Tiras de Verão

Das longas-metragens de animação produzidas por Walt Disney, algumas personagens secundárias autonomizaram-se posteriormente, tornando-se elas próprias estrelas com universo próprio nos comics, em jornais e revistas.

Por Ricardo António Alves

Das longas-metragens de animação produzidas por Walt Disney, algumas personagens secundárias autonomizaram-se posteriormente, tornando-se elas próprias estrelas com universo próprio nos comics, em jornais e revistas. Não será bem o caso de Zé Carioca de “Alô Amigos” (1942) e “A Caixinha de Surpresas” (1944) – colaboração de Disney com a CIA -, em que o papagaio tem um papel do maior relevo; tal sucede, por exemplo, com o notável Lobo Mau, de “Os Três Porquinhos” (1933, óscar para melhor filme de animação), a quem foi arranjado um filho bonzinho e amigo dos potenciais presuntos, o austero Grilo Falante de “Pinóquio” (1940), o trio composto pelos vivazes coelho Quincas, raposo João Honesto e o bronco urso Zé Grandão, extraídos desse filme belíssimo que é “A Canção do Sul” (1946) – abalroado pela censura que a nós parece exacerbada e estúpida, mas que fará sentido nas Américas do racismo estrutural -, passando pela terrífica e horrorosa Madame Min do soberbo “A Espada Era a Lei” (1963), todas estas criaturas tiveram, com assinalável êxitos as suas histórias aos quadradinhos. Disney era além de visionário, aquilo a que hoje se chamaria um génio do empreendedorismo, no que não haveria grande mal (não afrontara ele uma das majors e lançara Mickey?; não produzira ele o primeiro desenho animado sonoro, “Steamboat Willie”, em 1928?; não empenhara couro e cabelo na produção de “Branca de Neve e os Sete Anões”, de 1937?…). Um dos problemas de Walt, porém, era ser um patrão à maneira da bela canção do nosso Fausto. A greve dos seus animadores, na década de 1940, ou a obliteração de nomes extraordinários dos comics, como Iwerks, Gottefredson, Barks, Murry, entre tantos outros…

O livrinho de hoje, leitura estival, fala-nos de tudo o que temos vindo a escrever, sem que sobre tal adiante uma só palavra: As Melhores Piadas do Banzé, tiras publicadas pela Editora Abril, em 1977, em que um discreto “Walt Disney apresenta” remete uma enganadora autoria para “o mago de Burbank”, cremado havia já onze anos (e não criogenizado, de acordo com o mito urbano). Banzé (ou Scamp, no original), é o filho macho de “A Dama e o Vagabundo”, filme de 1955, com uma brevíssima aparição no final. Sem nenhuma importância que se assemelhe ao Grilo Falante ou a Madame Min, a feiticeira que defronta Merlim… A história parte de um conto de Ward Green (1892-1956) – o co-criador, com Alex Raymond, de Rip Kirby (ver o “Abecedário”, na coluna da direita) -, e a verdade é que durante mais de trinta anos, os leitores seguiram as peripécias do filhote de Viralata e Lili nas imediações do seu confortável quintal, sempre com criaturas perigosíssimas, tais outros cachorros, gatos, passaritos, rãs, joaninhas, mosquitos, palmípedes e até crianças – e muito de vez em quando algo realmente inusitado, como um extraterrestre, pois estava-se em plena ovnimania… Historinhas inocentes para crianças inocentes, vários foram os desenhadores que lhe emprestaram o lápis, entre 1958 e 1975, os anos que esta edição abarca. Pelo indispensável Inducks, sabemos que o primeiro foi Dick Moores (1909-1986), antigo assistente de Chester Gould em Dick Tracy; mas isso, e o resto, o livrinho não diz.