O município de São João da Pesqueira poderá ficar sem água para consumo humano na Barragem de Ranhados em meados de setembro se até lá não chover.
Quem o disse foi o presidente da Câmara, Manuel Cordeiro, em declarações à agência Lusa, admitindo que "a situação é preocupante porque, mesmo com o esforço todo que estamos a fazer, prevê-se que em setembro, se não chover, não teremos água nas torneiras, portanto é uma situação grave".
O governante sublinhou que desde o início do ano que a autarquia tem "vindo a adotar medidas, no sentido de reduzir o consumo", uma vez que se previa um ano de seca.
Uma dessas medidas foi a criação de "uma equipa permanente para detetar e reparar fugas e condutas, algumas com mais de 30 anos, e a redução de regas" de vários espaços.
"Deixámos de regar jardins públicos e fomos obrigados, não só por uma questão moral, mas também legal, a cobrar água a todas as associações e IPSS [instituições particulares de solidariedade social], porque tem de ser assim", disse ainda.
Manuel Cordeiro afirmou que as medidas têm tido alguns resultados, nomeadamente comparando o último semestre com o mesmo período do ano passado, em que São João da Pesqueira "reduziu 23% o consumo, o que é razoável, tendo em conta o ano que é um ano de seca" em Portugal.
O responsável admite que tal como no resto do país, se vive naquele concelho uma situação de seca, "talvez numa situação mais agravada", e que o Governo foi interpelado acerca desta preocupação no mês passado, ainda não tendo, contudo, respondido.
O município de São João da Pesqueira, na área norte do distrito de Viseu, é abastecido pela Barragem de Ranhados, assim como os municípios de Vila Nova de Foz Côa e Meda, no distrito da Guarda, que estão "exatamente na mesma situação", afirma o autarca.
"Foram os três municípios que há uns 40 anos construíram a Barragem e, nos últimos anos somos abastecidos em alta pelas Águas do Norte –, desde o início do ano, temos vindo a reunir para reparar esta falta de chuva e de água", refere ainda.
Manuel Cordeiro considera ainda que a "solução não passa só pelas autarquias, apesar de a Câmara estar a fazer tudo o que pode", sendo que uma das situações possíveis pode ser o "uso das águas residuais para as regas".
"Já temos os filtros e autorização das Águas do Norte e da APA [Agência Portuguesa do Ambiente] e agora vamos passar à execução, ou seja, vamos filtrar as águas das ETAR [estações de tratamento de águas residuais] para regas", avança.
O município "é muito agrícola e, como tal há muitas regas, nomeadamente com as novas plantações de vinhas que precisam de muita água, ao contrário das velhas e, por isso, há um consumo muito grande" de água.
"Se as pessoas não tiveram água nos poços, que também estão a secar, usam a da rede, claro. Se nós conseguirmos filtrar a das ETAR para uso nas regas estamos a poupar a água da Barragem para o consumo humano", afirma.
Outra das soluções apontadas pelo autarca é o "uso da água de nascentes e também dos furos que a autarquia está a fazer, mas também para rega, porque a lei não permite o consumo humano da água de furos e nascentes".
"Ouço Lisboa dizer que temos reservas para dois anos, não é o caso aqui. Interpelámos o Governo, porque precisamos de saber o que é que se propõe fazer para resolver esta nossa preocupação", sublinha.
Isto, porque, continuou, "se estes três concelhos ficarem sem água em meados de setembro, tudo está em cima da mesa e certamente a água das nascentes e furos será levada para reservatórios para ser tratada e consumida".
"Legalmente não é possível, mas é uma hipótese e, por isso, esperamos uma resposta do Governo. Estamos a trabalhar muito a sério nesta matéria, que nos preocupa muito", diz Manuel Cordeiro, explicando que a falta de água "não é um problema deste ano, é um problema para o futuro".