Os nomes não enganam. Tal como os originais, são clubes fundados por ingleses. E ingleses de Liverpool, como está bem de ver. O primeiro nasceu à beira do Pacífico, no Chile, em Viña del Mar, La Ciudad Jardín, lugar para o qual os que vivem em Santiago, sequiosos de praia e de ondas, marcham aos fins de semana e se misturam com turistas aos milhares. Ano? 1909. Dia? 24 de Junho. A alcunha que lhe puseram é curiosa e ajuda a entender as suas origens: Ruleteros. Porque o grupo de jovens que teve a ideia de fundar o Everton de Viña del Mar eram aficionados dos casinos e, sobretudo, da roleta. Um fulano chamado David Foxley foi o grande cabouqueiro do Everton numa altura em que o Everton original, o de Goodison Park, realizava uma digressão pela América Latina. Começou por chamar-se simplesmente Everton Football Club. Só em 1950 é que o presidente da altura, um descendente de ingleses, Francisco Boundy, tomou a decisão de o distinguir definitivamente de qualquer outro Everton, a começar pelo de Liverpool, e acrescentou-lhe o Viña del Mar. Foxley acabou por ser um keeper de certa categoria e, no jogo de estreia do clube, contra outra organização fundada por britânicos, o Graphie FC, assumiu a defesa das redes com todo o estilo que lhe era reconhecido.
O Everton de Viña del Mar foi, desde início, um caso raro de ecletismo. Os seus associados praticavam desde natação ao atletismo, do rugby ao basquete, do badmington à ginástica. Mas, como não podia deixar de ser, o futebol foi o coração que fez andar a máquina. E com os seus quatro títulos nacionais, 1950, 1952, 1976 e 2008 (torneio de abertura) transformou-se num dos mais bem sucedidos emblemas de fora da capital, e todos sabemos como na América do Sul as capitais sugam os grandes jogadores de forma ávida fazendo dos seus clubes verdadeiros papa-taças. Com 63 participações na I Divisão chilena, uma Taça do Chile (1984) nas vitrinas, e duas presenças na Copa Libertadores, o Everton de Viña del Mar está neste momento no oitavo lugar da classificação, ou seja, precisamente a meio já que a prova é composta por 16 equipas. As ambições não são grandes – talvez, quanto muito, sonhar com uma qualificação para a fase de grupos da Copa Sul Americana. Pouco mais.
Em 1915 Se os scousers do Chile criaram o seu Everton, os do Uruguai fundaram, pouco tempo mais tarde, o seu Liverpool. Foi em 15 de Fevereiro de 1915, num bairro agradável da cidade, tal como o nome indica: Belvedere. Curiosamente, os seus ideólogos eram estudantes de um colégio capuchinho chamado Nuevo París. Nada a ver com Liverpool, portanto. Mas um dia, um tal de José Freire, que assumia uma certa influência sobre os demais, ao espiolhar um mapa de Inglaterra deu com aquele ponto negro que indicava a cidade de Liverpool. O nome encasquetou-se-lhe. E agradou aos seus colegas ingleses, muitos deles familiares dos vendedores de carvão que viajava, precisamente, do grande porto da Grande Ilha até Montevidéu, nos navios que cruzavam o Atlântico. E assim, no tal 15 de Fevereiro, nos armazéns da família Chinchurreta, o Liverpool Fútbol Club veio ao mundo, não vestindo de vermelho, como o original, mas de preto e azul de forma a homenagear dois dos clubes mais populares da época, o Titán e o Defensa. Em 1920 já estava na I Divisão.
Neste momento, o Liverpool é 10.º numa classificação de 16 clubes. Orgulha-se das vitórias no Torneio de Clausura (2020), no Intermedio (2019) e no Abertura (2002). E de duas presenças na Libertadores. Mas, mais do que isso, de ter tido um guarda-redes chamado Roque Máspoli – titular da seleção na vitória do Mundial de 1950.