Por Simões Ilharco
Há homens que andam à frente do seu tempo, outros atrás. D.Manuel Clemente foi um homem fora do seu tempo. Nunca compreendeu, ou melhor, não quis compreender os ventos de mudança que sopravam no Vaticano com o Papa Francisco.
Foi incapaz de renovar a Igreja portuguesa. O 'aggiornamento' da Igreja Católica não teve seguimento em Portugal. Em minha opinião, revelou-se o pior dos cardeais-patriarcas no pós-25 de Abril.
Sabe-se agora que protegeu um padre suspeito de abusos sexuais e que pôs o lugar à disposição do Papa Francisco, que lhe terá pedido para continuar até às Jornadas Mundiais da Juventude em Agosto de 2023, segundo noticiou este jornal na sua edição impressa.
O melhor sucessor de D.Manuel Clemente seria, a meu ver, D.Jorge Ortiga, arcebispo primaz de Braga, que é um prelado moderado e moderno e que condenou as incursōes que D.Manuel Clemente fazia na política, desrespeitando uma máxima: "a César o que é de César, a Deus o que é de Deus".
O apoio público que D.Manuel Clemente dava aos actos de Cavaco Silva foram uma mancha negra na Igreja portuguesa fazendo lembrar a cumplicidade que havia entre Cerejeira e Salazar.
Ultraconservador, D.Manuel Clemente tomou outras posições altamente retrógradas e que o distanciavam do espírito aberto e progressista do Papa Francisco. Terá dito que passou de bestial a besta, mas, que me perdoe, nunca o considerei bestial. A história será pouco amável com ele.