Uma delegação da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) finalmente conseguiu chegar à central nuclear de Zaporijia, esta quinta-feira, e promete que está para ficar. O objetivo é impedir um acidente nesta central nuclear, a maior da Europa, que tem estado no meio de um duelo de artilharia entre russos e ucranianos, temendo-se que esteja em risco de ser atingida pelo fogo cruzado.
“A AIEA vai ficar aqui”, prometeu o próprio diretor-geral da organização, Rafael Grossi, falando aos jornalistas em Zaporijia, vestindo um colete à prova de bala. A sua viagem foi bastante atribulada, tendo de atravessar a linha da frente entre bombardeamentos.
A Ucrânia tem acusado as forças russas de usar a central de Zaporijia como plataforma de disparo de artilharia, atingindo impunemente a margem norte do rio Dniepre, dadas as naturais reticências em retaliar contra quaisquer instalações nucleares.
Aliás, a operadora Energoatom, cuja equipa ucraniana continua a tentar manter a central nuclear a funcionar em segurança desde que foi ocupada pelos invasores, em março, até anunciou no Telegram que bombardeamentos de morteiros russos atingiram as instalações esta quinta-feira. Obrigando a aplicar os procedimentos de emergência, a ativar geradores auxiliares a diesel para manter a central nuclear e ao encerramento de um dos seus dois reatores funcionais.
Do outro lado, o Kremlin chegou a acusar militares ucranianos de impedir a chegada da delegação da AIEA com bombardeamentos e até de tentar sabotar a central, na quinta-feira. O Ministério da Defesa russo anunciou que umas 60 tropas ucranianas cruzaram o rio Dniepro, tendo os invasores recorrido a aviação nos arredores da central nuclear para os atingir.
Os riscos de segurança, de um disparo atingir o alvo errado, são imensos. Já a Reuters avançou que um dos seus repórteres viu um aumento na atividade militar em Enerhodar, uma cidade satélite da central de Zaporijia, com movimentações de infantaria russa e disparos a partir de helicópteros, tendo um edifício residencial sido atingido por bombardeamentos.
Não admira a dificuldade da equipa de 14 especialistas da AIEA em chegar ao seu destino. Escutaram “fogo pesado de metralhadora, artilharia e morteiros duas ou três vezes, foi bastante preocupante”, contou Grossi, enquanto a delegação iniciava a sua inspeção. Na qual a AIEA “viu as coisas chave que tinha para ver”, assegurou Grossi, algumas horas depois.
Agora, a expetativa é que seja permitido pelo Kremlin que esta agência estabelecer de facto uma permanência de longo prazo na central nuclear de Zaporijia.
Isso poderia dissuadir bombardemanentos ou uso das instalações para fins nucleares. Além de “permitir monitorização constante da central e provas realmente independentes do que de facto se passa ali”, explicou Ross Peel, um perito nuclear King’s College, em Londres, citado pela France Press. É que, no meio de tantos bombardementos, “mesmo quando munições são apontadas para longe de sistemas críticos, podem falhar o alvo”, avisou.