Depois de ter surgido em vídeos, divulgados na semana passada, que a mostraram a dançar e a festejar com um grupo de amigos e celebridades, gerando polémica, Sanna Marin continua a gerar controvérsia. Agora, a primeira-ministra da Finlândia pediu desculpa por uma fotografia captada na sua residência oficial, na qual é possível ver duas mulheres a beijarem-se e em topless, causando novamente furor na imprensa internacional e nas redes sociais.
«Penso que a fotografia não é apropriada, peço desculpa por isso. Tal fotografia não deveria ter sido tirada», disse Marin em declarações aos jornalistas, em Helsínquia, tendo confirmando que a imagem em causa foi tirada na sua residência oficial em Kesaranta, depois de ter assistido a um festival de música que ocorreu entre os dias 8 e 10 de julho. A líder do governo finlandês também confirmou que tinha «amigos» na sua residência, por essa altura, «a passar a noite» e «a ir à sauna».
A fotografia foi veiculada, em primeira instância, na rede social TikTok por uma ex-concorrente do concurso Miss Finlândia e ainda influencer que aparece na fotografia, e depois difundida pelos meios de comunicação social, com o jornal finlandês Helsingin Sanomat a escrever que a primeira-ministra não parece estar «no controlo» da situação e que mais conteúdos como este poderão vir a público.
Antes disto, os vídeos eram as imagens que mais furor causavam. Todavia, esse episódio já não entusiasma tanto os críticos de Marin porque as suas suspeitas acabaram por não ser corroboradas. A verdade é que após ter sido pressionada para realizar um teste de deteção de drogas para “afastar suspeitas”, Marin fez o mesmo e deu negativo.
«O teste de drogas feito pela primeira-ministra Sanna Marin a 19 de agosto de 2022 não revelou a presença de drogas», revelou o gabinete de Marin, em comunicado, acrescentando que os resultados foram assinados por um médico. «O teste foi um teste de drogas abrangente. Não escolhemos como o teste foi feito».
A amostra de urina da dirigente política foi testada para a presença de várias drogas, como por exemplo cocaína, anfetaminas, cannabis e opióides, disse à AFP Iida Vallin, assessora especial da primeira-ministra. Mas, infelizmente, a vida pessoal de Marin não está a ser escrutinada somente agora: a título de exemplo, no início do verão, surgiu no Ruisrock Festival – segundo evento de rock mais antigo da Europa, que remonta a 1970 – com calções curtos de ganga, botas e casaco de cabedal.
O outfit festivaleiro de Marin – que ocupou o cargo em 2019 e, nessa altura, foi considerada a primeira-ministra mais jovem do mundo a ser eleita -não foi visto com bons olhos e, subitamente, parecia que o facto de apreciar música rock eliminava os anos que já passara no parlamento, desde 2015, como membro do Partido Social Democrata.
«Nem tentes fingir que o teu primeiro-ministro é tão fixe quanto Sanna Marin no Festival Ruisrock [decorreu no último fim de semana, entre os dias 8 e 10 de julho]», escreveu, à época, um utilizador do Twitter. «Quão incrível seria se tivéssemos uma presidente como ela?», questionava outro. «A primeira-ministra finlandesa está a estabelecer um novo padrão de moda no universo político», admitia ainda mais um utilizador.
Ainda assim, apareceram, de imediato, e tal como atualmente, vozes que se opuseram à conduta de Marin: «Isto é muito engraçado, mas gostava que as pessoas prestassem mais atenção ao que os políticos alcançam na sua linha de trabalho para o bem de todos, em vez de quão incríveis ficam de calções num festival».
«Sanna Marin, a primeira-ministra finlandesa que teve que dar explicações ao machismo, aos falsos moralistas e misóginos que se aproveitaram do facto de a mesma ter vida própria, para chegarmos ao estado de alerta, em que tem de se sujeitar a um teste de despiste de drogas ou a críticas homofóbicas por ter sido criada por duas mulheres. Ora bem, desde políticos apanhados a verem pornografia no parlamento, a políticos e respetivos ministros em festas covid, vimos de tudo. No entanto e por o seu nome ser Sanna e não David, houve material para mangas dentro dos corredores do poder político finlandês», desabafa, em declarações à LUZ, a ativista dos direitos humanos Francisca de Magalhães Barros que se dedica, principalmente, à defesa das mulheres e das crianças.
«O mais engraçado ou até mesmo irónico é que ao entrevistarem as pessoas na rua sobre este facto, as mesmas responderam que Sanna Marin tinha o direito a fazer o que quisesse com a sua vida privada visto não ter cometido nenhum crime. Acho que isto é mais uma chapada de luva branca não tanto para Sanna, mas sim para o estado da política atual, que ora quer mulher emancipadas para as meter na frente, mas afinal quer que sejam recatadas e privadas no lar», avança a também cronista e pintora.
