O país assistiu aos atos de violência de dezenas de adeptos do Hadjuk Split em Guimarães, na noite de terça para quarta-feira, e logo se tentou arranjar um bode expiatório – recaindo muitas das críticas no diretor-nacional da PSP, o superintendente-chefe Magina da Silva.
Curiosamente, o responsável máximo da PSP estava de férias e os seus serviços mais próximos não falharam na avaliação da situação, segundo explica ao Nascer do SOL fonte policial. «O departamento de informações da direção-nacional enviou para os comandos do Porto e de Braga, que tem a ‘jurisdição’ de Guimarães, uma nota a dar conta da provável presença de desordeiros em Guimarães entre as 20 horas e a uma da manhã. Nesse mesmo documento, avisavam que outros desordeiros da mesma claque poderiam provocar distúrbios na Ribeira e na zona dos Clérigos. O comando do Porto destacou o Corpo de Intervenção para esses locais, já o responsável de Braga desvalorizou as informações e não mandou as quatro ou cinco equipas de intervenção rápida para Guimarães».
Não sendo próxima de Magina da Silva – muitas vezes até estão em campos opostos -, a mesma fonte esclarece que nunca o diretor-nacional aceitaria desvalorizar as informações do seu departamento. «Quando esteve à frente da Unidade Especial de Polícia ele nunca desvalorizou nenhuma informação. Até pelo contrário. Se recebia alguma nota a dizer que seria expectável haver confrontos de pouca gravidade, não arriscava e mandava sempre mais elementos do Corpo de Intervenção do que seria suposto. Sempre jogou pelo seguro».
Mas os confrontos de Guimarães trouxeram, de novo, à tona os conflitos dentro da PSP, onde alguns oficiais estão a posicionar-se para substituir Magina da Silva, que, oficialmente, acaba a sua comissão de serviço no final de janeiro – não estando por isso muito preocupado com o seu futuro, dizendo-se até que deverá ir para o estrangeiro, à semelhança de Luís Farinha, que depois de deixar a chefia da PSP foi colocado em Paris como oficial de ligação entre o Ministério da Administração Interna e a embaixada portuguesa na capital francesa. E, claro, com um ordenado muito mais compensador.
«O Magina da Silva está a fazer um trabalho magnífico, superando e muito as minhas expectativas, mas está cansado destas jogadas políticas que começaram no momento em que teve o encontro com o Presidente da República [a 13 de dezembro de 2020], onde à saída anunciou a fusão da PSP e do SEF. Alguém acredita que Magina teria feito esse anúncio sem a autorização do Presidente?», questiona um oficial da direção-nacional. «Certo é que desde esse dia elementos ligados ao Partido Socialista lhe têm tentado fazer a cama. Basta ver as notícias que plantam nos jornais para o queimar», acrescenta a mesma fonte. «Não sou só eu que tiro o chapéu ao Magina, pois procura defender os polícias e não se verga ao poder político», diz ainda o destacado oficial.
Carros alugados em Vigo
Voltando aos confrontos de Guimarães, tal como o diário i noticiou, o Corpo de Intervenção, sediado no Porto – responsável pela segurança de Coimbra para cima, ocorrendo a feiras, concentrações de motards, etc. – ficou à espera que a claque dos croatas provocasse os desacatos na zona da Ribeira e nos Clérigos, e não avançou para Guimarães, na noite de terça-feira, porque os seus serviços não foram solicitados pelo comando de Braga, onde o responsável máximo também se encontrava de férias. Só depois dos confrontos é que foi acionado o Corpo de Intervenção, que nada pôde fazer, pois já tudo tinha acabado.
Depois de espalharem o terror no centro de Guimarães, os adeptos do Hajduk Split entraram em três autocarros e em carros alugados e voltaram aos seus hotéis, tendo sido intercetados pela PSP, que identificou 154 adeptos, 23 dos quais portugueses, 122 croatas e nove de outras nacionalidades. «O que podia fazer a Polícia nessa situação, a não ser identificar os adeptos, já que não foi em flagrante delito? Ia deter preventivamente aquela gente toda sem culpa formada? Claro que era um disparate», explica outro oficial da PSP.
Muitos dos adeptos que se deslocaram em viaturas particulares alugaram-nas em Vigo, Lisboa e Porto, de forma a despistar as forças policiais. E, como já foi noticiado, tiveram a colaboração de elementos ligados aos No Name Boys, a claque mais radical do Benfica. «Muitas das matrículas eram espanholas, e eles vandalizaram carros em Trofa, antes ou imediatamente a seguir ao fim do jogo», adianta fonte policial.
Escaldados com o escândalo da noite anterior, a PSP, na quarta-feira de manhã, dia do jogo, enviou 80 homens do Corpo de Intervenção de Lisboa para Guimarães, o que fez com que esses agente tivessem trabalhado 30 horas seguidas, pois tinham acabado o seu turno quando foram enviados para o local do jogo.
«Há agentes do Corpo de Intervenção que estão a fazer mais de 200 horas por mês quando seria suposto fazerem 144. As folgas estão muito condicionadas por causa da falta de efetivos», confessa outro oficial.
Mas nem a presença de 400 elementos policiais impediu que os croatas provocassem desacatos antes, durante e depois do jogo. Antes, mais de 50 elementos da claque estiveram de joelhos longos minutos, garantindo-se dessa forma que não entrariam em confronto com os adeptos do Vitória de Guimarães.
Depois do jogo, a claque dos visitantes virou o seu ódio para os jornalistas e um croata chegou a agredir um repórter de imagem da CNN Portugal, tendo sido detido e entregue à Justiça. Na Trofa vandalizaram vários carros enquanto o Corpo de Intervenção se deslocava rapidamente para o Porto, lugar onde seria suposto haver confrontos entre a claque dos Super Dragões e a do Hajduk Split e a dos No Name Boys. «São guerras antigas e fomos informados que eles teriam combinado, nas redes sociais, os confrontos», explica outra fonte policial.
O forte dispositivo policial terá evitado o pior.