Com o incêndio da Serra da Estrela a ser o mais extenso registado em 2022, a área ardida em Portugal desde o início do ano já é a maior desde 2017, ano que bateu todos os recordes. Até esta quinta-feira à noite somavam-se 78 937 hectares ardidos, já quase três vezes mais do que em todo o ano passado (28 360). Se 2021 tinha sido o ano com menor área ardida desde 1988, este ano voltará a figurar entre os piores, estando no entanto longe das tragédias de 2017, em todas as dimensões. Arderam naquele ano em que os fogos mataram 112 pessoas 539 921 hectares.
Ontem, justificando que não foi à Serra da Estrela por ser essa a regra instituída pelo Governo desde 2017 – não fazer deslocações a teatros de operações, como recomendou a Comissão Técnica Independente – o ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, admitiu semanas duras pela frente, alertou para a subida das temperaturas e pediu que se vivam as festividades locais em segurança.
Confrontado com não ter sido ativado o mecanismo europeu de combate a incêndios, José Luís Carneiro justificou a decisão com as limitações europeias: «Os meios são escassos e limitados. Ontem e hoje tivemos o apoio de Espanha, que já apoiámos quando precisou. Pode ser aprovado o mecanismo europeu em circunstâncias em que os meios estejam disponíveis».
O que se soube também esta semana é que os Canadair estiveram vários dias inoperacionais, tendo falhado a chamada à Serra da Estrela. «Não basta ir ao stand», justificou António Costa. Ali, no coração da Serra, complicam-se as comunicações. Quando o Nascer do SOL tentou falar com o presidente da Câmara Municipal de Manteigas, dos concelhos mais fustigados, a resposta nos serviços foi que era difícil contactar o autarca, no teatro de operações, com as mensagens de telemóvel a falhar e muitas zonas de ‘sombra’ nas antenas. Uma das críticas de Flávio Massano esta semana foi terem sido feitas descargas aéreas não na zona de Manteigas mas mais perto de Penhas de Saúde, onde passou a Volta a Portugal. Não está sozinho: uma carta aberta dirigida à Federação Portuguesa de Ciclismo por um antigo residente de Manteigas criticou não ter sido cancelada a 3ª etapa entre a Sertã e a Torre, no domingo. «Na verdade, acontece que os meios necessários e que foram efetivamente empregues para que a etapa decorresse sem incidentes não estavam onde deviam – ou seja, no combate ao fogo», critica Nuno Melo, na carta a que o Nascer do SOL teve acesso.
António Nunes, presidente da LPB, questionado sobre esta opção, diz não se rever nesta crítica, sublinhando que os meios de combate a incêndios rurais são diferentes dos meios urbanos e que, mesmo quando há fogos, os bombeiros asseguram 85% das emergências. «Para a Volta a Portugal podem ir os carros urbanos. Estive atento e não me parece que tenha havido qualquer situação de desvio de meios. Poderão ter razões outras críticas, mas neste caso parece-me exagerado».