É a prova rainha do ciclismo português e este ano começa debaixo da polémica do doping: uma equipa, a W52- FC Porto, foi afastada e a dois dias do começo as autoridades policiais fizeram visitas a outras equipas para detetarem mais casos suspeitos.
A W52-FC Porto viu a sua licença retirada pela União Ciclista Internacional (UCI), depois de oito ciclistas e dois elementos do staff da equipa terem sido suspensos preventivamente, a 15 de julho, pela Autoridade Antidopagem de Portugal (ADoP) no âmbito da operação “Prova Limpa”. Se não tivesse sido o organismo internacional, a W52- FC Porto teria corrido com ciclistas contratados em Espanha, já que Joaquim Gomes, organizador da prova, o tinha permitido. A UCI é que não foi na conversa e suspendeu a equipa. Depois dessa decisão, um dos responsáveis da ADoP chegou a receber cartas em casa com cartuchos, o que obrigou a sua família a ter proteção policial.
A mesma W52-FC Porto que, na edição de 2021 da Volta a Portugal, viu o seu ciclista Amaro Antunes sagrar-se bicampeão, depois de ter vencido também em 2020. Aliás, desde 2016 que a prova tem sido vencida por ciclistas da W52-FC Porto se bem que o espanhol Raúl Alarcón viu serem-lhe retirados os títulos de 2017 e 2018, devido a uma suspensão por alegado uso de doping.
O arranque desta edição da Volta a Portugal mantém-se ainda rodeado de grande polémica e incerteza, uma vez que, nos momentos que o antecederam, a novela em torno do doping nos ciclistas não parecia ter acabado. Na terça-feira, a dois dias do arranque da prova, a Polícia Judiciária do Porto encontrava-se a realizar buscas, por suspeita de uso de doping, em várias equipas de ciclismo.
À ausência dos ciclistas da W52-FC Porto juntaram-se, pelo menos, mais quatro: Luís Mendonça, da Glassdrive, João Benta e Francisco Campos, da Efapel, e Daniel Freitas, da Rádio Popular-Paredes-Boavista. Mendonça e Benta ciclistas chegaram a constar primeira lista enviada pela organização, acabando por ser, entretanto, afastados pelas respetivas equipas, sem terem sido publicadas, até à hora de fecho desta edição, as razões do afastamento.
“No dia de ontem [quarta-feira], fui também alvo de buscas domiciliárias. Desconheço a motivação e muito menos compreendo o timing. Certo é que concluídas as buscas – com as quais colaborei integralmente, merecendo da parte dos inspetores da PJ igual correção – não fui constituído arguido. Nada foi encontrado na minha residência que pudesse estar relacionado com qualquer substância ou utensílio utilizado na prática dopante”, detalhou João Benta, ciclista da Efapel, em comunicado enviado à agência Lusa, onde garante estar “triste, desolado e revoltado, mas acima de tudo de consciência tranquila”.
segurança “A Podium mantém-se concentrada em colocar na estrada mais uma grandiosa edição da Volta que terá início esta quinta-feira, 4 de agosto, em Lisboa. Temos a certeza que durante quase duas semanas, como sempre acontece no verão, o país continuará a viver de forma apaixonada e debruçado sobre a estrada as intrépidas aventuras dos heróis de bicicleta”, pode-se ler num comunicado emitido pela Podium, empresa organizadora da Volta a Portugal, recordando que “desde a primeira hora” e “em defesa da verdade desportiva”, se constituiu parte da Comissão de Estrada promovida pela Federação Portuguesa de Ciclismo, “a qual emanou um protocolo destinado à autorregulação da comunidade profissional portuguesa, constituindo um compromisso de todos os agentes envolvidos com as boas práticas desportivas”.
volta de emoções Falando agora de ciclismo propriamente dito, a 83.ª edição da Volta a Portugal arranca hoje com um prólogo em Lisboa, de 5,4 quilómetros, ao longo da avenida da Índia, começando e acabando na Praça do Império, em Belém, e o resto serão 10 etapas de emoção do início ao fim.
Depois do prólogo em Lisboa, a primeira etapa da 83.ª Volta a Portugal parte de Vila Franca de Xira, numa tirada que rumará a Elvas, num percurso de quase 200 quilómetros que posicionará os ciclistas para a segunda etapa da prova, que inclui um ‘saltinho’ à vizinha Espanha. Ao terceiro dia de Volta, os ciclistas em prova vão percorrer 181,5 quilómetros entre Badajoz e Castelo Branco, passando por Campo Maior, Portalegre e Vila Velha de Ródão.
É, no entanto, na terceira etapa que chega o primeiro grande teste desta edição da Volta a Portugal: partindo da Sertã, os ciclistas vão chegar ao alto da Torre, na Covilhã, completando a subida à Serra da Estrela que todos os anos é um dos pontos altos da prova rainha de ciclismo em Portugal.
Depois, o roteiro tem muito que se lhe diga: a quarta etapa será relativamente mais calma, entre a Guarda e Viseu, local onde se realizará o único dia de descanso desta edição da Volta, regressando os ciclistas ao terreno no dia 10, entre a Mealhada e Miranda do Corvo, seguindo-se a sexta etapa, entre Águeda e a Maia.
É a partir daí que a competição ruma a Norte, onde a sétima tirada partirá de Santo Tirso, com chegada a Braga, e a oitava etapa, entre Viana do Castelo e Fafe.
A conclusão da 83.ª Volta a Portugal em bicicleta começa a desenhar-se no domingo, 14 de agosto, dia de subida à Senhora da Graça, mais um dos momentos icónicos desta prova rainha do ciclismo em Portugal, que ficará concluída com um contrarrelógio entre o Porto e o concelho vizinho de Vila Nova de Gaia, do outro lado do rio Douro.