Notícia atualizada às 22h42
Mikhail Gorbachov, o último chefe de Estado da União Soviética, vencedor do Nobel da Paz e um dos grandes responsáveis pelo fim da Guerra Fria, morreu ontem em Moscovo de doença prolongada. Tinha 91 anos.
Mais de três décadas depois da queda da União Soviética, o seu legado continua longe de ser consensual. O Ocidente via-o como o político que abriu as portas da democracia no maior país do mundo, enquanto na Rússia era considerado o coveiro do império soviético. Nos últimos anos tinha de viver rodeado de guarda-costas para não sofrer um atentado e quando se candidatou à Presidência da República em 1996 obteve uns meros 0,5% dos votos.
Nascido em 1931, filho de pequenos proprietários rurais, a partir dos quinze anos trabalhou como eletricista, mas acabou por ir para Moscovo cursar Direito. Pertenceu ao Komsomol, a organização juvenil do Partido Comunista, e foi ascendendo na hierarquia. A sua chegada a secretário-geral do partido em 1985 foi uma lufada de ar fresco. Mas logo no ano seguinte teve de lidar com o desastre da central nuclear de Chernobyl.
O facto de ter exigido uma investigação transparente, de acordo com o seu princípio de glasnost valeu-lhe a hostilidade dos militares e da linha dura do partido.
Gorbachov negociou com Reagan um acordo de não proliferação nuclear: planeava que ao gastar uma menor fatia do orçamento em armas podia proporcionar um melhor nível de vida aos cidadãos. Chamou a esse processo de modernização do país “Perestroika”, reconstrução em russo.
Ao mesmo tempo, aliviou o controlo sobre os países-satélite da URSS, dando-se a queda do Muro de Berlim. Foi precisamente por aí que o império começou a desintegrar-se, quando a Lituânia declarou a independência em março de 1990. A União Soviética caiu como um castelo de cartas.
Depois de um primeiro golpe falhado, Gorbachov acabou por ser deposto no dia de Natal de 1991. Na reforma, haveria de engordar e ficar com o rosto inchado. Apesar de tudo, o seu penúltimo livro intitulava-se "Continuo um Otimista".