O Chega vai apresentar, a 17 de outubro, a federação sindical ‘Solidariedade’, apurou o i.
A apresentação deste novo projeto do partido vai acontecer no Alentejo, onde por tradição a esquerda obtém os melhores resultados eleitorais.
A federação sindical que agora vai nascer será, apurou o i, uma plataforma de agregação dos vários setores profissionais, desde professores a profissionais de saúde. A ênfase será colocada, no entanto, nas forças policiais e de segurança, que constituirão a grande aposta desta força sindical, que, aliás, pretende tentar repescar o movimento ZERO, institucionalizando-o como sindicato propriamente dito, cumprindo todas as regras previstas.
O sindicato que agora vai nascer pelas mãos do Chega chamar-se-á ‘Solidariedade’, tal como o sindicato do VOX, partido ‘irmão’ do Chega em Espanha, parte da mesma família europeia de partidos: o grupo Identidade e Democracia (ID), que, por sua vez, se inspirou no projeto sindical Solidarnosc do polaco Lech Walesa, que ajudou a derrubar o comunismo na Europa de Leste.
É porém o sindicato que tem no seu ADN o partido liderado por Santiago Abascal que serve de grande inspiração para o recém-criado projeto do Chega. Criado em 2020, o Solidaridad, que oficialmente se chama Sindicato para a Defensa da Solidariedade dos Trabalhadores de Espanha (SPDSTE), disse Abascal, está “ao serviço dos espanhóis e não de partidos políticos ou de causas ideológicas”.
O i sabe, no entanto, que o nascimento do Solidariedade, pelas mãos do Chega, pretende ‘ocupar’ o espaço do sindicalismo ocupado, principalmente, por partidos da esquerda como o PCP e o PS. Daí, aliás, que a apresentação do sindicato tenha sido marcada para o Alentejo, onde estes partidos costumam ter os seus melhores resultados, nomeadamente os comunistas. Também a data escolhida não é inocente. O regresso dos trabalhos na Assembleia da República está marcado para setembro, numa “fase em que provavelmente a contestação na rua vai aumentar com a maioria absoluta do PS, e o Chega quer garantir que não volta a acontecer o que aconteceu entre 2011 e 2015, em que a contestação fica entregue à esquerda, mas também de defesa dos serviços públicos, dos trabalhadores, de direita”, diz fonte próxima do partido ao i.
“As ruas são da direita desde o aparecimento do Chega”, já dizia André Ventura em 2020, e a mensagem parece ressoar agora, dois anos depois. Isso sim: não será necessário ser militante do Chega para fazer parte deste sindicato. Aliás, em setores onde o partido tem uma presença menor, o mesmo procurará fundir alguns sindicatos já existentes que procurem integrar esta federação sindical.
Panorama ibérico O ‘batismo’ do sindicato com o mesmo nome que o do seu ‘irmão’ espanhol não é coincidência. A nova estrutura deverá nascer num ambiente de parceria com o Solidaridad do VOX, atacando temas comuns aos dois países, ambos governados por Governos socialistas.
Ao que o i apurou, a aceitação da criação do Solidariedade não foi unânime na família europeia onde o Chega está integrado, ainda assim, tanto por desconfiança do sindicalismo, como por entender que a luta do partido não deve ser travada pelos mesmos meios da esquerda. O panorama “específico” da Península Ibérica levou, no entanto, o partido a avançar na mesma com a criação deste projeto.
Além da aposta nas forças de segurança, o Solidariedade deverá também colocar as suas fichas na indústria do calçado e metalúrgica, os polos onde o PCP tem tradicionalmente uma presença forte no meio sindical.