Miguel Maya tinha, em igual período do ano passado, registado 12,3 milhões de euros. A instituição financeira justificou estes resultados pelo «aumento significativo do resultado na atividade em Portugal, pese embora o seu impacto tenha sido em grande parte absorvido pela redução do resultado da atividade internacional». Ainda assim, garantiu que «o resultado da atividade internacional e consequentemente o resultado do grupo encontram-se fortemente penalizados pela constituição, no primeiro semestre do ano, de imparidades no montante de 102,3 milhões de euros, referentes à totalidade do goodwill associado à participação que o grupo detém no Bank Millennium, na Polónia». Recorde-se que a subsidiária polaca apresentou prejuízos de 262,6 milhões de zlótis (56,6 milhões de euros ao câmbio atual), levando à constituição de imparidades de 102,3 milhões de euros.

A somar a estes custos há que com o acréscimo das contas suportadas com as contribuições obrigatórias que passaram de 51,81 milhões para 116,71 milhões de euros , bem como ao acréscimo dos custos associados à carteira de créditos hipotecários em moeda estrangeira, que evoluíram de 234,31 milhões, para 257,81 milhões. Mas apesar destas exigências, o CEO do banco, já afastou a necessidade de avançar com um aumento de capital.

A margem financeira aumentou 28,6% para 985,2 milhões de euros, no entanto, garante que em relação ao negócio em Portugal, a taxa da margem financeira ainda se encontra algo pressionada pela exposição ao crédito covid. Também as comissões subiram 11%, para 332,7 milhões, «beneficiando principalmente do desempenho da atividade em Portugal, refletindo em larga medida a progressiva normalização da atividade económica».

Já os custos com o pessoal totalizaram 278,5 milhões de euros nos primeiros seis meses de 2022, apresentando uma redução de 2,5% face aos 285,6 milhões de euros contabilizados no período homólogo de 2021. Miguel Maya disse que, para já, não está previsto nenhum plano de redução de trabalhadores em Portugal, apesar de admitir que «as empresas têm de estar permanentemente atentas a necessidades de ajustamento de pessoal». Recorde-se que, em 2021, a instituição financeira avançou com um processo de redução de trabalhadores, tendo chegado a acordo com cerca 700 para saírem por rescisão por mútuo acordo, reforma antecipada e pré-reforma.