Três anos atrás, um ministro saiu e foi o último a saber.
Na voragem, foi borda fora Fernando Araújo cuja competência o promoveu a crítico e é, agora, a estrela do momento.
Esse era o tempo de valsar com o Bloco de Esquerda e outros mais e fazer uma aposta ideológica mais clara.
Havia crise na saúde, nada do que tinha sido prometido fora feito, voltava o fantasma do subfinanciamento e das dívidas.
O salto em frente foi propor e aprovar uma nova lei de bases da saúde.
A matéria mais apetecida era a das parcerias público-privadas. Eram o alvo a abater.
Pretendia fazer-se tábua rasa dos demais componentes do sistema de saúde.
O sistema deveria ser o SNS e ponto final.
A nova ministra endurecia o discurso, indispunha-se com os outros profissionais do setor. Primeiro os enfermeiros, depois os médicos, logo a seguir os gestores hospitalares e adotou a postura da polícia nos bons velhos tempos das lutas académicas. A máxima era: «Não há diálogo!».
Seriam todos, além dos privados ligados à saúde, potenciais inimigos.
Todos queriam sabotar o SNS, fazê-lo perder meios humanos e materiais, enfraquecer o Estado.
De resto, no terreno, estava tudo na mesma.
As filas de espera, os cidadãos sem médico de família, a demora na prestação de cuidados ou a sua distância.
Eis senão quando, se abate sobre o mundo a pandemia.
Não estávamos, admito que ninguém estava, preparados para o que a seguir viria.
E o SNS concentrou toda a sua capacidade na resposta à covid.
A ideia seria que pudesse também garantir, em paralelo, a sua normal ação.
Foi a tragédia.
Cirurgias, exames, consultas, rastreio, acompanhamento, deixaram abandonada uma imensa percentagem da população carente.
Percebia-se o perigo. Fazia-se de conta.
Hoje constatamos como tudo se tornou mais grave, como a mortalidade aumentou, como se destapou a caixa de Pandora.
Entretanto os cidadãos procuraram, aqueles que podiam, outras soluções.
Um número que tem vindo a ser citado dá a dimensão da nova realidade. Cinco milhões de portugueses têm seguros de saúde.
Isso significa, objetivamente, uma alteração do ‘statu quo’.
Por um estranho sortilégio, as relações entre a esquerda e o PS deterioraram-se.
Ficou, o PS, sozinho no poder.
A Ministra começou, então a falar com quem se recusara.
Exatamente à medida em que a situação se tornava insustentável.
Foram as medidas pontuais, os remendos, o caminho para a regulamentação da lei de bases e a extraordinária invenção do CEO da saúde.
O dr. Costa tem razão num ponto. Só caindo este governo poderá esperar-se uma nova política.
Mas a verdade é que a longa marcha da esquerda foi interrompida.
Hoje só os ministros que dessa ideia são herdeiros poderão continuar a defender algumas soluções.
Na pressão das circunstâncias tornam a vida difícil ao primeiro.
Eles sabem que estão condenados a cair, a ser sacrificados, a ser utilizados como bombos da festa.
Natural será que se revoltem.
Um deles revoltou-se e humilhou-se.
Ficou.
Outra fartou-se e tomou o caminho da saída sem dizer água vai.
Será humilhada também.
Ficará quinze dias para propor o que não tem já sentido.
A palavra de ordem é: a culpa é do Costa.
Há uma suspeita de conspiração.