Litoral alentejano: Praias de lés a lés

O litoral alentejano é quase inesgotável na oferta de praias, entre grandes areais a pequenas baías quase secretas, estradas abertas, paisagens selvagens e o mar como pano de fundo. Este é um refúgio para a imensa biodiversidade da região mas também para quem procura descansar em tempo de férias.

Apesar de o regresso ao trabalho já ser uma realidade para muitos, o verão ainda não terminou. Fugindo à confusão das praias do Algarve, entre Alcácer do Sal e Odemira há areal a perder de vista, estradas rasgadas a direito entre pinhal e montado e uma diversidade de paisagem que quase permanece intocada. Recuando umas décadas, o litoral alentejano não existia no mapa de férias dos portugueses. Isso mudou. Hoje, ouvir alguém dizer que vai passar férias algures entre a Comporta e a Zambujeira do Mar está quase tão batido como a terra que dá acesso a esta imensa costa. Outrora um paraíso escondido, agora é também lugar de resorts de luxo e campos de golfe, onde se refugiam os endinheirados deste país e de outros. Mas aqui ainda os dias dão para tudo: praia pela manhã, refeições demoradas, leitura sem pressas, sestas à sombra, e tempo de sobra para retemperar forças.

 

O branco vive da palavra sal

A par do pinhão e da produção de sal, os dois ex libris da economia local, Alcácer do Sal é guardiã de um vasto capital histórico e natural. Este é o segundo maior concelho de Portugal que dá nome a uma das mais antigas cidades da Europa, fundada antes de 1000 a.C. pelos fenícios e, posteriormente, invadida pelos árabes, quando tomou o nome de Qasr Abu Danis, sendo aí construída uma das fortalezas mais fortes da Península Ibérica que ainda hoje pode ser visitada. Subindo o escadario que leva ao castelo, erguido na mais alta colina da cidade, no caminho pode encontrar muitos monumentos como a Igreja de Santa Maria do Castelo, o Santuário do Senhor dos Mártires, a Igreja de Santo António ou a Igreja de Santiago. Escavada no subsolo da fortaleza, a Cripta Arqueológica do Castelo de Alcácer oferece um percurso labiríntico onde se cruzam testemunhos do século VII a.C. até ao século XIX, percorrendo os períodos da idade do ferro, romano, visigótico, islâmico, medieval, cristão, moderno e contemporâneo. Do alto do castelo, descobrem-se as ruas estreitas e o casario branco que desaguam no Sado, as pontes e os famosos arrozais que correm no horizonte. O Cais Palafítico na aldeia da Carrasqueira, o velho porto de pesca construído em estacas de madeira irregular, é outro ponto de atração turística do concelho. Por entre pinhais, campos de arroz e cegonhas que fazem os ninhos em cima de postes encontra-se o extenso areal da Comporta que, segundo revela a autarquia ao Nascer do SOL, «recebe anualmente milhares de pessoas, que não procuram apenas a praia, procuram autenticidade, boa gastronomia, doçaria e produtos da terra como a batata doce».

 

Da vila morena a Melides

A vinte quilómetros em linha reta do mar, Grândola posiciona-se no interior. A eterna vila morena tem procurado atrair visitantes criando pontos de interesse como o recuperado mercado municipal ou a estação romana do Cerrado do Castelo. Contudo, é outra linha praticamente reta que serve de chamariz do município: o areal ininterrupto que se estende entre o topo da península de Troia e a praia de Melides, e segue contínuo até Sines. Ao todo, são mais de 60 quilómetros de linha de praia. Melides é a praia mais próxima da vila, ainda que para lá chegar se percorra uma estrada sinuosa pela serra de Grândola, mas os eventuais minutos a mais são compensados em paisagem. A chegada à praia, essa é brindada com outra paisagem digna de paragem, a da Lagoa de Melides, habitat de garças, patos e milhafres e que se prolonga até à aldeia de Melides através de extensos arrozais e pequenas ilhas onde a riqueza da flora e da fauna garantem atividades como birdwatching, canoagem ou passeios pedestres. As praias deste concelho em si revelam-se uma miragem com espaço de sobra para estender a toalha. Mas nesta altura, Pego e Carvalhal são muito concorridas. Mais vale fazer uns quilómetros extra e optar pela Galé ou pela Aberta Nova.

 

Entre o mar e a lagoa

Em plena cidade de Santiago do Cacém, a colina mais alta é reivindicada pelo castelo medieval, cujas muralhas, visíveis ao longe, conduzem-nos a ruas estreitas e íngremes e a casas senhoriais num centro histórico que ainda preserva marcas do período islâmico. Daquela encosta voltada ao sol, é possível olhar à volta e avistar a zona urbana, que se desenvolveu em redor, a vasta planície, mas também a costa de Santo André, uma das pérolas deste concelho no litoral alentejano. Inserida numa reserva natural, a praia, de areia grossa, guarda ainda um espírito selvagem, cujo mar se transforma entre dias de calmaria e momentos mais agitados em tempo de marés vivas. Nas lagoas de Santo André e da Sancha, entre as dunas e a água, todos os elementos se conjugam como um refúgio para mais de 240 espécies de aves. Ali perto como atrações turísticas, o Black Pig Gin assume-se como o primeiro parque temático de gin do mundo e o Badoca Safari Park, com uma área de 90 hectares, combina uma diversidade de animais que vivem na savana africana.

 

O lugar de Porto Covo

Desengane-se quem pensa que Sines é apenas o maior porto de contentores do país. Nas proximidades, em São Torpes tem início o Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, que se prolonga até ao Burgau já na região do Algarve. A praia procurada por surfistas iniciados devido às pequenas ondas que fazem as delícias de quem quer se aventurar pela primeira vez nessa modalidade, tem uma particularidade única nas praias da região: águas mais quentes dada a atividade da Central Termoelétrica de Sines. Rumando até à vila de Porto Covo, é pecado capital ignorar a Praia da Ilha do Pessegueiro. Já cantar Rui Veloso à chegada fica ao critério de cada um. Há areais mais amplos como o da Praia da Samoqueira, mas a maioria são pequenas praias de areia fina e água transparente, resguardadas por grandes rochedos. Em declarações ao Nascer do SOL, o presidente da Câmara de Sines, Nuno Mascarenhas, arrisca-se mesmo dizer que «esta é a faixa de costa mais bem preservada do país». A atividade cultural do município e a ampla atividade desportiva são outros atrativos que trazem a Sines e a Porto Covo muitos turistas ao longo de todo o ano. Segundo o autarca, a região tem sentido «uma tendência consolidada de crescimento da procura, em linha com o que vinha a registar na última década». Apesar de ser um importante destino turístico balnear, a procura turística do concelho vai muito além disso, sendo também ponto de passagem da Rota Vicentina, uma das grandes rotas de trilhos da Europa.