«Enquanto ativista, lamento o pedido de desculpas de Sanna. É política, sim. E é mulher com direito a fazer na sua vida privada o que lhe apetecer, sem ser visada por oportunistas políticos e misóginos ilusionistas!», remata.
«Estes são o tipo de polémicas que me cativam pouco. Só não me surpreende que seja tema, principalmente porque estamos em agosto e há pouco para noticiar. No entanto, tendo em conta que estou ligada à comunicação e à politica, acaba por ser interessante perceber como é que um não assunto se torna um assunto tão mediático e de difícil gestão», reflete, a seu lado, Marta Raimundo, formada em Assessoria de Comunicação e Política e membro da Juventude Popular e vice-presidente da Juventude Popular de Setúbal.
«Leva-me a pensar que as pessoas tomam as figuras políticas, um pouco a par do que acontece com as celebridades, como robots de encenação. Como se as mesmas não tivessem vida pessoal, uma casa, família, interesses, hobbies extra à sua vida profissional, e por isso, só podem trabalhar, prestando contas à sociedade. Se relativamente às celebridades é por excesso de proximidade, no caso dos políticos é, por norma, por afastamento e pouca compreensão. As célebres frases ‘eles são todos iguais’ ou ‘isso é tudo gente corrupta’ coloca qualquer político no mesmo patamar, mas depois, quando se mostram mais humanos, no caso, igual a qualquer mulher jovem, que num fim de semana de folga, foi divertir-se com amigos, a mesma é descredibilizada», raciocina a jovem.
«Se numa instância se criticam os políticos, apontando-lhes o dedo por fingirem ser pessoas comuns, em troca de votos, rapidamente se condena por se comportarem como qualquer outro cidadão, fora do exercício dos cargos. Não diria que é uma visão retrógrada, mas pouco humana», realça.
E se fosse homem?
Esta é uma pergunta à qual não conseguimos obter somente uma resposta pois, nos últimos anos, temos percebido que o lado mais privado dos homens do mundo da política também não é respeitado. Em Portugal, um dos últimos casos mais badalados foi o de Paulo Rangel que, no ano passado, surgiu embriagado num vídeo que circulou ininterruptamente nas redes sociais.
«Um vídeo depois de um excesso num jantar com amigos, há anos em Bruxelas, tornou-se viral. Não sei quem filmou, guardou e só agora divulgou. Deploro que o tenha feito, violando os limites da vida privada. Vida, em que como canta o Sérgio, todos temos glórias, terrores e aventuras», foi a reação do conhecido eurodeputado, que contou com o apoio de vários colegas, como foi o caso do eurodeputado Nuno Melo, do CDS/PP.
«Mostra o pior da política e da natureza humana. Não conduzia, não matou ninguém, ia a pé, na esfera da vida privada. É atacado cobardemente por quem esconde a mão sem ter virtude, como a cobardia do acto demonstra. Ao Paulo Rangel deixo um abraço solidário e amigo», publicou, no verão do ano passado, o político no Twitter.
Como o Nascer do SOL noticiou em setembro do ano passado, em Portugal, nos últimos anos, várias figuras políticas assumiram publicamente a sua homossexualidade, com o eurodeputado Paulo Rangel a tornar-se o mais recente caso, e este simples facto suscitou paixões e ódios.
A ministra da Cultura, Graça Fonseca, e André Moz Caldas, secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, são dois outros nomes que assumiram publicamente a sua orientação homossexual. Se fossem heterossexuais, as pessoas pelas quais se sentem atraídos seria notícia? Sabemos que não.
Por outro lado, existem situações ainda mais complexas que nunca chegam a ter qualquer conclusão. A 4 de maio de 2022, começou a circular online um vídeo que mostrava Madison Cawthorn, deputado conservador dos EUA, nu na cama, empurrando os seus órgãos genitais em direção ao rosto de outro homem enquanto gemia.
«Há alguns anos, neste vídeo, eu estava com um amigo, a tentar ser engraçado. Estávamos a agir como dois tolos. Foi apenas isso», declarou o jovem de 27 anos que publicou, no Twitter, um vídeo com a duração de aproximadamente oito minutos em que abordou os acontecimentos que encarava como uma «chantagem».
Independentemente da veracidade do vídeo e do objetivo do mesmo, sabe-se que este episódio, juntamente com outros, levou a que republicanos poderosos, como Kevin McCarthy, o principal republicano na Câmara dos Deputados, se afastassem dele.
É que já tinham corrido rumores acerca de Cawthorn ter sido alegadamente convidado para uma orgia sexual, baseada no consumo de cocaína, em Washington, por líderes que ele respeitava. Tentou, igualmente, transportar uma arma num avião em que viajou, por duas vezes, e chamou «bandido» ao presidente ucraniano Volodymyr Zelensky durante a invasão russa.