O jovem fracês acusado de matar um estudante portugês no centro do Porto, a 10 de outubro de 2021, disse esta segunda-feira em tribunal que não tinha nada que ver com o crime e que, inclusivamente, nunca tinha visto a vítima.
A primeira sessão do julgamento decorreu hoje no Tribunal de São João Novo, na cidade do Porto, tendo Anas Kataya, 22 anos, começado por dizer que naquela noite se deslocou com um amigo para uma discoteca na zona de Passos Manuel, na baixa, e alegando que foi ele o alvo de uma agressão e de uma tentativa de agressão.
Essas alegadas agressões foram perpetuadas por várias pessoas mas não Paulo Correia, que tinha na altura 23 anos, era basquetebolista do Guifões Sport Clube, concelho de Matosinhos, distrito do Porto, e veio a morrer.
"Se não teve intervenção nos factos que aqui estão a ser julgados, porque é que não disse logo, após a detenção, que era inocente, que a detenção era ilegal, injusta, que era um erro da justiça, que tudo de que era acusado é falso e que deviam procurar quem fez? É instintivo, quando alguém é inocente, procurar defender-se", questionou a juíza presidente Isabel Monteiro.
O arguido, estudante de medicina dentária, referiu que tanto a advogada oficiosa que o acompanhou à Polícia Judiciária (PJ) como outra que contratou para estar com ele no primeiro interrogtório judicial o aconselharam a "não falar", uma vez que isso poderia "prejudicá-lo".
"Como é que acata uma coisa dessas?", questionou novamente a juíza ao homem, que se encontra em prisão preventiva desde 11 de outubro de 2021.
De acordo com a versão agora apresentada pelo arguido, quando este e dois amigos se encaminhavam para a discoteca, deparou-se com um grupo "bastante agitado", em que um dos elementos – com cabelo grande e rabo de cavalo – se dirigiu a ele "com os punhos levantados e em posição de luta".
Este indivíduo terá ainda dito a palavra "matar", tendo tentado agredir o arguido, com este a defender-se, mas sem o atingir.
Novamente naquela noite um outro jovem, que vestia um pulôver azul, terá agredido o arguido, com "um soco no olho direito", sem que este percebesse o porquê.
Como resposta, o arguido disse que deu também um "murro" no suposto agressor e que, posteriormente, cada um seguiu o seu caminho.
De acordo com o Instituto Nacional de Medicina Legal (INML), o jovem de pulôver azul é a vítima mortal, Paulo Correia.
Por outro lado, depois de confrontando com as fotografias do INML, o arguido disse desconhecer aquela pessoa e afirmou que não foi com ela que se envolveu fisicamente.
Anas Kataya está acusado de homicídio qualificado e de ofensas à integridade física qualificada, assim como um segundo arguido, Jean Jelali, que se encontra em liberdade.
De acordo com o despacho de acusação do Ministério Público (MP), na madruga de 10 de outubro de 2021, junto a um estabelecimento de diversão noturna na zona Passos Manuel, "enquanto aguardavam pela entrada no local, gerou-se uma troca de palavras entre um grupo de cidadãos portugueses, onde se encontravam os três ofendidos, e três mulheres de nacionalidade francesa".
As três mulheres ter-se-ão afastado "momentaneamente do local, indo ao encontro dos dois arguidos, também franceses, os quais, sabendo do desentendimento, vieram na direção do grupo [onde estava o estudante Paulo Correia], com o único propósito de agredir os seus elementos".
"Um dos arguidos [Anas Kataya], ao alcançar um dos ofendidos, desferiu-lhe murros e socos no rosto e na cabeça e, de seguida, foi no encalço da vítima mortal, tendo-lhe desferido, com grande violência, um murro na zona da cabeça", lê-se na acusaão do MP, que sublinha que a vítima foi a cambalear até junto de uma viatura ali estacionada, na qual embateu, "caindo ao chão, ali ficando prostrada".
Já o outro arguido, Jean Jelali, "foi na direção do terceiro ofendido e desferiu-lhe um murro, fazendo-o cair no chão, após o que ainda o pontapeou no tórax".