Num vídeo divulgado nas redes sociais, com a mensagem "O inverno será longo" bem explícita, podemos ver várias imagens de áreas europeias repletas de nuvens espessas e de neve: esta é a previsão daquilo que está por vir enquanto o gasoduto Nord Stream 1, que transporta cerca de 59,2 mil milhões de metros cúbicos de gás por ano para a Europa, permanece fechado. Foi desta forma que a Gazprom, empresa estatal russa, tentou veicular uma mensagem tudo menos positiva aos líderes europeus, sendo que culpou a alemã Siemens Energy por não ter reparado equipamentos alegadamente defeituosos.
O vice-presidente-executivo da Gazprom, Vitaly Markelov, disse hoje que o maior gasoduto de gás natural da Rússia não retomará o funcionamento até que a Siemens Energy conserte o equipamento em questão. Esta situação afigura-se particularmente grave porque a Europa está a enfrentar aquela que já é considerada a sua pior crise de fornecimento de gás de todos os tempos, com os preços da energia a escalar e os alemãs a deliberarem um racionamento na maior economia da União Europeia depois de o país que invadiu a Ucrânia ter reduzido os fluxos para o oeste.
Já na sexta-feira, a Gazprom tinha esclarecido que o Nord Stream 1 permaneceria fechado porque uma turbina, numa estação de compressão, teve uma fuga de óleo numa conduta, elevando os preços do gás por atacado. Quando questionado acerca do futuro do gasoduto, Markelov, à margem do Fórum Econômico Oriental no porto russo de Vladivostok, declarou: “Devem perguntar à Siemens. Eles têm de consertar o equipamento primeiro".
Para além disso, no programa 'Moscovo.Kremlin.Putin', transmitido no canal de televisão público Rossía-1, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, e o vice-primeiro-ministro Alexander Novak, responsável pelas questões energéticas, voltaram a frisar que este problema não é da responsabilidade da Gazprom. "A Gazprom conquistou a sua reputação como garante confiável de segurança energética e fornecedora de confiança durante muitas décadas. E estamos convencidos de que a Gazprom não deu um único passo que abale essa reputação", explicou.
"Se os europeus tomarem uma decisão absolutamente absurda de se recusarem a reparar o seu equipamento, ou melhor, o equipamento que pertence à Gazprom, mas que, segundo o contrato, devem reparar, não é culpa da Gazprom, é culpa dos políticos que tomaram a decisão sobre as sanções", adiantou, acrescentando que "são esses políticos infelizes que agora estão a obrigar os seus cidadãos a morrer de derrames cerebrais quando veem as faturas de eletricidade".
A Siemens Energy, com sede em Munique, na Alemanha, já garantiu que não compreende a posição da Gazprom, na medida em que o derrame não compromete o abastecimento de energia. “Não podemos compreender essa nova representação com base nas informações fornecidas”, disse a Siemens Energy em comunicado por escrito. “Portanto, até segunda ordem, nossa avaliação é de que a constatação que nos foi comunicada não representa uma razão técnica para a interrupção da operação. Esses vazamentos normalmente não afetam a operação de uma turbina e podem ser selados no local”, acrescentou.
Anton Gerashchenko, conselheiro oficial e anterior vice-ministro do Ministério da Administração Interna da Ucrânia, não hesitou em comentar o vídeo: "Será que pensam realmente que podem matar milhares de ucranianos, capturar territórios de outro país, e a Europa olhará para o outro lado, com medo de chantagem de gás?", questionou na sua conta oficial, da rede social Twitter, indicando que a Gazprom demonstrou a forma como a "Idade do Gelo" pode ter início no continente.
Já há três dias, Volodymyr Zelensky tinha acusado a Rússia de pretender “destruir a vida normal de todos os europeus, em todos os países”, salientando que Moscovo está a usar a energia para atacar os países “onde ainda não pode usar rockets". “Este inverno, a Rússia está a preparar um ataque energético decisivo a todos os europeus. E as respostas a isso devem ser duas: primeiro, a nossa união, união na defesa contra o Estado terrorista; e segundo, aumentar a nossa pressão à Rússia. Isto inclui aumentar todos os níveis de sanções e limitar as receita da Rússia em relação ao petróleo e ao gás", frisou o líder ucraniano.
Relativamente a Portugal, em janeiro de 2021, o i noticiava que se verificava 28% de excesso de mortalidade, sendo um dos países onde mais se morre devido ao frio. Esta percentagem correspondia, nos anos anteriores a 2020, ao registo de 100 a 150 óbitos diários a mais do que nas outras estações. Estes números assumiam especial relevância numa semana que ficaria marcada pela descida da temperatura mínima. Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), quase 19% das famílias não têm condições financeiras para assegurar o aquecimento das habitações, sendo Malta o único país da Europa com uma realidade pior do que a nacional.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) já afirmou, na semana passada, que é expectável um aumento de hospitalizações e mortes por covid-19 quando o verão terminar. “Com o tempo mais frio a aproximar-se no hemisfério norte é razoável esperar um aumento nas hospitalizações e mortes nos próximos meses”, explicou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, em videoconferência de imprensa, situação que pode ser agudizada pelo corte do fornecimento de energia.
Russian Gazprom published a video "Winter will be big" where company turns off gas flow & ice age begins in Europe.
Do they really think they can kill thousands of Ukrainians, capture territories of another country, and Europe will look the other way, afraid of gas blackmail? pic.twitter.com/5Zwjg3x9su
— Anton Gerashchenko (@Gerashchenko_en) September 5, 2022